A DURA BUSCA PELA POESIA



Porque extremamente grave para mim é o ruir dos passos pela noite sob tua ausência, tua presença para mim é urgente. Gravíssimo para mim é um livro escrito – ou não escrito -, um livro fechado me é grave – ou um livro aberto –, porque para o mundo, em qualquer parte do mundo, mais grave ainda é a tua presença. Extremamente grave: uma parede nua, uma vida crua, e uma rua deserta – rua não deserta, é uma ferida aberta pela tua ausência.
Porque extremamente grave para mim é o sofrimento dos homens, e a humanidade sofre, como os homens sofrem, meu Deus, todo o sofrimento, pela tua ausência. Tua presença para mim é por demais urgente. Extremamente grave para mim: um casamento, um rompimento, um relacionamento me é grave – e um nascimento, porque mais grave ainda, para mim, é a tua presença. Gravíssimo para mim é o caso de toda a maldade – e a bondade –, a ansiedade, e a sanidade, a honestidade – a insanidade, meu Deus, é a realidade sob tua ausência.
Porque extremamente grave para mim é o soçobrar das bocas em prol do silêncio pela tua ausência, tua presença para mim é urgente. Gravíssimo para mim é o problema da ordem – ou a desordem –, uma ordem dada me é grave – ou, uma ordem em aberto –, porque para o mundo, em qualquer parte do mundo, mais grave ainda é a tua presença. Extremamente grave: uma mulher amando, uma mulher gemendo, uma mulher chorando – mulher não chorando; uma mulher me é grave, meu Deus. E a mulher me chora, e como chora, todas choram pela tua ausência.
Porque extremamente grave para mim é o tatear da pele sobre o sem pele, imensamente, sob tua ausência, tua presença para mim é urgente. Gravíssimo para mim é o pulsar da vida, e a vida pulsa, como a vida pulsa, meu Deus, todo o sangue pela tua ausência. E tua presença para mim é por demais urgente. Extremamente grave: um olhar seco, um olhar sereno, um olhar não sereno – e um olhar sincero, não sincero –, um olhar me é muitíssimo grave, porque mais grave ainda, para mim, é a tua presença. E porque gravíssimo para mim é o problema da vida, e o problema da morte – irremediavelmente é a vida, meu Deus –, caminho eu, vagamente, ao encontro daquela, a quem só posso vir chamar por poesia.

Neilson Moreira