Kathlen Heloise Pfiffer: Um suspiro de alívio. Já tive aos montes pessoas



Um suspiro de alívio.

Já tive aos montes pessoas que não compensam esquentando a cadeira ao lado do cinema, o banco ao lado do carro e o travesseiro extra da cama. E nem por um minuto senti meu peito aquecido. A gente até engana os outros de que é feliz, mas por dentro a solidão só aumenta. Estar com alguém errado é lembrar em dobro a falta que faz alguém certo. E ele sempre foi essa pessoa. Eu sempre pensei que de nada adiantava uma incessante busca, quando eu na verdade sabia exatamente onde se encontrava o que eu mais queria.

Eu sempre disse a mim mesma: é claro que isso passa. É claro que eu vou esquecê-lo, no futuro eu não vou sentir mais nada por ele. Parece até que isso era uma espécie de talismã pra que eu pudesse continuar toda vez que via alguma foto sua toda vez que alguém mencionava seu nome, quando eu involuntariamente relia cartas antigas, sentia seu perfume na rua ou toda vez que acordava assustada depois de passar mais uma noite com ele nos meus sonhos. É, mas no fundo eu também sabia que esse talismã ai não servia pra nada. Porque quando alguém me perguntava por ele, meu coração continuava acelerando, quando sentia seu perfume, minhas pernas ainda ficavam bambas, e quando sonhava com ele, eu continuava acordando encolhida agarrando o travesseiro numa tentativa fracassada de substituí-lo.

A verdade é que, eu sempre achei que seria triste tirar esse sentimento de dentro de mim. Eu me agarrava à beiradinha do meu amor, implorando pra que ele ficasse, ainda que doesse mais do que cabe em mim, eu implorava pra que pelo menos esse amor que eu sinto não me deixasse, que pelo menos ele, ainda que insuportável, não desistisse.
Sim, no lugar mais íntimo do meu eu, eu sabia que não ia passar, porque eu não queria que passasse. E toda vez que eu o encontrava, me vinha na mente tudo aquilo que eu insistentemente fingia tentar esquecer. Toda vez que o encontrava em uma festa, ou quando esbarrava com ele no centro da cidade, toda vez que tínhamos uma conversa (superficial como sempre, do tipo, como vai a família, como vai o trabalho), enfim, nessas horas eu continuava a sentir um embrulho no estômago e um calafrio na nuca que só a sua presença podia causar.

Até que algo muito estranho aconteceu. As conversas superficiais deixaram de ser superficiais. Os encontros se tornaram mais freqüentes, e um tanto quanto planejados. E então o passado voltou à tona, é como se eu tivesse apertado a tecla de retornar e o filme voltasse todinho, só que não em preto e branco, mas colorido, mais vivo que nunca. E a idéia de o ter novamente chegava a me dar arrepios, me tirou o sono por um tempo. E então ele me liga pra gente tomar um café, e eu sei que ele continua querendo a mesma coisa. Querendo me esconder como sempre, querendo me amar só enquanto você pode vulgarizar esse amor. Querendo-me no escuro. E eu topei. Não porque seja uma idiota, não me dê valor ou não tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque ele me lembra o mistério da vida. Simplesmente porque é assim que a gente faz com a nossa própria existência: não entendemos nada, mas continuamos insistindo.
Acontece que, após tê-lo novamente, parece que algo mudou dentro de mim. Algo foi embora. Senti-me mais livre, mais leve, mais solta. Eu me senti libertada. Foi preciso tê-lo novamente, pra perceber que não era falta da sua pessoa que eu sentia, e sim, falta de somente ter um carinho especial, um eu te amo no meio da manhã. Senti-lo novamente tocou somente meu corpo. Minha alma e meu íntimo continuaram intactos, e sua presença se passou por mim vazia. E o que eu achei que não tinha resolução, que nunca passaria, foi embora justo com a chegada do problema. Vê-lo, e perceber que nada mais significava pra mim, foi como uma carta de alforria, como uma ilha de esperança num mar de mesmice.

Hoje eu posso afirmar de mente e coração abertos que estou finalmente bem, em paz comigo mesma. E se por muito tempo os outros eram somente outros que passavam em minha vida enquanto eu esperava o encontrar, agora ele é só mais um outro.
Eu? Eu pra ele serei sempre única e incondicionalmente aquela que ele chama de “certa”. Quando ele está com medo da vida, é na minha mania de rir de tudo que ele encontra forças. E,quando ele está rindo de tudo, é na minha neurose que encontra um pouco de chão. E, quando precisa se sentir especial e amado, é pra mim que ele liga. E quando está longe de casa, ele gosta de ouvir minha voz pra se sentir perto de si mesmo. E, quando pensa em alguém em algum momento de solidão, seja para chorar ou para ter algum pensamento mais íntimo, é em mim que ele pensa. Eu sei de tudo. E eu passei os últimos tempos escrevendo sobre como ele era especial e como eu o amava e isso e aquilo. Mas por hoje, isso acabou. Hoje não sinto mais pena de mim por não o ter. Lamento sim por ele não me ter mais ao seu lado.

kety 08/2008

Kathlen Heloise Pfiffer

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