Sindicato das Idéias.
Aurélio Sampaio
Está começando um motim na minha cabeça, parece que minhas idéias
resolveram se rebelar. Ora todas falam ao mesmo tempo, ora se contradizem, ora não dizem
nada com nada. Haveria de se criar um Sindicato das idéias, de forma que eu pudesse ouvi-las
de forma mais organizada, com pautas mais sintetizadas, talvez até ordenadas por ordem de
importância. Garanto que trataria de realizá-las com a maior boa vontade. Mas ai começariam
mais problemas, que espécie de sindicato seria esse que aceitaria um “sim, eu resolvo”, ou um
“eu aceito” , assim de imediato, sem ponderações, nem modificações; sindicato que se prese
gosta de discutir, e não de se impor. Nessa hora então apareceriam as idéias que não se
filiaram ao sindicato e formaram um grupinho à parte, a chamada “Teoria da Conspiração”,
onde pensariam “ Por que ele aceita tudo?”, “ Por que quer realizar todas essas idéias?” , “Ai
tem coisa!!!”. E de repente novo motim, novo caos nos meus pensamentos. E o Sindicato que
fora pensado para organizar, agrupar, agora faz é segregar. Começa um Apartheid das minhas
idéias, surgem vários grupos separatistas, todos querendo tomar o poder, todos querendo
mandar nos meus pensamentos, mas nenhum preocupado com o que eu realmente quero: Paz.
Surge então um pensamento, com uma lábia bem convincente que se alia a
outro, não tão bom com as palavras ,mas porém de ação, eles são a morte e o suicídio.
Chegaram com um discurso muito eloquente, falando em silêncio, em paz, em acabar com
esse turbilhão de emoções, acabar de uma vez por todas com essa desordem na minha cabeça.
E com essa conversa mole eu fui me envolvendo, e cada vez mais me envolvendo, e foi....De
repente, silencia tudo. O motim acabou, todos se foram, ficou vazio. Mas não era isso que eu
queria, eu não queria o vazio, eu queria paz. E esse silêncio é perturbador. Ele vem
acompanhado de um piiiiiiiiiiimmmmm que parece não ter fim. Juro que não era isso que eu
queria. Mas de repente o piiiiiiiiiiimmmmm, vira um pip pip pip pip pip pip e começo a ouvir
vozes que não vem de dentro da minha cabeça , mas do exterior, e dentre essas vozes eu ouço
uma que diz “Graças a Deus!”. E essa palavra “Deus”, pequenininha, se transforma em idéia e
preenche todo aquele vazio, e mais, tá me trazendo o que eu queria, a minha tão sonhada paz.
Estou recobrando aos poucos minha consciência, e com ela todas as minhas
idéias, sendo que agora elas têm uma idéia que as lidera: “Deus”. E novamente as idéias mais
provocadoras começam “ Isso aqui virou uma ditadura!!!”, “Esse Deus quer mandar em
tudo!!!”, “Vamos nos rebelar novamente!!!”. E é ai que acontece algo inusitado, a idéia de
Deus resolve falar, sendo que o inusitado não é ela falar, é ela falar com uma voz diferente,
por que como a cabeça é minha, minhas idéias apesar de diferentes, todas falam com o mesmo
timbre(o meu, lógico!), mas Deus falou, e sua voz era firme, porém suave :
–Eu como líder das suas idéias agora só faço uma exigência: que seja feita
uma ponte que ligue sua cabeça ao seu coração, pois é lá que eu quero morar!!!
E a ponte foi feita. Tudo isso aconteceu numa fração de segundos após eu
ouvir a voz da enfermeira que disse “Graças a Deus!!!”, ao que abri meus olhos e respondi “É
sim, é graças a Ele que estou vivo e em paz!”.