DÁ-ME A VERDADE:dou-te a vida.
Fernando Pessoa
A vida esquece como a água PASSA,
E é coisa morta a coisa que é esquecida.
Dá-me a verdade!
Como o que nunca foi, a vida esvoaça.
Ter o que é certo nas incertas mãos!
Saber bem o que nunca pode ser!
Tudo isto nos faz ermos e irmãos
No nada que nós somos.
Dá-me poder sentir, saber querer!
Instante inútil entre ser e estar,
Momento vácuo entre sonhar ou não,
Tudo isto pode ser e não ficar.
Dá-me a verdade!
Mas deixa-me a mentira ao coração!
(Fernando Pessoa)
De quantas graças tinha, a Natureza
Luís de Camões
De quantas graças tinha, a Natureza
Fez um belo e riquíssimo tesouro,
E com rubis e rosas, neve e ouro,
Formou sublime e angélica beleza.
Pôs na boca os rubis, e na pureza
Do belo rosto as rosas, por quem mouro;
No cabelo o valor do metal louro;
No peito a neve em que a alma tenho acesa.
Mas nos olhos mostrou quanto podia,
E fez deles um sol, onde se apura
A luz mais clara que a do claro dia.
Enfim, Senhora, em vossa compostura
Ela a apurar chegou quanto sabia
De ouro, rosas, rubis, neve e luz pura.
Dar é dar.
ernando verissimo
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...
Te chama de nomes que eu não escreveria...
Não te vira com delicadeza...
Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom.
Melhor do que dar, só dar por dar.
Dar sem querer casar....
Sem querer apresentar pra mãe...
Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...
Te amolece o gingado...
Te molha o instinto.
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.
Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.
Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem
esperar ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
De Tudo ficam 3 coisas:
Fernando Pessoa
1. A certeza de que estamos sempre começando,
2. A certeza de que precisamos continuar,
3. A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar.
Portanto, façamos:
- Da interrupção, um novo caminho.
- Da queda, um passo de dança.
- Do sonho, uma ponte.
- Da procura, um encontro...
De tudo ficaram três coisas...
Fernando Sabino
A certeza de que estamos começando...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que podemos ser interrompidos
antes de terminar...
Façamos da interrupção um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro!
Deixei atrás os erros do que fui
Fernando pessoa
Deixei atrás os erros do que fui,
Deixei atrás os erros do que quis
E que não pude haver porque a hora flui
E ninguém é exato nem feliz.
Tudo isso como o lixo da viagem
Deixei nas circunstâncias do caminho,
No episódio que fui e na paragem,
No desvio que foi cada vizinho.
Deixei tudo isso, como quem se tapa
Por viajar com uma capa sua,
E a certa altura se desfaz da capa
E atira com a capa para a rua.
DESILUSÃO
Dom Fernando
Menina,
a desilusão
é uma mina
de emoção.
Não qualquer emoção,
mas a noção do qual ser
que pretendemos ser!
Menina,
a desilusão
é uma mina
de verdade.
Não qualquer verdade,
mas a veracidade
da idade do ser!
Menina,
a desilusão
é uma mina
de bênção.
Não de qualquer bênção,
mas da ação do bem,
bem no coração!
Menina,
a desilusão
é uma mina
de paz.
Não de qualquer paz,
mas do viver veraz,
porque verás!
Menina,
a desilusão
é uma mina,
de emoção,
de verdade,
de bênção,
de paz.
Menina,
Des-iludiu-se?
Que emoção!
Terás a noção do ser,
do teu ser!
Menina,
Des-iludiu-se?
Que verdade!
Terás a veracidade,
a idade do ser,
do teu ser!
Menina,
Des-iludiu-se?
Que bênção!
Terás a ação do bem,
bem no coração do ser,
do teu ser!
Menina,
Des-iludiu-se?
Que paz!
Terás o viver veraz,
verás como o Ser,
serás o ser!
Deus costuma usar a solidão
Fernando Pessoa
Para nos ensinar sobre a convivência.
Às vezes, usa a raiva para que possamos
Compreender o infinito valor da paz.
Outras vezes usa o tédio, quando quer
nos mostrar a importância da aventura e do abandono.
Deus costuma usar o silêncio para nos ensinar
sobre a responsabilidade do que dizemos.
Às vezes usa o cansaço, para que possamos
Compreender o valor do despertar.
Outras vezes usa a doença, quando quer
Nos mostrar a importância da saúde.
Deus costuma usar o fogo,
para nos ensinar a andar sobre a água.
Às vezes, usa a terra, para que possamos
Compreender o valor do ar.
Outras vezes usa a morte, quando quer
Nos mostrar a importância da vida.
DEVE CHAMAR TRISTEZA
Fernando Pessoa
Deve chamar-se tristeza
Isto que não sei que seja
Que me inquieta sem surpresa
Saudade que não deseja.
Sim, tristeza - mas aquela
Que nasce de conhecer
Que ao longe está uma estrela
E ao perto está não a Ter.
Seja o que for, é o que tenho.
Tudo mais é tudo só.
E eu deixo ir o pó que apanho
De entre as mãos ricas de pó.
Dever de Sonhar
Fernando Pessoa
Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre,
pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E, assim, me construo a ouro e sedas, em salas
supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho
entre luzes brandas e músicas invisíveis.
Devorador de sonhos
André Luis Aquino
Meu tempo era medido em anos
Agora é em segundos
Hoje uso teclas
Ao invés de tinta
Perdido nos labirintos do sentir
As palavras me repetem
Refletem-me
Devorando meus sonhos
Sangro em verbos
Transpiro dor
Como as lágrimas da poesia
Que transitam ao meu redor
Nestes versos
Não estou rindo
Não estou chorando
Estou apenas sendo
O que resta de mim
Às vezes digo mais
Sem as palavras
Do que com elas
Dorme sobre meu seio,
Fernando Pessoa
Sem mágoa nem amor...
No teu olhar eu leio
O íntimo torpor
De quem conhece o nada-ser
De vida e gozo e dor.
Dulce cantava a dor de estar vivo e não haver remédio nenhum para isso.
Caio Fernando Abreu
in Onde Andará Dulce Veiga?
É talvez o último dia da minha vida.
Fernando pessoa
Saudei o Sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.
Enquanto não atravessarmos
Fernando Pessoa
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um.
Enquanto não superarmos
Fernando Pessoa
a ânsia do amor sem limites,
não podemos crescer
emocionalmente.
Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um.
Enquanto quis Fortuna que tivesse
Luís de Camões
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento
Me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desse
Minha escritura a algum juízo isento,
Escureceu-me o engenho co'o tormento,
Para que seus enganos não disesse
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
A diversas vontades! Quando lerdes
Num breve livro casos tão diversos,
Verdades puras são e não defeitos;
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos.
Entre a árvore e o vê-la
Fernando Pessoa
Onde está o sonho?
Que arco da ponte mais vela
Deus?... E eu fico tristonho
Por não saber se a curva da ponte
É a curva do horizonte...
Entre o que vive e a vida
Pra que lado corre o rio?
Árvore de folhas vestida -
Entre isso e Árvore há fio?
Pombas voando - o pombal
Está-lhes sempre à direita, ou é real?
Deus é um grande Intervalo,
Mas entre quê e quê?...
Entre o que digo e o que calo
Existo? Quem é que me vê?
Erro-me... E o pombal elevado
Está em torno na pomba, ou de lado?
Entre o luar e o arvoredo
Fernando Pessoa
Entre o luar e o arvoredo,
Entre o desejo e não pensar
Meu ser secreto vai a medo
Entre o arvoredo e o luar.
Tudo é longínquo, tudo é enredo.
Tudo é não ter nem encontrar.
Entre o que a brisa traz e a hora,
Entre o que foi e o que a alma faz,
Meu ser oculto já não chora
Entre a hora e o que a brisa traz.
Tudo não foi, tudo se ignora.
Tudo em silêncio se desfaz.
ENTRE SONO E SONHOS
Fernando Pessoa
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.
Eros e Psique
Fernando Pessoa
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
Escondi o máximo que podia os meus medos, e eram, como você dizia, “preconceito consigo mesmo”, quando você olhou pra eles disse: “Não tem nada aqui”.Encorajado e me sentindo seguro, então mostrei meus defeitos, tirei o capacete, me despi da armadura, coloquei o escudo num canto e guardei a espada na bainha.Daí você viu que sou exagerado, dramático, evito discussões e tenho tendências a ficar perdido num mundo que não dá pra entrar.
André Luis Aquino
Mas você deu um jeito de entrar sim, e disse “Como é legal aqui!”. Virou moradora da minha concha....
ESTANDO EM TERRA, CHEGO AO CÉU VOANDO...
LUIS VAZ DE CAMÕES
NUMA HORA ACHO MIL ANOS,
E É DE JEITO QUE EM MIL ANOS NÃO POSSO CHEGAR A UMA HORA
Estou só e sonho saudade.
Fernando Pessoa
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
Estou sozinho aqui deitado em um quarto escuro
Fernando Zéqui
Minha alma navega em um sonho sombrio
Quero me levantar mais estou com frio
O frio me abala,
E mais forte que o frio é minha vontade de tocá-la
Lembro-me de quando tínhamos nossas próprias estrelas
E nelas colocávamos nomes...
São apenas lembranças,
para saber que nosso amor um dia foi puro...
Sinto pena por ter acabado,
Pois por você estava apaixonado
Mais agora você é apenas parte do meu passado
Que eu deixo para traz
Assim como tantas outras coisas que eu fiz de...
errado.