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ENTREVISTA: MARCIO FUNGHI DE SALLES BARBOSA -
DEPRESSÃO
A Organização Mundial da Saúde nos alerta para o fato de que a Depressão já é a quarta causa de incapacitação para o trabalho (Folha de São Paulo de 12/12/2001) e que deverá chegar a ser a segunda causa em 10 anos, a persistirem os atuais indicadores de piora sócio-econômica.
O psiquiatra Márcio Funghi de Salles BARBOSA fala sobre a Depressão e nos mostra como identificar seus sintomas.
INFO: Qual o papel do estresse sobre a depressão?
BARBOSA: Nas depressões adquiridas o estresse é o fator desencadeante e dependendo da sua intensidade e dos fatores do indivíduo, poderemos ter depressão aguda (súbita) ou crônica (com uma formação mais demorada). Na depressão aguda o fato estressante aniquila o indivíduo e este cai em profundo abatimento, podendo chegar ao suicídio, se não lhe dermos provas rápidas de que existe solução para seu problema.
INFO: Na depressão crônica, o estresse é mais brando?
BARBOSA: Nem sempre. Muitas vezes, a um estresse intenso, pode surgir um quadro depressivo de longa duração, um pouco mais brando que no momento inicial, mas de forma também destruidora. Na maioria das vezes a depressão crônica é precedida de uma série de acontecimentos que geram estresses e depois de algum tempo, cria-se um estado de preocupação com o que está para acontecer, chamado de Distress, que é o DIStúrbio do esTRESSe. Aos poucos ele gera uma deficiência de substâncias químicas no sistema nervoso, levando o indivíduo à depressão.
INFO: Existem também depressões por problemas orgânicos?
BARBOSA: Sim, existem as chamadas “depressões orgânicas”, isto é, causadas por distúrbios orgânicos, como a epilepsia, a esquizofrenia, a AIDS, a arteriosclerose, o câncer e tantas outras doenças. Há a Depressão Puerperal, que surge no período da gravidez, podendo acompanhá-la, ou surgir no pós-parto. Existe também, um outro tipo, chamado de Depressão Maior, causada pela herança genética, e que se traduz por múltiplas deficiências no Sistema Nervoso, que, quando alterna depressão com um comportamento agitado, euforizante, é chamado de Transtorno Bipolar. Recentemente foi descoberto um gene, o 5-htt, que pode variar no seu tamanho. Quando encurtado, por fatores de perturbação genética, ele coloca as pessoas mais sensíveis ao estresse e à depressão, dificultando o transporte e o formação de substâncias químicas no cérebro, predispondo ao aparecimento da depressão.
INFO: É possível haver cura da depressão sem tratamento?
BARBOSA: É possível e ocorre mais em pacientes com depressão, com surgimento devido a reação a problemas físicos, situacionais ou em momentos de extrema tristeza.
Temos a necessidade de lembrar, que na Depressão Maior, a primeira crise costuma ceder com medicamento mesmo errado, ou insuficiente, ou ainda sem medicamento nenhum. Mas poderá voltar em novos surtos, muitas vezes mais intensos que o primeiro. O maior problema é o estrago causado nos neurônios (células nervosas) a cada recaída, com chances de levar a consequências graves, duradouras, como problemas vasculares, de memória, de equilíbrio (confundido com labirintite), dentre outros. E é difícil, para o leigo, saber se a sua depressão é passageira, ou orgânica. Requer análise de um especialista qualificado. Isto não está sendo posto, para significar: "todo mundo que sofre uma tristeza, deve ir ao psiquiatra", mas para tornar consciente as pessoas, de buscarem ajuda, se o estado de tristeza persistir.
INFO: Psicoterapia ou medicação, qual o melhor tratamento?
BARBOSA: Certa vez um clínico nos ligou, para pedir-nos que déssemos uma bronca em uma nossa paciente, que havia ido a um “curador”, numa tentativa de se curar da depressão. O acalmamos e quando ela chegou, com medo da bronca, lhe perguntamos se tinha conseguido alguma ajuda. Ao dizer que não, respondemos: ”Que pena!”
Coitado de quem se julga capaz de usar um só recurso, para todos os clientes. Vai perder muitos...
INFO: Que tipos de problemas costumam ser observados no tratamento com medicamentos na cura da depressão?
BARBOSA: Os problemas observados costumam ser passageiros e se referem à adaptação medicamentosa, sendo os mais comuns: ligeiro atordoamento, sonolência leve e queixas gastrintestinais, como náuseas leves, formação de gases com abdome distendido e por mais frequentemente, prisão de ventre. Ao se receitar um antidepressivo, observamos os efeitos colaterais e se não forem atenuados, ao nível da boa tolerância, devemos procurar outros compostos. Como a maior incidência é de problemas digestivos, junto com os medicamentos, nós estamos instituindo farta dieta líquida, frutas com aveia e mel, verduras, fibras e estamos contentes com os resultados obtidos com a inserção de lactobacilos no dia a dia dos nossos pacientes. Eles agem impedindo a agressão mais severa dos medicamentos e temos visto casos de correção imediata do intestino preso, ressecado, levando ainda em conta, que os intestinos com uma flora reforçada, resistente a agressões, propiciam uma melhor absorção medicamentosa, com redução de doses e de sintomas colaterais.
Contudo, o médico deve avaliar os riscos/benefícios do uso de um determinado antidepressivo, pois muitas vezes a medicação, embora satisfatória no combate à depressão, pode gerar um estado de ansiedade/irritabilidade, se produz reações sérias, como não evacuar, ou não ter uma boa digestão.
INFO: Lendo o quadro fornecido por V. S., onde são demonstrados os principais sintomas da Depressão, vimos que existe uma distinção de queixas físicas, psíquicas e afetivas. Os compartimentos são,na realidade, assim separados?
BARBOSA: De forma alguma! Sintomas físicos podem surgir como resposta a descontroles afetivos, que por sua vez podem surgir por alterações físicas ou psicológicas. Os estudos sobre a química cerebral mostram cada vez mais a inter-relação entre o físico, respondendo ao psíquico. Chamamos a atenção para algumas das observações existentes neste quadro. Elas mostram exatamente isto.
INFO: Quando saber se há a depressão, uma vez que muitas pessoas têm ocasionalmente alguns destes sintomas?
BARBOSA: A certeza de que existe um processo de depressão, surge quando existem, simultaneamente, dez ou mais sintomas entre os mais frequentes, por um período de dois meses seguidos ou mais. Entretanto, pode surgir a depressão chamada de mascarada, onde as queixas são físicas e onde não é feito um diagnóstico psíquico, levando o paciente a tratamentos que produzem ainda mais sintomas depressivos, como o tratamento da hipertensão, gastrite e outras manifestações da própria depressão, que podem ser encaradas como co-morbidades (doenças conjuntas), mas no fundo, seriam consequência da depressão.
INFO: Por que vemos algumas pessoas afirmando aos pacientes, que a depressão é falta de força, caráter ou de auto-esforço?
BARBOSA: em meio à população existem deprimidos que querem crer nesta bobagem. Quem pensa assim é desinformado.
INFO: É possível perceber pessoas que não são deprimidas, mas que exibem estes sintomas?
BARBOSA: Com muita frequência! Principalmente entre os portadores de outras doenças, entre os fanáticos por dietas, entre os compulsivos, como os jogadores, trabalhadores, bebedores, drogaditos e uma enorme gama de problemas psíquicos, físicos, situacionais. A própria definição de saúde diz que “Saúde é (utopicamente) o perfeito equilíbrio entre o bem estar físico, psíquico e social”.
No mundo de hoje com os políticos e poderosos se desintegrando, num processo utópico de compensação da própria inferioridade, com destruição da “res-pública”, será possível que existam muitos sadios entre a população comum? Entretanto, a conclusão que surge, a cada dia, é que o processo atual é inevitável, para a queda que antecede ao próximo crescimento social.
Sempre foi assim, ao longo da história: a espécie humana cresce em picos e vales, onde uma curva estatístico-gráfica mostra que, se traçada pelos picos ou através dos vales, ela é ascendente, apesar das quedas. Essas quedas são vistas com tristeza, pelos que pensam com mais sensatez, mas são essenciais para a acomodação social, até que os humanos se conscientizem do processo harmônico de desenvolvimento, centrado no indivíduo, e não na busca do poder, que não cabe num caixão apertado.
INFO: Os remédios antidepressivos causam alguma dependência?
BARBOSA: Não, os antidepressivos, jamais causam dependência. Esta é uma conclusão definitiva, referendada por diversos órgãos de vigilância dos psicofármacos, inclusive pelo "Food and Drugs Administration", órgão norte-americano, respeitado em todo o mundo.
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Marcio Funghi de Salles Barbosa
www.drmarcio.com

Marcio Funghi de Salles Barbosa