Ana Neto: Bem depressa que se faz tarde na vida! Num dia com



Bem depressa que se faz tarde na vida!


Num dia como qualquer outro,
como milhares e milhares de outros que já vivemos antes,
olhamos para o espelho ao acordar e encontramos ali um outro
um outro que nunca ousámos enfrentar antes!

Ali assim sem mais nem menos,
vindo sabe-se lá de onde,
vemos o rosto de alguém que se parece com uma árvore de Inverno
de folhas ausentes, perdidas de si,
despida de cores, de flores, de odores,
despovoada de borboletas e de aves coloridas a cantar.
E assustamo-nos! E queremos não temer!

Viajamos pelos pensamentos, pelas histórias, pelos planos,
revivemos rapidamente tudo o que empreendemos na vida que já vivemos,
parece-nos um drama, com algumas peripécias cómicas...
pintalgado aqui e ali de humor negro
pincelado de raras cenas de romance!
Ajustamo-nos um pouco mais
fechamos os olhos para não ler a nossa alma
e acreditar que fomos o que fomos...
Nós não queríamos nada daquilo!
Porque acordámos? Porque tivémos de acordar assim...indispostos?
Preferíamos ter ficado adormecidos mais uns tempos...viver isto num pesadelo....
queríamos passar o filme em frente... ou para trás....
Queríamos ser embalados por um sonho onde se herdam fortalezas e se fazem proezas...
Está o despertador a tocar!

Passámos a detestar-nos! Jogamos as mãos à cabeça
Sentamo-nos num dos tantos lugares desocupados da casa
um lugar igual à nossa alma!
Vazia!
Queremos chorar... mas não há tempo para isso!!!
Ah, se não tivéssemos que sentir este abismo da nossa desesperança...

Há que ser alegre, mesmo sem ser feliz...
falamos alto e em tom de perdição
pois não há ninguém para nos escutar.
Bastava a sombra de alguém e já não nos sentiríamos assim
com o sangue a fervilhar em veias geladas!

Faz-se tarde para construir castelos
ou até mesmo para caminhar em busca de um.
Agora, até mesmo a imagem de um chega esbranquiçada aos nossos olhos.
Parece estar nevoeiro... estará?
Deve estar... não se vê bem....

Que cansados... desgastados... de viver as ilusões de uma vida!
Há que agir depressa...bem depressa que se faz tarde!
Vamos... vamos parar o tempo por uns tempos,
vamos inventar depressa uma alma de poeta!
Vamos dizer o que sentimos a toda a gente...alguém vai parar para nos ouvir.
Há-de haver alguém que nos queira escutar....
que aprecie ouvir as nossas histórias...
que em nós vá acreditar!

Vamos... depressa cantar as melodias que sempre calámos
recitar poemas aos ouvidos de quem amámos
mesmo que nunca tenhamos amado ninguém....
fazemos de conta pelo menos!
Vamos, é a hora da coragem... do perdão...da pressa de viver....
é hora e pronto!

Os valores?... A etiqueta?... Os princípios?.... Os tabus?.... A cultura?.....
Queremos lá saber disso
o rio está a correr para o mar
já se avista a foz....
agora, só temos de remar
contra a maré... mas remar...

Os cabelos estão desarrumados?
As vestes descombinadas?
Mas que nos interessa isso agora?

Queremos mesmo é ser felizes
e bem depressa que se faz tarde.

Ana Neto

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