Miwara: CaRta De MiM pArA Ti Estas são as palavras que nu



CaRta De MiM pArA Ti

Estas são as palavras que nunca te direi meu amor, quero apenas que escutes as palavras que o meu coração em silêncio te diz.Falar nunca foi o meu forte (tu sabes disso), mas hoje não me conti...Ontem a noite perguntas-te me se sei quem sou, e eu..subitamente aterrorizada desviei o olhar. Não, não sei...e também não ouso dizer-te em palavras, nem ouso deixar nos teus olhos, o reflexo das minhas lágrimas. Nem nas tuas mãos, as minhas mãos frias e trémulas...então triste procurei a ambiguidade relachante do vazio, e fiz o que sempre faço, tranquei-me no meu quarto, mesmo sabendo que o teu abraço seria o meu porto seguro, fiquei calada, pois tinha medo...pois so tu sabes as tempestades que juntos enfrentamos..tu disseste para eu nao fugir, e que juntos venceriamos, mas eu precisava do silêncio...o silêncio desde miuda me ajudou a perceber onde estou desafinando na vida...fui pra janela, senti conforto no vazio da noite, dúvidas invadiram a minha mente...Duvidas e mais duvidas denunciam-me os gestos, desajeitados, demasiado rápidos e nervosos. Como sempre! E como sempre, refugio-me por detrás das paredes, do meu sepulcral silêncio! Não sei mentir…Perguntaste-me se sei o que procuro nas subtérreas e escusas gavetas da minha perene inquietação e eu, uma vez mais, disfarçei com um sorriso leve, tão neutro quanto possível e um rápido piscar de olhos…Tudo me veio a lembrança, e o meu olhar aflito ainda perdido no meu eu, no vazio da distância, em busca de um ponto onde se fixar. Minhas mãos trémulas, cada vez mais inquietas, a remecher continuamente o labirinto do meu coração.Se ao menos te soubesse responder…se ao menos não parasse de pensar na decepção ao descobrir, o homem, imperfeito, por detrás do modelo que inventaste,e te ajudei a inventar sem saber...quando consentidamente te anulaste pelo prazer de me agradar.Se ao menos não tivesses escondido de mim, por tanto tempo, as mascaras que por intuição, uns e outros desejavam, ao ponto de me habituar a elas e me refugiar de mim...Se ao menos pudessemos começar do zero, depois de nos termos perdido no teatro do nosso namoro...Perguntas-me se sei porque contraponho sempre tantas dúvidas às certezas que ja alcancei...acreditas mesmo nisso? Como se tivesse alguma certeza...Não sei! Não, não sei... Grito, em surdina, dos confins do meu corpo e tudo em mim, respira e se agita, vivendo a angústia desse grito. Nem sei, sequer, porque padeço e desespero e ainda assim, insisto sempre na descoberta do que não é vísivel…Não sei, mas sinto que me desdobro, que há pelo menos mais uma vida, feita de incongruências, de singulares imperfeições e de verdades inconfessáveis, a pulsar dentro da vida que irreflectidamente escolhi viver… Não sei, mas sinto, com o latejante e sofrido coração desta alma vagabunda que carrego de vidas para vidas, que o que é vísivel aos olhos, não tem que ser, infalivelmente, verdadeiro nem, tão pouco, necessário para se ser feliz. E é o pressentimento vivo e sagaz dessa segunda presença de vida, em mim, que me faz cogitar e suspeitar que, hoje, talvez a única coisa realmente válida e importante na minha vida, seja este incessante e tumultuoso mar de dúvidas que transporto numa, cada vez mais, alucinante viagem ao interior da minha própria identidade…Esta é uma carta sem resposta..de mim pra ti. Eu sou parte de ti, juntos nos somos o todo.
Carta do amor que te dei, do amor que recebi.

Miwara

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