Moda e modismos
Martha Medeiros
Fico fascinada com desfiles de moda. É hoje um dos espetáculos mais criativos dos calendários de eventos. No último SP Fashion Week, vimos passarelas formadas de pastilhas iguais às de calçadões, modelos pintados como personagens de filme de terror, barquinhos pendurados no teto, shows ao vivo durante o desfile, enfim, é tudo muito bem produzido, e ainda tem aquelas maravilhas que as tops vestem, cores e formas lúdicas, malucas, excitantes, quase todas não usáveis, mas o que é que tem? Importa o clima, a arte, a inspiração. Papo sério. Já faz algum tempo que moda é sinônimo de informação, estímulo e entretenimento. Roupa é outra coisa. É isso que você está usando enquanto lê o jornal.
No final das contas, todo mundo se vira bem com um jeans, uma camiseta, um casaco e uma bota. O que não podemos é ser dominados pelo modismo, que é algo muito diferente de moda: é alienante e perigoso.
Modismo é quando as pessoas não apenas se vestem como todo mundo: agem como todo mundo. Esquizofrenia generalizada. Alguém decreta que boca tem que ser carnuda, e lá vai o mulherio fazer preenchimento e ficar igual à Margarida, do Pato Donald. Modismo é quando se elege uma idade limite pra transar pela primeira vez (ai de quem ultrapassar os 16), um tipo de best-seller que é obrigatório ler (é a hora dos afegãos, indianos e turcos), é quando dá-se mais status para casamentos rápidos (quem completa bodas de prata se sente o tataravô do matusalém), ordena-se que os móveis da casa sejam dispostos em posição recomendada (jamais sofás de costas para a porta!), em que dedo deve-se usar os anéis (em qualquer um, menos o anelar), a raça mais up to date de cachorros (o golden retriever está bem cotado; entre as cachorras, Bebel sem discussão), os lugares imperativos para passar férias (se você ainda não foi a Itacaré, nem me cumprimente), e ai de quem não praticar ioga ou pilates, de preferência os dois.
por paraíso o lugar onde todos têm um celular bem fininho e com MP3, é claro.
Morro de medo de que as coisas que eu mais amo virem modismo: ir pra praia no inverno, ficar em casa no final de semana, andar com tênis fuleiro, não ser muito chegada a bicho, não morrer por não ter um iPod e fazer o que bem entendo na hora que eu bem quero - inclusive nada, já pensou se a moda pega? Ah, mas ia esquecendo de uma extravagância (todo mundo precisa ter ao menos uma para ser massacrada): tomo champanhe com churrasco.
Moda é bárbaro. Modismos, só os seus.
(Martha Medeiros - Zero Hora)