Juízes de plantão
Jorge Reigada
Me impressiona a quantidade de classificações e julgamentos a que somos expostos a cada minuto de nossa vida. De alguma forma foi criada uma fórmula perfeita de viver na cabeça daquele que te observa. Mas por que ele te observa?
Me parece que todos os passantes esperam de nós um comportamento a altura do lugar onde estamos e como juizes, qualquer “deslize” de nossa parte, é motivo para alguma mostra de desaprovação. Quando falo passantes, estou incluindo todos, desde aqueles que simplesmente passam pelas ruas, a massa do ônibus, metrô; desde gente que possivelmente nunca mais iremos ver e se ver não nos lembraremos, até os familiares incluindo os filhos, os quais ensinamos os valores que mais tarde, serão a base para que sejamos julgados também.
A questão, valores, é o retrato, a identidade social e psíquica que carregamos por toda a nossa vida. Em algumas pessoas estes valores são mutáveis em outras tão rígidos que consegue engessar todo o seu comportamento. Ainda existem outro tipo de pessoa que, pensando ter conseguido um “crescimento” em alguma parte da vida se coloca de uma forma tão estrondosamente idiota que passa a julgar e condenar com seus comentários aqueles que não conseguiram o tal crescimento naquele valor. Nesse caso, mesmo que ela realmente tenha conseguido este avanço, vai tudo por água abaixo, pois, ela transformou um avanço emocional ou comportamental, em um objeto e quer coloca-lo sobre a estante do mundo para que todos vejam.
Na realidade, o julgamento social vem da comparação conosco mesmos. Somos tão incapazes de manter a mente aberta que a fechamos lá na adolescência e pensamos que nos tornamos aptos para o julgamento. Não falo somente da condenação, mas também de quando admiramos. Contudo, em certo tipo de pessoa a admiração é negada e o que aparece é a inveja e não a boa inveja (que chamo de esperança ou modelo a ser seguido), mas a inveja destruidora, felizmente na maioria das vezes, destrói apenas quem a sente.
Nossos juizes são pessoas profundamente inseguras e que só conseguem sentir-se “maior” diminuindo o próximo.
O mais curioso é que na empáfia em que o juiz de plantão se coloca, apesar de querer mostrar que é melhor, que não comete erros, ele apenas está dizendo que aquele “erro” pelo menos ele não comete (ao menos naquele momento) ou que já tenham visto.
Parafraseando o mestre: em verdade vos digo que os Juizes de Plantão são pessoas atormentadas pela perfeição da aparência, escravos da necessidade e das ordens do grupo em que vivem. Com baixíssima cultura são incapazes de crescer. Não existem neles a auto-comparação e estão sempre se comparando externamente, a mais destrutiva forma de se viver, uma fonte eterna de sofrimento, um tapete vermelho que vai direto a solidão.
Se, da escada da vida consegui deixar limpo o meu degrau, ao invés de criticar quem ainda não conseguiu, o mais razoável e grande fator de felicidade e paz, é ajudar o próximo a limpar o seu.
E, sem julgamentos, ter a humildade de perguntar: - Como você quer o seu degrau limpo?
Ou, o que é para você um degrau limpo? E só depois ajudar. Assim deixaremos a bestial responsabilidade de ser o centro do mundo e sem o peso da toga que nos agrilhoa a conceitos vencidos, estaremos libertos para levar nossa vida aproveitando toda a maravilha que ela nos oferece gratuitamente.
Afinal, se nosso degrau esta limpo é sob nossa ótica. Só podemos usá-la para nós mesmos.
Por fim, quando você aponta um dedo para o “defeito” do outro, sua própria mão aponta três outros dedos contra você mesmo.