De tão vagabundo entende tudo. Sabe muito porquê viu de mais. Sabe nada! Como os que muito aprendem.
Ana Carvalho
Sai batendo por aí, pra qualquer um na rua. Distribuindo beijos em outdoors. Caindo aos pedaços. dilacerado. esfarrapado. remendado. vagabundo!
Acelerado. abalado. sobressaltado. disparado. Vagabundo!
Bate por qualquer música vadia. por qualquer estrela bandida. rima perdida. Bate sem rebate. Pelo gosto de bater e de vagabundo ser.
Bate na mesa do buteco sem precisar dizer: “mais uma”.
Bate com gosto, vagabundo por profissão.
Açoitado por palavras cotidianas e pães dormidos amanhecidos com o dia, comidas italianas, bancas de crianças. E lá vai… vagabundeando pelo mundo. Batendo só por bater.
Gritando. berrando. sorrindo. gargalhando. chorando. morrendo. batendo! pulsando!
Sangrando. pra lembrar que está vivo.
Vagabundo!
Engolindo tudo e vomitando pelas esquinas.
Mal comidas angústias, mal vividos amores. Vomita, e vomita. Depois sacode. E vagabundeia na busca do vômito de amanhã.
Ah vagabundo… se te arrancasse do meu peito, com todos teus amores mal cozidos. Passando pela garganta sentindo seu sangue, engolindo teu sacro fardo. Vomitar-te-ia. Desfaleceria e morreria. Porque sem tu vagabundo. Meu peito desmerece ser peito. Minha lágrima soluça sem chorar, meu riso não acha graça, meu canto não encanta. Sem tu Vagabundo… meu sangue esfria, minha retina desfalece, meus sentidos não opinam. Minha vida não vive, Minha morte não morre. Antes tu coração vagabundo. Do que a paz artificialmente colorida.