Quem sou eu..
Nelson Barh
Sou eu que te faço viajar pelo tempo; voar através das nuvens, sem sair do lugar; atravessar por sobre pontes, cidades, riachos, montanhas, florestas e mares profundos.
Sou eu que provoco o teu triste choro, teus ódios e risos, teus sombrios medos, as tuas revoltas, angústias e, num passe de pura magia, o teu infinito amor, tua esperança no amanhã, teu sentido de justiça e tua eterna devoção de fiel amigo (a).
Mostro a ti um lindo jardim florido, e a mais tenebrosa e assustadora escuridão. Dissipo os teus receios. E, novamente, oferto a ti o inferno avassalador, para logo, em seguida, transportá-lo ao tão sonhado paraíso.
Faço você sofrer, acreditar, clamar por justiça, torcer, se alegrar, se identificar, se desesperar, odiar...e voltar a amar.
Promovo a discórdia, a cobiça, a inveja, a traição, o erro e o doentio ciúme. Afugento a solidão, a depressão; desperto a ternura, a curiosidade e a profunda bondade no teu ansioso coração.Tramo, ardilosamente, sem cessar.
Sou espelho vivo de toda sociedade, sou cruel, sou justo e injusto. Sou teu guia, teu sonho dourado; teu pior pesadelo. Sou paixão, diversão, consolo e, às vezes, ingratidão.
Crio, engano, mato e faço renascer. Sou criticado, amado e odiado. Sou, num curto espaço de tempo, o Bem e o Mal, num único ser. Sou visceral, profano e sagrado. Ora, sou bom, ora, sou mau. Ora, aparento nada saber.
Faço o tempo regredir e, numa fração de segundos, consigo avançar longos anos. Faço o velho tornar-se jovem e o jovem mergulhar na decrépita e macilenta velhice.
Dou asas à tua imaginação; tenho um relativo poder, e com ele, posso tudo fazer. Eu sou dezenas e muitos mais, eu sou. Sou juiz: acuso, delato, julgo, condeno e absolvo. Sou médico: amparo, curo e desengano. Sou sacerdote: rezo, uno, abençôo e amaldiçôo.
Sou assaz engenhoso, reinvento vilões e heróis, os temíveis bandidos e os destemidos mocinhos. Sou arquiteto e historiador, projeto cidades-fantasmas e fatos inverossímeis, que parecem ser tão reais... Narro mesquinharias e magnificências.
Às vezes, sou incoerente, feroz, despudorado, maledicente. Outras vezes, amável, prudente, lento, consequente, clemente.
Dir-te-ei, ainda, que utilizo nas minhas orações, como elementos, a vingança, a fragilidade, a insensatez, o indecente egoísmo; mas também o mais puro amor, o arrependimento sincero, a inocência primaveril e o sempre bendito e justo perdão.
Uso a minha criação e apelo sempre para tua fértil imaginação. E assim, confundo a tua realidade, espanto o teu quotidiano, recriando muitos sonhos e vãs fantasias.
Você, por certo, já sabe quem sou...Não, não, meus amigos!
Eu não sou Deus, nem tampouco o Diabo. Embora, às vezes, até eu mesmo acredite que seja ambos...mas enfim..na verdade, nada sou!.
Sou apenas um mísero escritor.
Texto: Nelson Barh