De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer, e esquecer não pesa e é um sono sem sonhos em que estamos despertos.
Fernando Pessoa
De Tudo ficam 3 coisas:
Fernando Pessoa
1. A certeza de que estamos sempre começando,
2. A certeza de que precisamos continuar,
3. A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar.
Portanto, façamos:
- Da interrupção, um novo caminho.
- Da queda, um passo de dança.
- Do sonho, uma ponte.
- Da procura, um encontro...
Deixei atrás os erros do que fui
Fernando pessoa
Deixei atrás os erros do que fui,
Deixei atrás os erros do que quis
E que não pude haver porque a hora flui
E ninguém é exato nem feliz.
Tudo isso como o lixo da viagem
Deixei nas circunstâncias do caminho,
No episódio que fui e na paragem,
No desvio que foi cada vizinho.
Deixei tudo isso, como quem se tapa
Por viajar com uma capa sua,
E a certa altura se desfaz da capa
E atira com a capa para a rua.
Descobri que a leitura é uma forma servil de sonhar. Se tenho de sonhar, porque não sonhar os meus próprios sonhos?
Fernando Pessoa
Despreza tudo, mas de modo que o desprezar te não incomode. Não te julgues superior ao desprezares. A arte do desprezo nobre está nisso.
Fernando Pessoa
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Fernando Pessoa
Mas nele é que espelhou o céu.
Deus é grande, logo, se um homem é de Deus, está livre e acima de todas as coisas, da cultura, da política, da moda, da corrupção, da religião, e de qualquer espécie de domínio, só assim não é um influído dominado, antes é separado e influente.
Mario Melo
Deus é o existirmos e isto não ser tudo.
Fernando Pessoa
Deus quer, o homem sonha e a obra nasce.
Fernando Pessoa
DEVE CHAMAR TRISTEZA
Fernando Pessoa
Deve chamar-se tristeza
Isto que não sei que seja
Que me inquieta sem surpresa
Saudade que não deseja.
Sim, tristeza - mas aquela
Que nasce de conhecer
Que ao longe está uma estrela
E ao perto está não a Ter.
Seja o que for, é o que tenho.
Tudo mais é tudo só.
E eu deixo ir o pó que apanho
De entre as mãos ricas de pó.
Dever de Sonhar
Fernando Pessoa
Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre,
pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E, assim, me construo a ouro e sedas, em salas
supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho
entre luzes brandas e músicas invisíveis.
Devo confessar preliminarmente, que eu não sei o que é belo e nem sei o que é arte.
Mário de Andrade
Diário de sua Vida
André Prado(para Luciana Formagio)
Cada dia viva como uma pagina em branco ao acordar escreva nela tudo de belo que só vc com esse seu jeito menina mulher sabe...
As vezes moleca muitas vezes conselheira pé no chão ,mas nunca sem sonhar e é sonhando acordada que tudo que vc faz se torna único
Siga seus sonhos divirta-se escreva tudo com seu coração apaixonado pela vida que nunca perde tempo com tristeza que sempre bate em seu peito com essa vontade enorme de viver...
Que deixa a gente assim feliz por fazer parte desse diário que é sua vida...
Agora fico eu aqui também escrevendo meu diário de vida agora com a certeza que te conhecer me faz a cada dia melhor como pessoa obrigada
De seu amigo hj e sempre
André Prado
Dizem que finjo ou minto
fernado pessoa
Tudo o que escrevo.
Não.Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê
Dispersão
Mário de Sá Carneiro
Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto
E hoje, quando me sinto.
É com saudades de mim.
Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...
Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.
(O Domingo de Paris
Lembra-me o desaparecido
Que sentia comovido
Os Domingos de Paris:
Porque um domingo é família,
É bem-estar, é singeleza,
E os que olham a beleza
Não têm bem-estar nem família).
O pobre moço das ânsias...
Tu, sim, tu eras alguém!
E foi por isso também
Que me abismaste nas ânsias.
A grande ave doirada
Bateu asas para os céus,
Mas fechou-as saciada
Ao ver que ganhava os céus.
Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo.
Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que protejo:
Se me olho a um espelho, erro -
Não me acho no que projeto.
Regresso dentro de mim
Mas nada me fala, nada!
Tenho a alma amortalhada,
Sequinha, dentro de mim.
Não perdi a minha alma,
Fiquei com ela, perdida.
Assim eu choro, da vida,
A morte da minha alma.
Saudosamente recordo
Uma gentil companheira
Que na minha vida inteira
Eu nunca vi... Mas recordo
A sua boca doirada
E o seu corpo esmaecido,
Em um hálito perdido
Que vem na tarde doirada.
(As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que sonhei!... )
E sinto que a minha morte -
Minha dispersão total -
Existe lá longe, ao norte,
Numa grande capital.
Vejo o meu último dia
Pintado em rolos de fumo,
E todo azul-de-agonia
Em sombra e além me sumo.
Ternura feita saudade,
Eu beijo as minhas mãos brancas...
Sou amor e piedade
Em face dessas mãos brancas...
Tristes mãos longas e lindas
Que eram feitas pra se dar...
Ninguém mas quis apertar...
Tristes mãos longas e lindas...
Eu tenho pena de mim,
Pobre menino ideal...
Que me faltou afinal?
Um elo? Um rastro?... Ai de mim!...
Desceu-me n'alma o crepúsculo;
Eu fui alguém que passou.
Serei, mas já não me sou;
Não vivo, durmo o crepúsculo.
Álcool dum sono outonal
Me penetrou vagamente
A difundir-me dormente
Em uma bruma outonal.
Perdi a morte e a vida,
E, louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida
Eu sigo-a, mas permaneço...
Castelos desmantelados,
Leões alados sem juba...
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Paris - maio de 1913.
Dorme sobre meu seio,
Fernando Pessoa
Sem mágoa nem amor...
No teu olhar eu leio
O íntimo torpor
De quem conhece o nada-ser
De vida e gozo e dor.
Dormir sem ter clima
Simão Pessoa
é separar da mulher
e ficar morando em cima.
Duvido, portanto penso.
Fernando Pessoa
É autor de estilo tão pessoal que está impossibilitado de escrever cartas anónimas.
Mário Silva Brito
É claro como nunca: ou o sofrimento penetra nos sofrimentos dos outros, ou é coisa vã.
Mário Luzi
E naquele abraço de brisa morna, do parapeito da minha varanda vi a assustada partícula de pó afastar-se, em direcção ao rio tranquilo. Gritando aterrorizadamente satisfeita com o seu medo.
Mário Rui Santos
É talvez o último dia da minha vida.
Fernando pessoa
Saudei o Sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.
Em certos casos, quanto mais nobre é o génio, menos nobre é o destino. Um pequeno génio ganha fama, um grande génio ganha descrédito, um génio ainda maior ganha desespero; um deus ganha crucificação.
Fernando Pessoa
Em todas as ruas te encontro
Mário Cesariny
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco..
Enquanto não atravessarmos
Fernando Pessoa
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um.