Ana Margarida Amorim: (...) não alcançavam...encostaram-se à parede,



(...) não alcançavam...encostaram-se à parede, metade a desfocar-se e a notar-se mais, parecia nascer-me, mas o tempo dissolvia igualmente a seguir, invisível, a soluçar nos pântanos, encolhidos de medo, inclinados a agitarem-se, para além do silêncio, desinteressados do tempo. Mas onde param os teus olhos? Afugentam-se os pássaros...erguem-se no ar motivos que ninguém entende, ventos de eternidade, palavras que não ganham força...preocupa-me o interior, não coincide nada, uma sombra igual às outras emerge...certifico-me que me sinto eu própria, não me entendo, interrompem-me a cada instante, decidem por mim pessoas estranhas, que não existem mas como se estivessem habituadas a nós.
Estou cheia de movimentos a tentar explicar-me que eu no entanto recuso saber, tantas coisas sem relação entre elas, de tempos a tempos tudo me parece tão diferente, destinado a impedir-me que me resigne a aceitar-me, a entregar-me, a espantar-me através de mim. Pensei que um dia destes voltava, poisava tão veloz como um moinho, assobiava num murmúrio incompleto (...)

Ana Margarida Amorim

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