No agora não há palavras:
Valter da Rosa Borges
o que se fala, passou.
A palavra é sempre eco
do que não existe mais.
A percepção é agora.
O pensamento é depois.
No princípio, era o Homem.
Valter da Rosa Borges
E ele fez o mundo
à sua imagem e semelhança
com números e palavras.
E este foi o primeiro
e último dia da Criação,
porque os números e as palavras
fizeram tudo o mais.
O amor que eu sinto por
Thatyane Rosa
voceê, num tem palavras quee explica, e nem
sentimento quee entenda de tão forte que é !
O apego é a maior escravidão.
Valter da Rosa Borges
Aquele que se apega, renunciou ao direito de liberdade.
O corpo nada mais é
Valter da Rosa Borges
do que pó organizado.
O homem é pó pensante.
Sai do pó e volta ao pó.
Aonde vai o pensamento
se a alma não for o pó?
O escritor é um médium:
Valter da Rosa Borges
vive vidas não vividas,
personagens que não foi,
memórias alienígenas,
lugares que nunca andou,
dores e amores vários,
o que nunca sofreu ou amou,
tudo escorrendo do braço
para a mão que psicografa
o que jamais escreveu
ou que sentiu ou pensou.
Criação ou adoção
o que escreveu como seu,
filho que nunca gerou?
O espaço do passado
Valter da Rosa Borges
cresce a cada instante
pelos aluviões do presente;
Mas o espaço do presente
é sempre o mesmo.
O espírito é um sonho
Valter da Rosa Borges
que, um dia, se fez carne
e pensou que era carne,
até voltar a ser sonho.
O futuro é o próximo ato,
Valter da Rosa Borges
o próximo passo,
o próximo fato.
Ele existe enquanto não existe
e morre logo que se torna hoje.
O homem inventou a igualdade.
Valter da Rosa Borges
Na natureza tudo é desigual.
A perfeição é invenção geométrica.
A ordem do mundo é o caos mutante.
A criação é sempre nova:
só acontece uma vez.
Se você aprender a ver
nunca mais dirá que o mundo
é o mesmo o tempo todo.
O hóspede não se apega
Valter da Rosa Borges
às coisas e aos lugares.
Nem sequer às pessoas.
Mas é difícil ser hóspede.
O infinito nos priva
Valter da Rosa Borges
da emoção de chegar.
Somente o que é finito
tem início, meio e fim.
O infinito é caminho,
que não termina ou começa
em qualquer tempo e lugar.
O instante sem fim
Valter da Rosa Borges
é aquela experiência
que enquanto dura parece
ser o êxtase da eternidade.
O máximo de liberdade
Valter da Rosa Borges
ocorre na solidão.
A liberdade menor
é partilhada com os outros.
Mas, sem eles, de que serve
a máxima liberdade
estéril da solidão?
O meu coração ha muito ja lhe
Bernardo Guimarães
pertence, sinto que meu destino
de hoje em diante depende so de você,
você sera sempre a minha estrela
nos caminhos da vida.
creio que me conhece o bastante para
acreditar na sinceridade de minhas palavras.
O mundo é feito por nós.
Valter da Rosa Borges
Nós somos os nós do mundo
e em tudo estamos atados.
O eu sem nós não existe.
A morte é o eu desatado.
O mundo é o que tecemos
Valter da Rosa Borges
juntos todos os dias.
Tecelões e tessitura,
somos mãos e somos linhas.
O mundo é carne e tecido,
seres, fatos e coisas
vestindo o nu existir.
O passado cresce como musgo
Valter da Rosa Borges
nas paredes do presente,
até que não haja paredes
livres para o presente.
Até que não haja presente
e nem existam paredes.
O passado tem muitas portas
Valter da Rosa Borges
e, nele, nos perdemos muitas vezes,
sem encontrar a porta do presente.
O que é o vento senão
Valter da Rosa Borges
o vazio em movimento?!
O que é o espaço senão
o vazio parado?!
O que é um borrão
Valter da Rosa Borges
senão uma forma sem nome.
Não tem certidão geométrica.
É uma forma sem forma.
Um transgressor chamado amorfo.
Mas, acontece que a vida
é cheia de borrões
e não dos entes geométricos,
que o homem inventou.
O que fazemos no mundo?
Valter da Rosa Borges
O que o mundo nos faz?
O que nós fazemos juntos
(nós e o mundo), um mesmo nó
numa ciranda sem fim?
Como saber a ação,
que iniciou o universo
e seu cósmico bailado?
Se o movimento é eterno,
quem pode parar os átomos
e imobilizar as galáxias?
O que não serve para nós
Valter da Rosa Borges
apenas não nos serve.
Quem percebe
a totalidade
sabe que nada é inútil,
e que as coisas existem
sem explicação.
Se tudo tem um sentido,
qual o sentido do homem,
da flor, da pulga, da estrela?
O silêncio também é voz.
Valter da Rosa Borges
É aquilo que não foi dito,
porque, se dito, era pouco.
O silêncio não se mede
pela medida da frase.
Excede qualquer semântica.
Não é dicionarizável.
No princípio era o verbo,
mas antes dele o silêncio,
anterior ao princípio.
O sol de fim de tarde pouco aquece.
Valter da Rosa Borges
Em tudo sopra uma saudade fria.
Recolho os sonhos e recolho os fatos:
todos serão iguais no anoitecer.