Se fosse feita uma enquete nas ruas com a pergunta: "Você tem a vida que pediu a Deus?", a maioria responderia com um sonoro "quá quá quá".
Martha Medeiros
Lógico que alguém desempregado, doente ou que tenha sido vítima de uma tragédia pessoal não estará muito entusiasmado.
Mas mesmo os que teriam motivos para estar (aqueles que possuem emprego, saúde e alguma relação afetiva, que é considerada a tríade da felicidade) também não têm achado muita graça na vida.
O mundo é habitado por pessoas frustradas com o próprio trabalho, pessoas que não estão satisfeitas com o relacionamento que construíram, pessoas saudosas de velhos amores, pessoas que gostariam de estar morando em outro lugar, pessoas que se julgam injustiçadas pelo destino, pessoas que não agüentam mais viver com o dinheiro contado, pessoas que gostariam de ter uma vida social mais agitada, pessoas que prefeririam ter um corpo mais em forma, enfim, os exemplos se amontoam.
Se formos espiar pelo buraco da fechadura de cada um, descobriremos que estão todos relativamente bem, mas poderiam estar melhor.
Por que não estão? Ora, a culpa é do governo, do papa, da sociedade, do capitalismo, da mídia, do inferno zodiacal, dos carboidratos, dos hormônios e demais bodes expiatórios dos nossos infernizantes dilemas. A culpa é de tudo e de todos, menos nossa.
Um amigo meu, psiquiatra, costuma dizer uma frase atordoante. Ele acredita que todas as pessoas possuem a vida que desejam. Podem até não estar satisfeitas, mas vivem exatamente do jeito que acham que devem. Ninguém as força a nada, nem o governo, nem o Papa, nem a mídia. A gente tem a vida que pediu, sim. Se ela não está boa, quem nos impede de buscar outras opções?
Quase subo pelas paredes quando entro neste papo com ele porque respeito muito as fraquezas humanas. Sei como é difícil interromper uma trajetória de anos e arriscar-se no desconhecido. Reconheço os diversos fatores - família, amigos, opinião alheia - que nos conduzem ao acomodamento.
Por outro lado, sei que este meu amigo está certo. Somos os roteiristas da nossa própria história, podemos dar o final que quisermos para nossas cenas. Mas temos que querer de verdade. Querer pra valer. É este o esforço que nos falta.
A mulher que diz que adoraria se separar mas não o faz por causa dos filhos, no fundo não quer se separar. O homem que diz que adoraria ganhar a vida em outra atividade, mas já não é jovem para experimentar, no fundo não quer tentar mais nada.
É lá no fundo que estão as razões verdadeiras que levam as pessoas a mudarem ou a manterem as coisas como estão. É lá no fundo que os desejos e as necessidades se confrontam. Em vez de nos queixarmos, ganharíamos mais se nadássemos até lá embaixo para trazer a verdade à tona. E então deixar de sofrer.
Sentido único: em frente
martha medeiros
Faço aniversário em agosto. Quando alguém, em julho, pergunta quantos anos eu tenho, já respondo com a idade nova. Não sei até quando terei essa coragem de me envelhecer antes da hora, mas, por enquanto, ainda arredondo pra cima. Com o ano novo, é a mesma coisa. Já estou em 2008 faz uns 20 dias. Coloquei-o em total vigência, é um ano em curso, mergulhei de cabeça nele. 2007 já era, já deu o que tinha que dar. Aliás, foi bom pra você?
Poucas pessoas viveram grandes feitos, grandes viagens ou grandes paixões. A maioria viveu o que podia ter vivido. Foi ao cinema e adorou (ou odiou) Tropa de Elite. Leu alguns livros. Curtiu alguns churrascos. Passou uns finais de semana fora da cidade. Reclamou da falta de dinheiro. Brigou com pais e irmãos. Fez as pazes com pais e irmãos. E depois brigou de novo.
Esperou em filas. Assistiu a pelo menos um show. Achou a Camila Pitanga linda em Paraíso Tropical. Reclamou muito do frio. Bebeu demais.
Pensou em casar. Pensou em descasar. Pensou em ter um cachorro.
"Ano da virada" é apenas força de expressão. A maioria de nós viveu um ano semelhante aos outros anos, salvo aqueles que foram colhidos por uma fatalidade - já não é fatalidade suficiente estar vivo?
Eu tive um ano muito bom e muito parecido com outros anos bons, inclusive nas partes ruins. Ainda assim, o melhor de chegar aqui, na saideira, é olhar para trás e concluir que o aconteceu de mais diferente foi eu mesma. Entrei de um jeito em 2007 e estou saindo outra, mesmo que eu pouco perceba essa alteração.
Recentemente ouvi alguém admitir que era uma pessoa melhor anos atrás. Duvido. Não se pode dizer isso pra valer. É muito desestimulante a gente acreditar que está involuindo. Quando olho para o meu passado, encontro uma mulher bem parecida comigo - por acaso, eu mesma - porém essa mulher sabia menos, conhecia menos lugares, menos emoções. Ora, por mais legal que a gente tenha sido, sempre fomos mais pobres em relação ao presente - e não estou falando de dinheiro, mas de vivência. Involuir é muito trabalhoso, exige que rejeitemos todos os aprendizados: quem faria essa maldade consigo mesmo? Evoluir é que está na ordem natural das coisas.
Portanto, tenho certeza de que em 2008 eu verei alguns filmes, assistirei pelo menos a um show, lerei alguns livros, sairei da cidade uns finais de semana, irei bater ótimos papos com os amigos, terei uns arranca-rabos em família e depois voltarei às boas, perderei tempo em filas e reclamarei do frio.
E mesmo sendo mais um ano como tantos outros - no caso de nenhuma fatalidade ocorrer - , sairei de 2008 melhor do que estou entrando, simplesmente porque é impossível desprezar conhecimentos, conversas, sensações - tudo o que parece repetitivo, mas que nos dá uma cancha necessária pra seguir adiante e viver melhor.
Então, feliz você novo, mesmo que pareça igualzinho.
Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d’água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando?" Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. "Vem aqui, tira esse sapato."
Martha Medeiros
Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido.
Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.
Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.
Ser feliz não é pecado
Martha Medeiros
A felicidade é desprezada por muita gente. A pessoa feliz sofre o preconceito de parecer uma pessoa vazia, sem conteúdo. No entanto, algo ela tem, senão não incomodaria tanto. Será que é porque ela nos confronta com nossa própria miséria existencial? É irritante ver alguém naturalmente linda, rica, simpática, inteligente, culta, talentosa, apaixonada e, ainda por cima, magra! Essa ninfa nunca ouviu falar em insônia, depressão, dívidas, mousse de chocolate?
Os felizes ainda estão associados ao padrão "comercial de margarina", portanto, costumam ser idealizados - e desacreditados. É como se fossem marcianos, só que não são verdes. Por isso, damos mais crédito aos angustiados, aos irônicos, aos pessimistas. Por não aparentarem possuir vínculo com essa tal felicidade, dão a entender que têm uma vida muito mais profunda. Você é feliz? Não espalhe, já que tanta gente se sente agredida com isso. Mas também não se culpe, porque felicidade é coisa bem diferente do que ser linda, rica, simpática e aquela coisa toda. Felicidade, se eu não estiver muito enganada, é ter noção da precariedade da vida, é estar consciente de que nada é fácil, é tirar algum proveito do sofrimento, é não se exigir de forma desumana e, apesar (ou por causa) disso tudo, conseguir ter um prazer quase indecente em estar vivo.
O psicanalista Contardo Calligaris certa vez disse uma frase que sublinhei: "Ser feliz não é tão importante, mais vale ter uma vida interessante". Creio que ele estava rejeitando justamente esta busca pelo kit felicidade, composto de meia dúzia de realizações convencionais. Ter uma vida interessante é outra coisa: é cair e levantar, se movimentar, relacionar-se com as pessoas, não ter medo de mudanças, encarar o erro como um caminho para encontrar novas soluções, ter a cara-de-pau de se testar em outros papéis - e humildade para abandoná-los se não der certo. Uma vida interessante é outro tipo de vida feliz: a que passou ao largo dos contos-de-fada. É o que faz você ter uma biografia com mais de 10 páginas.
Se você acredita que ser feliz compromete seu currículo de intelectual engajado, troque por outro termo, mas não cuspa neste prato. Embriague-se de satisfação íntima e justifique-se dizendo que é um louco, apenas isso. Como você sabe, os loucos sempre encontram as portas do céu abertas.
Rita Lee, que já passou por poucas e boas, mas nunca se queixou de não ter uma vida interessante, anos atrás musicou com Arnaldo Batista estes versos: "Se eles são bonitos, sou Alain Delon/ se eles são famosos/ sou Napoleão/se eles têm três carros/ eu posso voar". Também faço da Balada do Louco meu hino, que assim encerra: "Mais louco é quem me diz que não é feliz".
Eu sou feliz.
Sobre humilhação
Martha Medeiros
Durante uma vida a gente é capaz de sentir de tudo, são inúmeras as sensações que nos invadem, e delas a arte igualmente já se serviu com fartura. Paixão, saudades, culpa, dor-de-cotovelo, remorso, excitação, otimismo, desejo – sabemos reconhecer cada uma destas alegrias e tristezas, não há muita novidade, já vivenciamos um pouco de cada coisa, e o que não foi vivenciado foi ao menos testemunhado através de filmes, novelas, letras de música.
Há um sentimento, no entanto, que não aparece muito, não protagoniza cenas de cinema nem vira versos com freqüência, e quando a gente sente na própria pele, é como se fosse uma visita incômoda. De humilhação que falo.
Há muitas maneiras de uma pessoa se sentir humilhada. A mais comum é aquela em que alguém nos menospreza diretamente, nos reduz, nos coloca no nosso devido lugar - que lugar é este que não permite movimento, travessia?. Geralmente são opressões hierárquicas: patrão-empregado, professor-aluno, adulto-criança. Respeitamos a hierarquia, mas não engolimos a soberba alheia, e este tipo de humilhação só não causa maior estrago porque sabemos que ele é fruto da arrogância, e os arrogantes nada mais são do que pessoas com complexo de inferioridade. Humilham para não se sentirem humilhados.
Mas e quando a humilhação não é fruto da hierarquia, mas de algo muito maior e mais massacrante: o desconhecimento sobre nós mesmos? Tentamos superar uma dor antiga e não conseguimos. Procuramos ficar amigos de quem já amamos e caímos em velhas ciladas armadas pelo coração. Oferecemos nosso corpo e nosso carinho para quem já não precisa nem de um nem de outro. Motivos nobres, mas os resultados são vexatórios.
Nesses casos, não houve maldade, ninguém pretendeu nos desdenhar. Estivemos apenas enfrentando o desconhecido: nós mesmos, nossas fraquezas, nossas emoções mais escondidas, aquelas que julgávamos superadas, para sempre adormecidas, mas que de vez em quando acordam para, impiedosas, nos colocar em nosso devido lugar.
Sorte e escolhas bem feitas
Martha Medeiros
Pessoas consideradas inteligentes dizem que a felicidade é uma idiotice, que pessoas felizes não se deprimem, não têm vida interior, não questionam nada, são uns bobos alegres, enfim, que a felicidade anestesia o cérebro.
Eu acho justamente o contrário: cultivar a infelicidade é que é uma burrice. O que não falta nessa vida é gente sofrendo pelos mais diversos motivos: ganham mal, não têm um amor, padecem de alguma doença, sei lá, cada um sabe o que lhe dói.
Todos trazem uns machucados de estimação, você e eu inclusive. No que me diz respeito, dedico a meus machucados um bom tempo de reflexão, mas não vou fechar a cara, entornar uma garrafa de uísque e me considerar uma grande intelectual só porque reflito sobre a miséria humana. Eu reflito sobre a miséria humana e sou muito feliz, e salve a contradição.
Felicidade depende basicamente de duas coisas: sorte e escolhas bem feitas.
Tem que ter a sorte de nascer numa família bacana, sorte de ter pais que incentivem a leitura e o esporte, sorte de eles poderem pagar os estudos pra você, sorte por ter saúde. Até aí, conta-se com a providência divina. O resto não é mais da conta do destino: depende das suas escolhas.
Os amigos que você faz, se optou por ser honesto ou ser malandro, se valoriza mais a grana do que a sua paz de espírito, se costuma correr atrás ou desistir dos seus projetos, se nas suas relações afetivas você prioriza a beleza ou as afinidades, se reconhece os momentos de dividir e de silenciar, se sabe a hora de trocar de emprego, se sai do país ou fica, se perdoa seu pai ou preserva a mágoa pro resto da vida, esse tipo de coisa.
A gente é a soma das nossas decisões, todo mundo sabe. Tem gente que é infeliz porque tem um câncer. E outros são infelizes porque cultivam uma preguiça existencial. Os que têm câncer não têm sorte. Mas os outros, sim, têm a sorte de optar. E estes só continuam infelizes se assim escolherem.
SOU A MISS IMPERFEITA, MUITO PRAZER.
Martha Medeiros
UMA IMPERFEITA QUE FAZ TUDO O QUE PRECISA FAZER, COMO BOA PROFISSIONAL, MÃE E MULHER QUE TAMBÉM SOU: TRABALHO TODOS OS DIAS, GANHO MINHA GRANA, VOU AO SUPERMERCADO, DECIDO O CARDÁPIO, LEVO E TRAGO FILHOS DO COLÉGIO, ALMOÇO COM ELES, ESTUDO COM ELES, TELEFONO PARA MINHA MÃE TODAS AS NOITES, PROCURO AS AMIGAS, VIAJO, VOU AO CINEMA, PAGO MINHAS CONTAS, VOU AO DENTISTA, MAMOGRAFIA, CAMINHO MEIA HORA DIARIAMENTE, FAÇO REUNIÕES LIGADOS À MINHA PROFISSÃO E AINDA FAÇO ESCOVA TODA SEMANA - E AS UNHAS! E, ENTRE UMA COISA E OUTRA, LEIO LIVROS.
PORTANTO, SOU OCUPADA, MAS POR MAIS DISCIPLINADA QUE EU SEJA, APRENDI DUAS COISINHAS QUE OPERAM MILAGRES. PRIMEIRO: A DIZER NÃO. SEGUNDO: A NÃO SENTIR UM PINGO DE CULPA POR DIZER NÃO. CULPA POR NADA, ALIÁS.
CULPA ZERO.
QUANDO VOCÊ NASCEU, NENHUM PROFETA ENTROU NA MATERNIDADE E LHE APONTOU O DEDO DIZENDO QUE VOCÊ SERIA MODELO!
SEU PAI E SUA MÃE, ACREDITE, NÃO TIVERAM ESSA EXPECTATIVA: TUDO O QUE DESEJARAM É QUE VOCÊ NÃO CHORASSE MUITO E MAMASSE DIREITINHO.
VOCÊ É HUMILDEMENTE, UMA MULHER.
E, SE NÃO APRENDER A DELEGAR, A PRIORIZAR E A SE DIVERTIR, BYE-BYE VIDA INTERESSANTE. PORQUE VIDA INTERESSANTE NÃO É TER A AGENDA LOTADA, NÃO É TOPAR QUALQUER PROJETO POR DINHEIRO, NÃO É ATENDER A TODOS...
É TER TEMPO. TEMPO PARA FAZER NADA. TEMPO PARA FAZER TUDO. TEMPO PARA DANÇAR SOZINHA NA SALA.
TEMPO PARA SUMIR DOIS DIAS COM SEU AMOR.
TEMPO PARA UMA MASSAGEM. TEMPO PARA VER A NOVELA.
PARA PROCURAR UM ABAJUR NOVO PARA SEU QUARTO.
TEMPO PARA VOLTAR A ESTUDAR.
PARA ENGRAVIDAR.
TEMPO, PRINCIPALMENTE, PARA DESCOBRIR QUE VOCÊ PODE SER PROFISSIONAL SEM DEIXAR DE EXISTIR. EXISTIR, A QUE SERÁ QUE SE DESTINA? DESTINA-SE A TER O TEMPO A FAVOR, E NÃO CONTRA.
PORTANTO, NÃO QUERIA SAIR POR AI BATENDO RECORDS...
PENSE NISSO!
Sou a miss imperfeita, muito prazer....
Martha Medeiros
SOU A MISS IMPERFEITA, MUITO PRAZER.
UMA IMPERFEITA QUE FAZ TUDO O QUE PRECISA FAZER, COMO BOA PROFISSIONAL, MÃE E MULHER QUE TAMBÉM SOU: TRABALHO TODOS OS DIAS, GANHO MINHA GRANA, VOU AO SUPERMERCADO, DECIDO O CARDÁPIO, LEVO E TRAGO FILHOS DO COLÉGIO, ALMOÇO COM ELES, ESTUDO COM ELES, TELEFONO PARA MINHA MÃE TODAS AS NOITES, PROCURO AS AMIGAS, VIAJO, VOU AO CINEMA, PAGO MINHAS CONTAS, VOU AO DENTISTA, MAMOGRAFIA, CAMINHO MEIA HORA DIARIAMENTE, FAÇO REUNIÕES LIGADOS À MINHA PROFISSÃO E AINDA FAÇO ESCOVA TODA SEMANA - E AS UNHAS! E, ENTRE UMA COISA E OUTRA, LEIO LIVROS.
PORTANTO, SOU OCUPADA, MAS POR MAIS DISCIPLINADA QUE EU SEJA, APRENDI DUAS COISINHAS QUE OPERAM MILAGRES. PRIMEIRO: A DIZER NÃO. SEGUNDO: A NÃO SENTIR UM PINGO DE CULPA POR DIZER NÃO. CULPA POR NADA, ALIÁS.
CULPA ZERO.
QUANDO VOCÊ NASCEU, NENHUM PROFETA ENTROU NA MATERNIDADE E LHE APONTOU O DEDO DIZENDO QUE VOCÊ SERIA MODELO!
SEU PAI E SUA MÃE, ACREDITE, NÃO TIVERAM ESSA EXPECTATIVA: TUDO O QUE DESEJARAM É QUE VOCÊ NÃO CHORASSE MUITO E MAMASSE DIREITINHO.
VOCÊ É HUMILDEMENTE, UMA MULHER.
E, SE NÃO APRENDER A DELEGAR, A PRIORIZAR E A SE DIVERTIR, BYE-BYE VIDA INTERESSANTE. PORQUE VIDA INTERESSANTE NÃO É TER A AGENDA LOTADA, NÃO É TOPAR QUALQUER PROJETO POR DINHEIRO, NÃO É ATENDER A TODOS...
É TER TEMPO. TEMPO PARA FAZER NADA. TEMPO PARA FAZER TUDO. TEMPO PARA DANÇAR SOZINHA NA SALA.
TEMPO PARA SUMIR DOIS DIAS COM SEU AMOR.
TEMPO PARA UMA MASSAGEM. TEMPO PARA VER A NOVELA.
PARA PROCURAR UM ABAJUR NOVO PARA SEU QUARTO.
TEMPO PARA VOLTAR A ESTUDAR.
PARA ENGRAVIDAR.
TEMPO, PRINCIPALMENTE, PARA DESCOBRIR QUE VOCÊ PODE SER PROFISSIONAL SEM DEIXAR DE EXISTIR. EXISTIR, A QUE SERÁ QUE SE DESTINA? DESTINA-SE A TER O TEMPO A FAVOR, E NÃO CONTRA.
PORTANTO, NÃO QUERIA SAIR POR AI BATENDO RECORDS...
PENSE NISSO!
Strip-Tease
Martha Medeiros
Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender.
Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente.
Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.
Primeiro tirou a máscara: "Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto".
Então ela desfez-se da arrogância: "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."
Era o pudor sendo desabotoado: "Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou".
Retirava o medo: "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei".
Por fim, a última peça caía, deixando-a nua
"Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui".
E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.
Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo
Martha Medeiros
quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando
melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro
antes, durante e depois de te encontrar.
Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de
lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar.
Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é
covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque
sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência,
pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu
lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua
desajeitada e irrefletida permanência.
TEMPERAMENTOS E AFINIDADES
Martha Medeiros
O que é melhor para o relacionamento de um casal: que eles sejam iguais ou diferentes? Alguns apostam nos casais siameses: os dois corintianos, os dois petistas, os dois fumantes. Já outros preferem o antagonismo: ele Corinthians, ela Palmeiras; ele PT, ela PMDB; ele fumante, ela presidente da Associação de Combate ao Câncer de Pulmão.
Cada casal tem sua fórmula para dar certo, mas um pouco de equilíbrio ajuda a manter a estabilidade. O melhor parceiro é aquele que é bem diferente de nós e ao mesmo tempo muito parecido. Como? Diferente no temperamento, mas com mil afinidades.
Dois calmos vão pegar no sono muito rápido. Dois gulosos vão passar muito tempo no supermercado. Dois sedentários vão emburrecer na frente da tevê. Dois avarentos nunca terão um champanhe dentro da geladeira. Dois falantes jamais vão escutar um ao outro.
Temperamentos iguais se neutralizam. Temperamentos opostos é que provocam faísca. Ele é super responsável, paga as contas em dia e jamais ficou sem combustível. Ela, ao contrário, é zen. Sua música preferida é um mantra. Não sabe que dia é hoje, mas tem certeza que é abril. Brigas à vista? Que nada. Ela o acalma, ele a acelera, e os dois inventam o próprio ritmo. O que importa é que avançam na mesma direção.
Quando o projeto de vida é antagônico, aí é que a coisa complica. Ele adora o campo, odeia produtos industrializados e não perde o Globo Rural. Ela almoça e janta hamburger, tem horror a qualquer ser vivo com mais de duas patas e raspou suas economias para ver o show dos Rolling Stones em São Paulo, sua cidade modelo.
Ele odeia a instituição chamada família. Ela, ao contrário, não abre mão das macarronadas dominicais na casa da mãe. Ele não sobe num avião nem sob decreto, ela sonha em dar a volta ao mundo. Ele quer ter quatro filhos, ela ligou as trompas quando fez 18 anos. Ele é ativista político, faz doações para o partido e participa de sindicatos. Ela vota em quem estiver liderando nas pesquisas. Ele não admite televisão em casa, ela não admite menos de três: uma na sala, outra no quarto e uma de dez polegadas na cozinha. Pode dar certo? Pode, mas alguém vai ter que abrir mão dos seus sonhos.
Temperamentos diferentes provocam discussões contornáveis. Já a falta de afinidades pode reduzir um dos dois a mero coadjuvante da vida do outro. Alguém vai ter que ceder muito, e se não tiver talento para a submissão, vai sofrer.
Logo, não importa se ele chega sempre atrasado e você é a rainha da pontualidade, desde que ambos tenham a mesma visão de mundo e os mesmos valores. Esse é o prato principal de todo relacionamento. O resto é tempero.
TIRE-O DA CABEÇA
Martha Medeiros
14 de setembro de 1998
Você estava apaixonado por alguém e levou um fora. Acontece mais do que acidente de avião, desastre com romeiros e incêndio na floresta. Corações partidos é o grande drama nacional. O que fazer? Ainda não lançaram um manual de auto-ajuda que consiga eliminar nossa fossa, e dos amigos só podemos esperar uma frase, repetida à exaustão: tire esse cara da cabeça. Parece fácil. Mas alguém aí me diga: como é que se tira alguém de um lugar tão cheio de mistérios?
Gostar de alguém é função do coração, mas esquecer, não. É tarefa da nossa cabecinha, que aliás é nossa em termos: tem alguma coisa lá dentro que age por conta própria, sem dar satisfação. Quem dera um esforço de conscientização resolvesse o assunto: não gosto mais dele, não quero mais saber daquele prepotente, desapareça, um, dois e já!
Parece que funcionou. Você sai na rua para testar. Sim, você conseguiu: olhou vitrines, comeu um sorvete e folheou duas revistas sem derramar uma única lágrima. Até que começa a tocar uma música no rádio e desanda a maionese. Você não tirou coisa alguma da cabeça, ele ainda está lá, cantando baixinho pra você.
Táticas. Não ficar em casa relendo cartas e revendo fotos. Descole uma festa e produza-se para matar. Você bem que tenta, mas nada sai como o planejado. Os casais que se beijam ao seu lado são como socos no estômago. Você se sente uma retardada na pista de dança. Um carinha puxa papo com você e tudo o que ele diz é comparado com o que o seu ex diria, com o que o seu ex faria. Chamem o EccoSalva.
Livros. Um ótimo hábito, mas em vez de abstrair, você acha que tudo o que o escritor escreve é para você em particular, tudo tem semelhança com o que você está vivendo, mesmo que você esteja lendo sobre a erupção do Vesúvio que soterrou Pompéia.
Viajar. Quem vai na bagagem? Ele. Você fica olhando a paisagem pela janela do ônibus e só no que pensa é onde ele estará agora, sem notar que ele está ali mesmo, preso na sua mente.
Livrar-se de uma lembrança é um processo lento, impossível de programar. Ninguém consegue tirar alguém da cabeça na hora que quer, e às vezes a única solução é inverter o jogo: em vez de tentar não pensar na pessoa, esgotar a dor. Permitir-se recordar, chorar, ter saudade. Um dia a ferida cicatriza e você, de tão acostumada com ela, acaba por esquecê-la. Com fórceps é que a criatura não sai.
Tô nem aí pro futuro, pra celulite, tô nem aí para queixas datadas, tô nem aí pro telefone mudo, pros surdos, pro preço do combustível, tô nem aí se vai chover amanhã, se o presidente vai viajar, se vai voltar, tô nem aí.
Martha Medeiros
Pra discussão sobre maioridade penal, violência e barbárie, tô aí. Pro fim desta impunidade que incrementa a bestialização das nossas vidas, tô muito aí.
Tô nem aí pros especuladores da vida alheia, pro Schwarzenegger, pros índices de audiência, tô nem aí se fui convidada ou preterida, quem é a primeira da lista, a segunda, a última, tô nem aí pro novo namorado da Nicole, pras declarações da Luana, quem é gay ou não, com silicone ou sem, se é virgem, se é rodada.
Pros sentimentos das pessoas, tô aí. Para seus desejos e dúvidas, para seus medos e ousadias, tô aí. Para tudo aquilo que tem consistência, para tudo aquilo que nos comove, para o leve e o denso, para a alegria genuína e para o luto, tô aí, sim.
Tô nem aí para quantas calorias tem um bife, tô nem aí pra corrida espacial, se há vida após a morte, tô nem aí pro carro do ano, pra musa do próximo verão, pro gol mais bonito do domingo, pra manchete da capa de amanhã.
Para a grosseria e a falta de delicadeza que corrói as relações, tô aí. Para a brutalidade das pessoas, pro egoísmo, pra falta de educação e civilidade, para todos que possuem uma nuvem preta acima da cabeça e a carregam pra onde quer que vão, tô aí e me dói profundamente.
Tô nem aí pro que foi decidido na reunião de condomínio, na reunião de cúpula, na reunião de mães, nas reuniões que duram mais de dez minutos, tô nem aí pro salário dos outros, pras novas tendências, pra cotação das minhas ações no mercado externo.
Tô aí pra alguns, pros meus. Tô aí e estou aqui. Estou atenta. Estou dentro. Estou me vendo. Estou tentando. Estou querendo. Estou a postos só para o mínimo, o máximo. Para o que importa mesmo. Para o mistério. A verdade. O caos. O céu. O inferno. Essas coisas.
No mais, tô nem aí. Refrão e desabafo.
VAMPIROS
Martha Medeiros
Eu não acredito em gnomos ou duendes, mas vampiros existem. Fique ligado, eles podem estar numa sala de bate-papo virtual, no balcão de um bar, no estacionamento de um shopping. Vampiros e vampiras aproximam-se com uma conversa fiada, pedem seu telefone, ligam no outro dia, convidam para um cinema. Quando você menos espera, está entregando a eles seu rico pescocinho e mais. Este "mais" você vai acabar descobrindo o que é com o tempo.
Vampiros tratam você muito bem, têm muita cultura, presença de espírito e conhecimento da vida. Você fica certo que conheceu uma pessoa especial. Custa a se dar conta de que eles são vampiros, parecem gente. Até que começam a sugar você. Sugam todinho o seu amor, sugam sua confiança, sugam sua tolerância, sugam sua fé, sugam seu tempo, sugam suas ilusões. Vampiros deixam você murchinha, chupam até a última gota. Um belo dia você descobre que nunca recebeu nada em troca, que amou pelos dois, que foi sempre um ombro amigo, que sempre esteve à disposição, e sofreu tão solitariamente que hoje se encontra aí, mais carniça do que carne.
Esta é uma historinha de terror que se repete ano após ano, por séculos. Relações vampirescas: o morcegão surge com uma carinha de fome e cansaço, como se não tivesse dormido a noite toda, e você se oferece para uma conversa, um abraço, uma força. Aí ele se revitaliza e bate as asinhas. Acontece em São Paulo, Manaus, Recife, Florianópolis, em todo lugar, não só na Transilvânia. E ocorre também entre amigos, entre colegas de trabalho, entre familiares, não só nas relações de amor.
Doe sangue para hospitais. Dê seu sangue por um projeto de vida, por um sonho. Mas não doe para aqueles que sempre, sempre, sempre vão lhe pedir mais e lhe retribuir jamais.
Você pode ir embora e nunca mais ser a mesma.
Martha Medeiros
Você pode voltar e nada ser como antes.
Você pode até ficar, pra que nada mude, mas aí é você que não vai se conformar com isso.
Você pode sofrer por perder alguém.
Você pode até lembrar com carinho ou orgulho de algum momento importante na sua vida: formatura, casamento, aprovação no vestibular ou a festa mais linda que já tenha ido, mas o que vai te fazer falta mesmo, o que vai doer bem fundo, é a saudade dos momentos simples:
Da sua mãe te chamando pra acordar,
Do seu pai te levando pela mão,
Dos desenhos animados com seu irmão,
Do caminho pra casa com os amigos e a diversão natural
Do cheiro que você sentia naquele abraço,
Da hora certinha em que ele sempre aparecia pra te ver,
E como ele te olhava com aquela cara de coitado pra te derreter.
De qualquer forma, não esqueça das seguintes verdades:
Não faça nada que não te deixe em paz consigo mesma;
Cuidado com o que anda desabafando;
Conte até três (tá certo, se precisar, conte mais);
Antes só do que muito acompanhado;
Esperar não significa inércia, muito menos desinteresse;
Renunciar não quer dizer que não ame;
Abrir mão não quer dizer que não queira;
O tempo ensina, mas não cura.
Wandecy Medeiros:
Wandecy Medeiros
Átomo de hipopótamo
Não quero isentar-me de nenhuma responsabilidade e nem justificar meus acessos de fúria doméstica num gene doente, mas sempre que eu fui animal irascível fui bem compreendido depois. Nos momentos mais razoáveis da minha vida fui sempre questionado ou ignorado. Minha notável humanidade sempre foi desprezada em detrimento de qualquer defeito menor. Tudo que em mim cheira a anjo é sufocado pelo átomo de hipopótamo que certamente carrego.
Todas às vezes em que eu não explodi, implodi. Deve haver bons pedaços de mim em muito lugares e se alguém entender que tem um motivo para me assassinar, certamente se lembrará da minha frase já tão mastigada: “se eu morrer assassinado, quero dizer, de antemão, que o criminoso já está perdoado”. Eu não estou perdoando o criminoso no sentido dele se livrar da justiça dos homens e usar minha frase como defesa no tribunal do júri. Perdôo como um fator humano, valorando o chavão “aceitar aquilo que não se pode mudar”. Isso é mais um revide do que uma nobreza de alma.
Morrer nos dias de hoje é lucro, não prejuízo, diz a minha ironia. Ironia por ironia, pois jamais analisei a possibilidade de deixar de beber café depois do almoço. Tudo o que eu não sou depende de mim para continuar não sendo. Eu quis ser inteligente e comprei livros. Toda a minha filosofia barata comprei em caros enlatados. Quando externei o que pensei com a minha própria cabeça disseram-me que alguém já tinha desenvolvido o mesmo assunto com mais profundidade e capacidade; de tal forma que toda temática já estava acabada, comprimida, definida e guardada num disquete. Toquei fogo nos livros e me chamaram de ignorante, mas ninguém sentiu que a traça que corroía os livros estava me corroendo também. Ensinaram-me a etiqueta certa de como arrotar e hoje eu dou arrotos elegantes, aprendi também para que serve o carburador do carro e sou culto o suficiente para falar profundamente de qualquer assunto durante 30 segundos.
Wandecy Medeiros:
Eu estou apenas sendo irônico, Zezinho!
Testemunhei orgulho naquele que alimenta o mendigo. Bendito orgulho esse, conheço outro orgulho incapaz de tal gesto. É provável que na nossa melhor ação exista mesmo uma besta querendo aflorar. Louvada seja essa besta, conheço outras piores.
Eu não vasculhei o Apocalipse buscando encontrar sinais para condenar nenhum desenho animado ou história em quadrinhos. Nunca encontrei mistérios e sacrilégios em nenhum código de barra. Sempre que penso na minha pretensa superioridade em relação a Zezinho lembro do meu nariz entupido de algodão. Não querer humilhar ninguém é parte do meu mais profundo orgulho. Não desejo que ninguém morra, contanto que morra depois de mim – eu estou apenas sendo irônico, Zezinho!
Wandecy Medeiros:
E os vermes tinham razão...
Se um dia me tornarem um apreciado escritor e o meu túmulo receber a visita de acadêmicos e outros seres insossos, deixo registrado aqui, para essa gente escafandrista, minha total consciência do meu tempo e lugar. A cada livro eu melhoro em relação ao livro anterior. Não nasci lapidado. Comecei como lagarta e aos poucos torno-me borboleta. Um dia não conseguirei mais me superar porque a idade e o físico talvez me impeçam, mas aí alguém já terá rotulado algum pecado meu como pecado maior. Se os meus ossos forem testemunhas de algo maior que o meu corpo e mente testemunharam, então é nesses ossos que deposito toda minha esperança e propósito.
Wandecy Medeiros:
Um pé na virtude, outro pé no pecado
Andei do lado escuro das luas para ter o prazer de negar a supremacia da luz. Os melhores espíritos estavam no limite, com um pé na virtude e outro pé no pecado. O Sol é tão claro que não nos permite ver-mos outras belezas. Os espelhos confundem por mostrar demais. O que é claro é enfadonho; o que é escuro é misterioso e fascina. À noite posso ver a lua com mais poesia e menos ciência e toda beleza que eu extraio das estrelas necessita o seu quinhão de trevas.
Não quero parecer-me um poetóide contemplativo soltando loas ao “sorriso das estrelas e a beleza prateada da lua”. Vôo mais além. Busco a beleza plástica e por vezes já andei corrigindo o cenário. Eu vejo defeito no pedacinho de Universo que me é permitido enxergar. Vez por outra transfiro estrelas de um lugar para outro, imagino a lua com outras cores e corrijo o excesso de nuvens em algum lugar da pintura. Longe de mim dizer que Deus é um mau criador (embora eu tenha restrições em relação ao gambá e ao sapo), mas não é justo Ele nos apresentar o mesmo belo e enfadonho espetáculo milhões de vezes, enquanto Ele pode viajar para alfa do centauro e contemplar outras paragens. Já me cansei de ouvir o trovão depois de contemplar o relâmpago. O Universo e suas leis repetem a mesma ladainha de sempre, os mesmos compassos, a mesma cantilena, e o refrão só atesta a sábia observação do profeta: “Debaixo do Sol não há nada novo.”
Wandecy Medeiros:
Ora, Borges
Minha certeza é a morte, minha dúvida é a vida. Não sei se existe algo depois, mas sei que existe algo antes. Esse algo antes é “tomar sorvete, andar descalço, desalinhar os cabelos”, ora Borges. Viver não é coisa de budista ou cristão. Viver é coisa de moleque peralta. Sem quebrar vidraças, mas também sem perder tempo limpando-as todos os dias; sem atirar pedras nos transeuntes, só ameaçando. Pode-se conhecer o valor de um sapiens sapiens pelo número de pedras que ele ajunta e pode-se conhecer a grandeza de alguém pelo tipo de pedra que ele atira.
Ora, crianças não gostam de tiranos. Crianças não atirariam pedras nem numa Maria, quanto mais numa Madalena; nos doutores da lei, talvez. Viver é coisa de moleque. O adulto que não brinca morreu com o último suspiro da infância. Queremos mais Chaplins e nenhum Torquemada; mais duendes e menos lobisomens; mais “As Caçadas de Pedrinho” e nenhum “Mein Kampf”“; mais cirandinha e nenhum Helter Skelter; finalmente, mais palhaços e menos policiais.
O mundo só terá paz quando as crianças forem eleitas.
Wandecy Medeiros:
Do ponto de vista do Dragão
Olá, meus leitores. Volto a escrever para vocês três porque preciso dessa catarse. Preciso me libertar desse corpo de sangue e de desejos, dessa mente de álcool e filosofia e desse espírito de sonhos improváveis e realidades maçantes.
Não preciso do elogio de vocês, pois sei elogiar a mim mesmo: na cama consigo vencer os meus moinhos de vento e conquistar a minha doce dulcinéia. Dou-me ao delírio de pedir e conceder autógrafos a mim mesmo.
Crio minhas realidades a partir das fantasias de tudo o que não sou eu. Nos meus sonhos não me afogo, bebo o rio; não fujo do medo, engulo-o; não temo os castigos de Deus, inspiro-os. Para cada Deus que me mostram eu crio um diabo*, e o inverso, e até o inverso do inverso, acontece também.
Muitas vezes eu contemplei a montanha e isso era muito bom, mas só descobri o melhor quando decidi escalá-la. Deixei de infamar os bêbados: eles só desceram porque tentaram subir e ficaram em tal estado porque quando a fraqueza se ocupa com alguma coisa acaba fortalecendo o grilhão que a acorrenta. A bebida tem algo de sábio: só afoga o asno, mesmo que o ébrio seja um Poe.
O dragão é a realidade e defende a donzela enclausurada que sonha com um libertador terrível: homem, bípede, pensante, carnívoro e, como se não bastasse, príncipe. Ninguém escreveu contos medievais do ponto de vista do dragão. Invertemos os monstros. Não é correto um bicho de sete cabeças não aprisionar uma donzela. Ela escolhe sempre o príncipe que mata seu provedor porque compara a aparência externa de ambos os pretendentes. A donzela, ao escolher o príncipe, fortalece a sua própria fraqueza, e continua povoando esse mundo de príncipes que, depois de conquistar a amada, tornam-se os mais cruéis dragões.
*Antigamente eu só escrevia a palavra diabo com “D” maiúsculo, mas a imensidão de demônios que se vangloriavam disso ao me encontrar nas ruas levou-me a mudar de idéia.
Wandecy Medeiros:
Marketing
Tentei capturar alguma sutileza artística no rótulo de um pote de azeitonas e não pude deixar de perceber que quem o criou, projetou tão bem as azeitonas do desenho que se parecem mais apetitosas do que aquelas que posteriormente degustei. Só não destaquei aquele rótulo pelo medo que senti de tornar-me um colecionador.
Tudo virou arte e a embalagem nova da rapadura acaba de ganhar o prêmio de design do ano. Um engenhoso proprietário de supermercado já pode até cobrar 10% a mais ao vender os seus produtos para pagar o “imposto sobre embalagem artística”. O governo já deve estar de olho na beleza dos rótulos. Todos aqueles produtos supérfluos que enfeitam as prateleiras do supermercado proporcionam ao crítico de arte moderna grande satisfação. Um supermercado é uma estupenda galeria de arte. Ali você encontra arte impressionista, expressionista, cubista, realista, abstracionista e “nadista”. De tudo que um supermercado vende o que me parece de mais utilidade é o papel higiênico – ele sim é uma das mais sábias invenções da humanidade.
A mulher, que é o bicho que mais se enfeita também é o bicho que mais enfeita. Você encontra fêmeas carnudas no sabonete, na cerveja, no leite em pó, na caixa de biscoitos e no papel do chiclete. É comum se ouvir dizer que a mulher movimenta a economia, que ela compra tudo, gasta o que o marido tem com o necessário e o que ela ganha com o dispensável (ou será o contrário?). Não se coloca marmanjos em rótulos: salvo aquelas exceções em que pingüins com rostos femininos aparecem fazendo poses que envergonha a nós dez – os últimos machistas.
Os designers têm trabalhado tão bem os rótulos e fachadas que eu estou comprando sabonete somente pela beleza da embalagem e esqueci até que utilidade um sabonete pode ter. Outro dia me flagrei comendo um cartaz que anunciava a nova novidade em chocolate.
E por falar em papel higiênico a indústria tem trabalhado um modelo novo: é perfumado, suave e tão especial e avançado que você sente vontade de defecar só em vê-lo na prateleira.
Wandecy Medeiros:
Sensuais, lindas e a “França é a capital de Paris”
Inteligência é uma coisa masculina, embora exista no mundo 10 mulheres inteligentes e três geniais. Desconfio dos homens que elogiam a inteligência das mulheres – é mentira porque os homens sempre têm outras coisas a admirar na mulher que não seja a inteligência. São uns patifes: querem o hardware e elogiam o software. As mulheres não observam isso porque são mulheres...
Esse atual tipo de macho chamado mulher emancipada é o início de uma igualdade total que vem por aí: nós, os machos, e as mulheres emancipadas uniremos nossas forças para escravizar a mulher que não se “varonizou”, que não se “hominizou”.
Não posso dar ouvidos a uma mulher bonita, é um disparate para ela: só os olhos interessam. Com as mulheres o segredo é ser selvagem: delicadeza é frescura de mulher.
"Inaugure sua própria fórmula de ser feliz e patenteie. Você ainda vai ficar rica com os direitos autorais."
M artha Medeiros
(Homem, conheça-te a ti mesmo)
Haroldo de Medeiros
É virtuoso quado nos permetimos tomar conciência de nossa realidade e mais aida quando permetimos mudar.
(Psicologia da libertação)
***Pode me chamar***
thays medeiros de lima
Se um dia lhe der uma louca vontade de chorar...
Me chame..
Não lhe prometo fazer sorrir,
Mais posso chorar com vc!!!
Se um dia resolver fugir
Não se esquece de me chamar
Não lhe prometo pedir pra fikar
Mais posso fugir com vc!!
Se um dia lhe der uma louca vontade de ñ falar com ninguem
Me xame axim mesmo!!
Prometo fikar bom quieta
Mais.....
Se eu dai vc me xamar e eu ñ responder venah correndo ao meu encontro talvez esteja precisando de vc!!!
A estupidez do homem chega a me dar náuseas,e a imbecilidade da mulher me faz enxergar como eu sou.
Clarissa Guerra de Medeiros
A natureza é implacável! Se o cara nasce mané,cresce mané, morre mané.
Clarissa Guerra de Medeiros
A vida quando vivida sem intensidade vira uma mera existência sem graça e emoção.
Clarissa Guerra de Medeiros
Aprendo constantemente que a vida não é como eu quero que seja... que ela é regida por sentimentos,gostos,desgostos,amores fortes,paixões intensas e rancores. Não é só isso não.Deve haver outros poréns pra algumas pessoas serem tão tristes. Não é só como diz a bela música : É a vida,é bonita e é bonita ' .
Clarissa Guerra de Medeiros
As brigas são como o ensaio de um grande amor.
Júnior Medeiros
Certas coisas quando a gente descobre na hora errada causa muito impacto.
Clarissa Guerra de Medeiros