Ensina-me, Sem Nome, a não querer como se perdesse, quando perdesse, se perdesse. Obriga-me a desaprender a só querer à beira do precipício, sempre num começo que não se faz, sempre com o gosto do fim na boca, sempre com o travo da imposibilidade na língua. Faz de mim, Sem Nome, a regeneração do que brota e não morre antes que a vida ascenda da terra, antes que do sol conheça o calor, ou que assim que o conheça volte ao útero da espera na escuridão. Dá-me, Sem Nome, o querer compossível, o não fugidio e efêmero, o que se perfaz além do instante, além do que a vista possa conceber como agora. Permita-me, Sem Nome, que eu queira o que anoiteça e amanheça, que eu saiba fazer a minha espera com mais que um vazio nos braços e um olhar no que não alcanço, que eu não me perca na memória do gesto que fica e reverbera, mais do que no toque que se personifica, nem no triste fio frágil do que não tece além do que foi. Alcança-me, Sem Nome, vira-me pelo avesso de mim, traz-me à terra, fere-me as asas, planta-me os pés, dá-me olhos para o mundo, esse que não quero, esse que não vejo com minha alma de fogo e cinzas.
Patricia Antoniete