Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia
João Guimarães Rosa
Dói pensar no infinito.
Valter da Rosa Borges
Dói pensar na eternidade.
Masoquismo cognitivo,
obsessão incurável,
que o tempo não alivia
e só na morte se acaba.
DOS VAIDOSOS
Valter da Rosa Borges
Tudo fazem para aparecer.
Ou fingem se esconder
para que sejam achados.
É difícil aceitar
Valter da Rosa Borges
a face escura de Deus.
Raríssimos são aqueles
que o conseguem.
E os que se tornam
a face escura de Deus?
Como as pessoas comuns
poderão compreendê-los?
É perigoso alguém tornar-se um mito, pois perderá o direito de errar.
Valter da Rosa Borges
É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais amar, depois de ter amado.
Guimarães Rosa
e um vaga-lume
Guimarães Rosa
lanterneiro que riscou
um psiu de luz
e um vaga-lume
Guimarães Rosa
lanterneiro que riscou
um psiu de luz
É uma infelicidade a ânsia de ser feliz.
Valter da Rosa Borges
E, outra coisa, o Diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro - dá gosto! A força dele, quando quer - moço ! - me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho - assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza.
Guimarães Rosa
Enquanto penso,
Valter da Rosa Borges
fico pênsil
entre o sonho e o real.
entre as folhas
Guimarães Rosa
de um livro-de-reza
um amor-perfeito cai
Envelhecer é cultivar adeuses
Valter da Rosa Borges
e empobrecer em cada despedida.
Os afetos morrendo com os mortos.
Lembrar é praticar necromancia.
O que fazer de tudo o que já foi,
mas fica latejando em nossa vida?
É o incurável câncer da saudade:
o que passou matando o ainda vivo.
Escreve-se por escrever,
Valter da Rosa Borges
para brincar com palavras
e inventar absurdos -
importa que sejam belos
ou arrepiem a lógica -
e frases que sejam coisas
diferentes das comuns.
Inventar novas palavras
de semântica imprevista.
Escrever como quem brinca
de desarrumar as coisas
e arrumá-las de outro jeito.
Palavras e só palavras.
Neste caos fraseológico
que mundo pode eclodir?
Escrever é uma forma
Valter da Rosa Borges
de deixar a nossa alma
preservada nas palavras,
no corpo de cada livro,
fazendo parte da mente
das pessoas que nos lêem.
Quem escreve, clona a alma.
Estamos além dos átomos
Valter da Rosa Borges
e de todas as galáxias.
Somos a linha ilusória,
que separa em dois o infinito.
Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.
Guimarães Rosa
Eu queria que chuvesse uma chuva bem fininha pra molhar sua cama e vc vim dormi na minha!!!!
isabela rosa da silva ribeiro
Eu só serei definitivo
Valter da Rosa Borges
quando morrer.
Eu sou é eu mesmo. Diverjo de todo o mundo…
Guimarães Rosa
Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.”
Existe a vaidade de ter, mas também a vaidade de dar e de gastar.
Valter da Rosa Borges
A vaidade é a auto-satisfação que decorre da presunção de que se é admirado.
A modéstia ostensiva nada mais é do que a vaidade disfarçada.
Falamos do que não sabemos,
Valter da Rosa Borges
porque a morte nos espanta
e dói a mortalidade.
O que é ser imortal?
Falas tanto de tua dor.
Valter da Rosa Borges
Queres ficar bom ou cultivar a dor?
A dor valorizada se transforma em vício.
Parece paradoxal, mas o cultivo da dor pode ser uma forma de preencher o tempo vazio.
Quem tem muito o que fazer, não tem tempo disponível para dedicar-se à dor.
Afinal, a dor nunca é boa companhia.
Fatos são flutuações,
Valter da Rosa Borges
o vento alisando as ondas
do oceano impassível.
Fatos se tornam sonhos
Valter da Rosa Borges
e sonhos se tornam fatos.
Qual deles é o real?
O fato que já passou?
O sonho que ainda é sonho?