POEMA DOS OLHOS DA AMADA
Vinícius de Moraes
Vinícius de Morais
Ó minha amada
Que olhos os teus
São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe dos breus...
Ó minha amada
Que olhos os teus
Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus...
Ó minha amada
Que olhos os teus
Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas era
Nos olhos teus.
Ah, minha amada
De olhos ateus
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus.
É melhor viver do que ser feliz.
Vinicius de Moraes
Ai de quem ama
Vinícius de Moraes
Quanta tristeza
Há nesta vida
Só incerteza
Só despedida
Amar é triste
O que é que existe?
O amor
Ama, canta
Sofre tanta
Tanta saudade
Do seu carinho
Quanta saudade
Amar sozinho
Ai de quem ama
Vive dizendo
Adeus, adeus
Suavemente Maio se insinua
Vinicius de Moraes
Por entre os véus de Abril, o mês cruel
E lava o ar de anil, alegra a rua
Alumbra os astros e aproxima o céu.
Até a lua, a casta e branca lua
Esquecido o pudor, baixa o dossel
E em seu leito de plumas fica nua
A destilar seu luminoso mel.
Raia a aurora tão tímida e tão fragil
Que através do seu corpo transparente
Dir-se-ia poder-se ver o rosto
Carregado de inveja e de presságio
Dos irmãos Junho e Julho, friamente
Preparando as catástrofes de Agosto...
Pela luz dos olhos teus
Vinícius de Moraes
Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.
Quem não perde perdão não é nunca perdoado.
Vinícius de Moraes
"Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando
Vinícius de Moraes
chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de
grandes chuvas e das recordações da infância.
Preciso de um amigo para não enlouquecer, para contar o que vi de belo e triste
durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças d´água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim. Preciso de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já tenho um amigo.
Preciso de um amigo para parar de chorar. Para não viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas.
Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que me chame de amigo, para que eu tenha a consciência de que ainda vivo"
Mesmo que as pessoas mudem e suas vidas se reorganizem, os amigos devem ser amigos para sempre, mesmo que não tenham nada em comum, somente compartilhar as mesmas recordações.
Vinícius de Moraes
O sofrimento é o intervalo entre duas felicidades.
Vinícius de Moraes
Não fazemos amigos, reconhecemo-os.
Vinícius de Moraes
Se eu morrer antes de você não culpe a Deus
Vinícius de Moraes
Mas eu te possuirei mais que ninguém
Vinícius de Moraes
porque poderei partir
E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.
*ÁRIES*
Vinícius de Moraes
(de 21 de março a 20 de abril)
Branca, preta ou amarela
A ariana zela.
Tem caráter dominador
Mas pode ser convencida
E aí, então, fica uma flor:
Cordata... E nada convencida.
Porque o seu denominador
É o amor.
Nada renasce antes que se acabe. E o sol que desponta tem de anoitecer.
Vinícius de Moraes
Soneto do Amor como um Rio
Vinicius de Moraes
Este infinito amor de um ano faz
Que é maior que o tempo e do que tudo
Este amor que é real, e que, contudo
Eu já não cria que existisse mais.
Este amor que surgiu insuspeitado
E que dentro do drama fez-se em paz
Este amor que é o túmulo onde jaz
Meu corpo para sempre sepultado.
Este amor meu é como um rio; um rio
Noturno, interminável e tardio
A deslizar macio pelo ermo
E que em seu curso sideral me leva
Iluminado de paixão na treva
Para o espaço sem fim de um mar sem termo.
"A maior solidão é a do ser que não ama.
Vinicius de Moraes
A maior solidão é a do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha,
que se recusa a participar da vida humana.
A maior solidão
é a do homem encerrado em si mesmo,
no absoluto de si mesmo,
o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade de socorro.
O maior solitário é o que tem medo
de amar,
o que tem medo de ferir e ferir-se,
o ser casto de mulher,
do amigo, do povo, do mundo.
Esse queima como lâmpada triste,
cujo reflexo entristece também tudo em torno.
Ele é a angústia do mundo que reflete.
Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes da emoção, as quais são patrimônio de todos, e, encerrados em seu duro privilégio, semeia pedras do alto da sua fria
e desolada torre."
Vinicius de Moraes
Ternura
Vinícius de Moraes
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.
...Quanta tristeza
Vinícius de Moraes
Há nesta vida
Só incerteza
Só despedida...
Soneto da Mulher ao Sol
Vinícius de Moraes
Uma mulher ao sol - eis todo o meu desejo
Vinda do sal do mar, nua, os braços em cruz
A flor dos lábios entreaberta para o beijo
A pele a fulgurar todo o pólen da luz.
Uma linda mulher com os seios em repouso
Nua e quente de sol - eis tudo o que eu preciso
O ventre terso, o pêlo umido, e um sorriso
À flor dos lábios entreabertos para o gozo.
Uma mulher ao sol sobre quem me debruce
Em quem beba e a quem morda, com quem me lamente
E que ao se submeter se enfureça e soluce
E tente me expelir, e ao me sentir ausente
Me busque novamente - e se deixes a dormir
Quando, pacificado, eu tiver de partir...
Vinícius de Moraes
Nádegas é importantíssimo. Grave, porém, é o problema das saboneteiras. Uma mulher sem saboneteiras é como um rio sem pontes.
Vinícius de Moraes
Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia eu fiz o cimento da minha poesia.
Vinícius de Moraes
se eu morrer primeiro
Vinícius de Moraes
O que tinha de ser
Vinicius de Moraes
Porque foste na vida
A última esperança
Encontrar-te me fez criança
Porque já eras meu
Sem eu saber sequer
Porque és o meu homem
E eu tua mulher
Porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas com calma
Porque foste em minh'alma
Como um amanhecer
Porque foste o que tinha de ser
"... Deveria chamar-te claridade
Vinicius de Moraes
Pelo modo espontâneo
Franco e aberto
Com que encheste de cor meu mundo escuro..."
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! A alguns deles não procuro, basta saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida...mas é delicioso que eu saiba e sinta que eu os adoro, embora não declare e os procure sempre...
Vinícius de Moraes