O coração da aranha
Yeda Prates Bernis
se desfaz em geometria
de seda e mandala.
Caminha a folha
Yeda Prates Bernis
morta,
pálio sobre formigas.
Lavadeiras de beira-rio.
Yeda Prates Bernis
Nas águas, boiando,
cores e cantos.
Nuvens inquietas
Yeda Prates Bernis
sobre o lago
zen.
Flauta,
Yeda Prates Bernis
cascata de pássaros
entornando cantos úmidos.
Um marcador japonês
Yeda Prates Bernis
no livro de hai-kais
? silencioso conluio.
O grito do grilo
Yeda Prates Bernis
serra ao meio
a manhã.
A pedra
Yeda Prates Bernis
nada pergunta ao rio
sobre água e tempo.
Ah! claro silêncio do campo,
Yeda Prates Bernis
marchetado de faiscantes
pigmentos de sons!
Gaivota. Espuma instável.
Yeda Prates Bernis
Líquida turquesa: inunda os olhos
a marinha na parede.
A jabuticabeira.
Yeda Prates Bernis
Através de líquida cortina
olhos negros espiam.
Sob o caramanchão
Yeda Prates Bernis
o céu,
noturna renda.
Pássaros em silêncio.
Yeda Prates Bernis
Noturna chave
tranca o dia.
Inúltil. A gaiola
Yeda Prates Bernis
nunca aprisiona
as penas do canto.
Recolhida em si mesma
Yeda Prates Bernis
a alma do figo
é flor em za-zen.
Sino de bronze
Yeda Prates Bernis
neblina em prata
ouro preto.
Jornal
Yeda Prates Bernis
sobre a mesa:
desjejum amargo.
Manchas de tarde
Yeda Prates Bernis
na água. E um vôo branco
transborda a paisagem.
Neblina sobre o rio,
Yeda Prates Bernis
poeira de água
sobre água.
Algo de dança
Yeda Prates Bernis
nas algas,
quase canção dos corais.
Sombra de remagem
Yeda Prates Bernis
sobre prata do açude,
trêmula de frio.
Sol. E nas asas
Yeda Prates Bernis
do pássaro morto,
secreta noite.
Noite no jasmineiro.
Yeda Prates Bernis
Sobre o muro,
estrelas perfumadas.
Branco instante
Yeda Prates Bernis
entre verde e azul:
garça ou pensamento.
Angelus. Dedos da brisa
Yeda Prates Bernis
nas teclas das folhas
adormecem os pássaros.