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Eu coloquei como assunto Nós e a Velhice. Na realidade quis misturar-me à maioria. Afinal, desde pequenos aprendemos a não gostar de sermos separado do grupo. Em grupo nossa identidade fica dispersa e a responsabilidade é dividida por todos, enfim temos a bendita desculpa. Ou não erramos sozinhos...

Mudo o título: Eu e minha trajetória à velhice.

Com o passar do tempo vamos perdendo as pessoas nas quais nos espelhamos para criarmos o molde com o qual nos encaixamos na vida. Tempos atrás vim a aceitar que o molde não era o meu e que me sentia sufocado e sem muitos movimentos penso que aí começou o esforço a caminho do envelhecimento.

Esta talvez seja a parte mais conturbada da vida e a mais brilhante, quando conseguimos criar não um molde mas um espaço em que podemos ser livres. Estando dentro de um molde logicamente estamos encaixados dentro de um grupo de moldes onde existem outras pessoas dentro de cada um; uns chorando a solidão, outros reclamando que a vida assim o quis e outros ainda apenas querendo continuar lá com a certeza que a vida é este molde.

Imaginemos um grupo de moldes todos perfeitamente encaixados e em um deles a pessoa desperte para vida que flui e que dentro do molde não irá aproveitá-la ... começa o esforço para o aumento do espaço do molde em que nos encontramos. Isso faz com que incomode as pessoas dentro dos moldes mais próximos (nossa família, nossos relacionamentos) e lá vem a chuva de morais educatórias nos tentando mostrar que estamos errados ou que a vida é assim: Nos encaixamos nos moldes e esperamos a morte.

Mas, com a consciência expandida torna-se quase impossível continuar num espaço tão exíguo onde os sonhos se tornam tormentos por não termos a possibilidade de nem sequer tentar buscá-lo.

E com grande esforço nos colocamos de pé, muito lentamente abrimos os braços, as pernas e aos poucos começamos, timidamente, a ensaiar os passos da música de nossa vida.

O coro de vozes reclamatórias nos lembrando todas as ordens dadas na infância é ensurdecedor; regras são gritadas de todos os lados... Nossos ouvidos ainda soam nossa música e ainda confusos procuramos uma orientação... à nossos pés e até ao horizonte (agora maior) vemos pequenos cubículos, alguns de ouro tão cheio de coisas que mal a pessoa se move lá dentro, outros com flores, a maioria simples.

As vozes agora já conseguem ser superadas pela música que flui e sua dança aumenta e vem a grande descoberta você pode voar. Não importam mais as rugas ou o cansaço dos músculos apenas quer voar. Sentir a sanidade do vôo sentir o acalanto do vento, sentir de nosso interior a compreensão da glória da vida.

Não existem mais os grilhões das mágoas ou a culpa dos erros que nos prendem aos moldes que nos colocaram.

Você olha para baixo e vê as pessoas se acomodando no espaço que vc deixou cada um querendo um pedaço.

Com um sorriso você apenas se deixa voar em direção ao envelhecimento em direção a luz da vida

Estou envelhecendo e me sinto jovem nesse novo plano.

Jorge Reigada