BANDIDO POR RAZÃO


Eu sou um bandido
Fruto de uma sociedade medíocre
Que ignora o meu problema
Impedindo que eu seja alguém
Eu sou um traficante
Que se enveredou pelas trilhas do crime
Impelido pela injustiça social
Que me condena como um marginal
Eu sou um ladrão
Que rouba o pão de cada dia
Para não ser abatido pela fome
Que me persegue sem tréguas
Eu sou um ser agressivo
Que dispersa violência... Terror.
Para esquivar da perseguição dos policiais
Que me caça como um fora–da–lei
Eu sou um filho do mundo
Sem presente,
Sem passado,
Sem futuro,
Sem lar...
... Sem pátria...
Eu sou um ignorante
Porque a política
Sórdida e desbriada
Arrebatou o meu direito de freqüentar a escola
Lançando-me na escola da vida
A minha infância há muito se perdeu
Pelas esquinas turbulentas das ruas,
Nas trevas das drogas,
No desconforto das calçadas,
Na solidão de um banco de praça,
Na frieza de um povo que não me acolhe...
Os meus brados de socorro
São apenas ruídos
Que não chegam aos ouvidos de um governo
Que não me reconhece como cidadão,
Como ser humano...
Eu sou tudo isso
Porque vivo num país de delinqüentes,
De políticos corruptos
Onde uma sociedade fétida
Extingue a minha existência
Assola os meus direitos
Do futuro espero apenas a morte
Morte que me abaterá
Quando eu for alvo da bala de um policial
Eu sou apenas um menino de rua
E só quero uma chance para viver.

Nildo Lage