O real nos parece um fluxo e no fluxo não há modelos. Daí, a eterna controvérsia dos que admitem, como Heráclito, que o fluxo ou devir é a realidade e dos que entendem, como Parmênides, que o real é imutável e o devir é aparência. Os modelos, portanto, são nossas formas perceptuais e transitórias de apreender, a cada momento, o fluxo. Assim, cada forma perceptual do fluxo só é real em relação ao percebedor no momento da percepção e só se torna aparência ou Maya se prossegue além da percepção.
Valter da Rosa Borges
O real é o agora. O agora é sempre inédito. Quem vê, não precisa de palavras, pois só se fala para aqueles que não viram. E o que se diz, já não é: o presente é mais rápido que o laço da palavra. Por isso, quem fala, não vê, porque, se fala, fala do que já não vê. O eu não existe no presente: surge, quando a experiência já terminou. O eu é o passado.
Cada percepção do real é única e irrepetível. Jamais saberemos o que perdemos, ja-
mais repetiremos o que experimentamos. A riqueza do viver não consiste na acumulação do vivido, mas na capacidade de viver plenamente o momento que passa. Nenhuma experiência deve deixar restos ou saldos, pois eles deformam as novas percepções da realidade.
O sábio, quanto mais sabe, mais se isola. A sua convivência com as outras pessoas é sempre superficial. Porém isso não o torna um misantropo. Pelo contrário: ele é afável com as pessoas, mas só se relaciona com elas em assuntos triviais. Embora acostumado às profundezas, ele sabe, nos momentos necessários, subir à superfície e até mesmo divertir-se com as pessoas comuns.
Valter da Rosa Borges
O sempre e o nunca são criações do homem desejoso de impor leis à natureza.
Valter da Rosa Borges
O silêncio também é voz.
Valter da Rosa Borges
É aquilo que não foi dito,
porque, se dito, era pouco.
O silêncio não se mede
pela medida da frase.
Excede qualquer semântica.
Não é dicionarizável.
No princípio era o verbo,
mas antes dele o silêncio,
anterior ao princípio.
O sol de fim de tarde pouco aquece.
Valter da Rosa Borges
Em tudo sopra uma saudade fria.
Recolho os sonhos e recolho os fatos:
todos serão iguais no anoitecer.
O Sol Escaldante Que Queima Minha Pele
Wesley Paneto Rosa
Nao Consegue Aquecer Meu Corpo
Dominado Pela Escuridão Congelante de Minha Alma.
O sonho é o nosso modo
Valter da Rosa Borges
de caminhar sem o corpo.
O corpo pouco nos leva:
somos nós que o arrastamos.
Queremos ver mais que os olhos,
ouvir mais que os ouvidos,
e exercer a onipresença,
em qualquer lugar do mundo.
O sonho morre quando vira fato.
Valter da Rosa Borges
O que foi fato se transforma em sonho.
O sonho nunca morre enquanto é sonho.
O fato morre em seu acontecer.
O tempo é a eternidade
Valter da Rosa Borges
que se perdeu de si mesma.
O tempo nem sempre apaga
Valter da Rosa Borges
as nódoas do já vivido,
principalmente o sofrido
e as fundas marcas do amado.
O tempo vazio.
Valter da Rosa Borges
O espaço vazio.
O coração vazio.
Um oco que não tem fim.
A solidão sem fronteiras.
Um silêncio surdo-mudo
é testemunha do nada.
O vazio não é
Valter da Rosa Borges
a ausência de Deus,
mas a Sua invisibilidade.
O vento sabe todos os caminhos,
Valter da Rosa Borges
mas não deixa seus rastros nas areias.
O vento sopra impetuoso,
Valter da Rosa Borges
vergando a copa das árvores.
As folhas caem no chão:
folhas secas, folhas verdes.
Por que não somente as secas?
O verdadeiro mago é quem faz de sua vida um contínuo encantamento.
Valter da Rosa Borges
Odeia-se aquele que é livre,
Valter da Rosa Borges
porque perturba o descanso
das pessoas rotineiras.
O louco é insuportável,
porque vive perdido
na liberdade total.
Olhe em meus olhos e
Nayara Rosa
encontrará as respostas que procura,
pois minhas palavras dizem o que penso
e meus olhos são simplismente o espelho do que sinto.
Onde houver ignorantes, milagres existirão.
Valter da Rosa Borges
Onde o sonho não é possível,
Valter da Rosa Borges
começa o território do vazio,
o oco do ser, o chão do nada,
a despercepção e a desmemória.
Ordem e desordem, portanto, são conceitos funcionais. Caos, para o homem, é tudo aquilo que não se ajusta aos seus padrões de ordem, a esquemas perceptuais inatos ou ad-quiridos.
Valter da Rosa Borges
O caos não existe em si, mas referenciado a um dado sistema. Pensamos que a natu-reza é paradoxal, porque acreditamos na repetibilidade absoluta das coisas. Pensamos que só é verdadeiro aquilo que se repete.
Se o homem permanecer durante algum tempo naquilo que ele denomina de caos, em breve descobrirá uma ordem no caos. A ordem é hábito.
Os alertas são necessários enquanto não aprendemos a evitar certos enganos. O mal só exite para nos levar ao bem.
Joyce Rosa de Sousa
Os átomos se fizeram homens
Valter da Rosa Borges
para se conhecerem a si mesmos
e tudo o mais que fizeram.
Como homens, pensam que Deus
foi o criador de tudo.
Os átomos enlouqueceram?
Os deuses vendem quando dão
Samuel Rosa
Os dois maiores inimigos do ser humano: o fascínio do poder e a paralisia do medo.
Valter da Rosa Borges
Os ébrios de Deus
Valter da Rosa Borges
jamais se curam.
Os salvadores
são as muletas
dos abstêmios de Deus.