"Sou uma filha da natureza:
Clarice Lispector
quero pegar, sentir, tocar, ser.
E tudo isso já faz parte de um todo,
de um mistério.
Sou uma só... Sou um ser.
E deixo que você seja. Isso lhe assusta?
Creio que sim. Mas vale a pena.
Mesmo que doa. Dói só no começo."
"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...
Clarice Lispector
Ou toca, ou não toca".
TE AMO...!!!FELIZ...!!! TE AMO... !!!FELIZ...!!!!TE AMO.
'-...E eis que não entendo o ovo. Só entendo o ovo quebrado: quebro-o na frigideira. É deste modo indireto que me ofereço à existência do ovo: meu sacrifício é reduzir-me à minha própria vida pessoal. Fiz do meu prazer e da minha dor o meu destino disfarçado. E ter apenas a própria vida é, para quem viu o ovo, um sacrifício. Como aqueles que, no convento, varrem o chão e lavam a roupa, servindo sem a glória de função maior, meu trabalho é o de viver os meus prazeres e as minhas dores. É necessário que eu tenha a modéstia de viver..."
Clarice Lispector
[O ovo e a galinha - Clarice Lispector]
(...) faze com que eu perca o pudor de desejar que
Clarice Lispector
na hora de minha morte haja uma mão humana amada
para apertar a minha (...)
(...) faze com que eu receba o mundo sem receio,
Clarice Lispector
pois para esse mundo incompreensível eu fui criada
e eu mesma também incompreensível (...)
... A nossa vida é truculenta:
Clarice Lispector
nasce-se com sangue
e com sangue corta-se a união
que é o cordão umbilical.
E quantos morrem com sangue.
É preciso acreditar no sangue
como parte de nossa vida.
A truculência.
É amor também. (Nossa truculência)
... a respiração contínua do mundo
Clarice Lispector
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio. (Dá-me a tua mão)
... E descobri que não tenho um dia-a-dia.
Clarice Lispector
É uma vida-a-vida. E que a vida é
sobrenatural.
... Quero escrever noções
Clarice Lispector
sem o uso abusivo da palavra. (Quero escrever o borrão vermelho de sangue)
...e ela cada vez maior, vacilante, túmida, gigantesca
Clarice Lispector
se conseguisse chegar mais perto de si mesma, ver-se-ia inda maior...
e em cada olho podia-se-lhe mergulhar dentro e nadar sem saber que era um olho...
...faz de conta que ela nao estava chorando por dentro -
Clarice Lispector
pois agora mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado;
ela saíra agora da voracidade de viver.
...há impossibilidade de ser além do que se é -
Clarice Lispector
no entanto eu me ultrapasso mesmo sem o delírio,
sou mais do que eu, quase normalmente -
tenho um corpo e tudo que eu fizer é continuação
de meu começo......
a única verdade é que vivo.
Sinceramente, eu vivo.
Quem sou? Bem, isso já é demais...
...nada jamais fora tão acordado como seu corpo sem transpiração e seus olhos-diamantes,
Clarice Lispector
e de vibração parada.
E o Deus? Não.
Nem mesmo a angustia. O peito vazio, sem contração. Não havia grito.
...Que minha solidão me sirva de companhia.
Clarice Lispector
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
...sua sensibilidade incomodava sem ser dolorosa, como uma unha quebrada.
Clarice Lispector
e se quisesse podia permitir-se o luxo de se tornar ainda mais sensível,
ainda podia ir mais adiante...
A feiúra é o meu estandarte de guerra. Eu amo o feio com um amor de igual para igual.
Clarice Lispector
in Água Viva
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Clarice Lispector
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
A lucidez perigosa
Clarice Lispector
Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.
Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.
A Lucidez Perigosa
Clarice Lispector
Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
Assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.
Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.
Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.
Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.
A minha vida a mais verdadeira é irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique.
Clarice Lispector
Clarice Lispector, in A Hora da Estrela
A Perfeição
Clarice Lispector
O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.
A violeta é introvertida e sua introspecção é profunda.Dizem que se esconde por modéstia.Não é.Esconde-se para poder captar o próprio segredo.Seu quase-não-perfume é glória abafada mas exige da gente que
Clarice Lispector
o busque.Não grita nunca seu perume.Violeta diz levezas que não se podem dizer.
Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar. Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente. O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar. Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja. Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja.
Clarice Lispector
in "Onde estivestes de noite" - 7ª Ed. - Ed. Francisco Alves - Rio de Janeiro – 1994
Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.
Clarice Lispector
Clarice Lispector
Amor é quando é concedido participar um pouco mais.
Clarice Lispector
Amor é a grande desilusão de tudo mais.
Amor é finalmente a pobreza.
Amor é não ter inclusive amor.
É a desilusão do que se pensava que era amor.
Amor não é prêmio por isso não envaidece.