Autor Desconhecido: Numa praia, certo dia, Era ainda manhã cedo, (O s



Numa praia, certo dia,
Era ainda manhã cedo,
(O sol apenas tingia
Os cimos do arvoredo),

Quis a sorte traiçoeira,
Que às vezes ao mal inspira,
Se vissem a vez primeira
A verdade e a Mentira.

_Amiga, que vens fazer?
A mentira perguntou.
_Tomar banho... é bem de ver...
A verdade lhe tornou.

_Foi o que me trouxe aqui!
Diz a mentira. Afinal
Por acaso viera ali
Sem nunca pensar em tal.

Para se poder banhar
Já a verdade despira
Seu manto de ouro a brilhar,
Seus andrajos, a mentira.

Mas no banho, quando viu
Tão formosa companhia,
Mais a mentira sentiu
O desprezo de vivia.

Logo na alma lhe entrou
Ciúme mau conselheiro;
A vingar-se não tardou,
Saiu do banho primeiro

E naquele ódio constante
Que o pensamento lhe invade,
Furta ali no mesmo instante,
O manto de ouro à verdade.

Por não ser desconfiada
A verdade nada vira...
Depois... Só achou, coitada,
Os andrajos da mentira

Ao ver-se em tal embaraço
Logo consigo dizia:
"Vesti-los?" Isso não faço,
Pois se o fizeste mentia.

Usar o que ela despiu?
Antes a minha nudez.
E assim nua se partiu
A correr mundo outra vez;

Não por soberba ou vaidade
Nem de orgulho ou cegueira,
Mas por aquela lealdade
De ser sempre verdadeira.

Ainda hije, enganado
O mundo acolheu,
Anda a mentira ostentando
Aquilo que não é seu.

E a verdade, com ser nua,
Sempre triunfa ao pé dela:
PODE OFENDER POR SER CRUA
NUNCA DEIXA DE SER BELA!!!


Texto A Verdade e A Mentira
Recitada pela menina Maria da Conceição Pereira
na noite de 15 de abril de 1922 - Portugal

Livreto de Armando Cortes-Rodrigues

Autor Desconhecido

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