O Sol Escaldante Que Queima Minha Pele
Wesley Paneto Rosa
Nao Consegue Aquecer Meu Corpo
Dominado Pela Escuridão Congelante de Minha Alma.
O sonho é o nosso modo
Valter da Rosa Borges
de caminhar sem o corpo.
O corpo pouco nos leva:
somos nós que o arrastamos.
Queremos ver mais que os olhos,
ouvir mais que os ouvidos,
e exercer a onipresença,
em qualquer lugar do mundo.
O sonho morre quando vira fato.
Valter da Rosa Borges
O que foi fato se transforma em sonho.
O sonho nunca morre enquanto é sonho.
O fato morre em seu acontecer.
O vazio, alma da forma.
Valter da Rosa Borges
O vazio é qualquer forma.
A alma é o vazio,
que cria todas as formas.
O vento sopra impetuoso,
Valter da Rosa Borges
vergando a copa das árvores.
As folhas caem no chão:
folhas secas, folhas verdes.
Por que não somente as secas?
Odeia-se aquele que é livre,
Valter da Rosa Borges
porque perturba o descanso
das pessoas rotineiras.
O louco é insuportável,
porque vive perdido
na liberdade total.
Olhe em meus olhos e
Nayara Rosa
encontrará as respostas que procura,
pois minhas palavras dizem o que penso
e meus olhos são simplismente o espelho do que sinto.
Onde o sonho não é possível,
Valter da Rosa Borges
começa o território do vazio,
o oco do ser, o chão do nada,
a despercepção e a desmemória.
Ordem e desordem, portanto, são conceitos funcionais. Caos, para o homem, é tudo aquilo que não se ajusta aos seus padrões de ordem, a esquemas perceptuais inatos ou ad-quiridos.
Valter da Rosa Borges
O caos não existe em si, mas referenciado a um dado sistema. Pensamos que a natu-reza é paradoxal, porque acreditamos na repetibilidade absoluta das coisas. Pensamos que só é verdadeiro aquilo que se repete.
Se o homem permanecer durante algum tempo naquilo que ele denomina de caos, em breve descobrirá uma ordem no caos. A ordem é hábito.
Os átomos se fizeram homens
Valter da Rosa Borges
para se conhecerem a si mesmos
e tudo o mais que fizeram.
Como homens, pensam que Deus
foi o criador de tudo.
Os átomos enlouqueceram?
Os ébrios de Deus
Valter da Rosa Borges
jamais se curam.
Os salvadores
são as muletas
dos abstêmios de Deus.
Os edifícios residenciais
Valter da Rosa Borges
são como pombais sem aves.
Alguns parecem mosteiros,
outros, prisão domiciliar.
Ninguém se sente vizinho.
Os livros estão extinguindo
Valter da Rosa Borges
as árvores.
Temos livros de mais
e árvores de menos.
Os mistérios são alucinógenos.
Valter da Rosa Borges
A mística é a embriaguês
de quem provou o infinito.
Os teólogos são os
Valter da Rosa Borges
ficcionistas de Deus.
São exímios contadores
de histórias,
que acreditam
serem verdadeiras.
Outrora, essa rua era
Valter da Rosa Borges
um enorme e denso silêncio.
Muitas árvores.Poucas pessoas.
Porém, o rio do barulho urbano
invadiu a rua e as casas.
E o silêncio se foi na correnteza
para nunca mais ser escutado.
Pensar além das galáxias
Valter da Rosa Borges
e das fronteiras atômicas,
é o nosso único modo
de ser também infinito.
Planetas, estrelas e galáxias
Valter da Rosa Borges
se sustentam no vazio.
E, se caírem,
onde cairão?
Por causa dos nossos olhos
Valter da Rosa Borges
O mundo é cheio de cores.
E por causa dos ouvidos
O mundo é cheio de sons.
Se as pessoas, de repente,
ficassem cegas e surdas,
o mundo teria cores,
o mundo teria sons?
Quem o testemunharia?
Por que alguém nos deve fazer felizes?
Valter da Rosa Borges
Se não nos fizermos felizes, ninguém mais no mundo poderá fazê-lo.
Porque ainda somos cegos,
Valter da Rosa Borges
tateamos deuses falsos.
A bengala é falso guia.
A fé devolve a visão
e permite ver o mundo
além do mundo trilhado
pela bengala dos cegos.
Procuramos Deus no Cosmos.
Valter da Rosa Borges
Procuramos Deus no átomo.
Onde o seu esconderijo?
Qual o peso e o tamanho
Valter da Rosa Borges
da saudade que sentimos?
Que distância é a saudade
entre as pessoas ausentes?
Qual o tempo da saudade
para doer na perda
das afeições mais queridas?
Qual o peso da saudade
no coração solitário?
Quando homem,
Valter da Rosa Borges
Deus pergunta o por quê
de todas as coisas,
mas não encontra resposta.
Quando Deus,
Ele sabe a resposta,
mas não tem
a quem comunicá-la.
Quando penso que sou eu,
Valter da Rosa Borges
esqueço-me de que sou Deus.
Mas, quando me acordo Deus,
descubro que nunca fui.