Somos momentos transitórios de Deus.
Valter da Rosa Borges
O mundo é feito por nós.
Valter da Rosa Borges
Nós somos os nós do mundo
e em tudo estamos atados.
O eu sem nós não existe.
A morte é o eu desatado.
Os teólogos são os
Valter da Rosa Borges
ficcionistas de Deus.
São exímios contadores
de histórias,
que acreditam
serem verdadeiras.
No agora não há palavras:
Valter da Rosa Borges
o que se fala, passou.
A palavra é sempre eco
do que não existe mais.
A percepção é agora.
O pensamento é depois.
Fatos se tornam sonhos
Valter da Rosa Borges
e sonhos se tornam fatos.
Qual deles é o real?
O fato que já passou?
O sonho que ainda é sonho?
Saudade há que dura um corpo:
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é chaga para toda a vida.
Sangra quando lembrada
e nunca mais cicatriza.
Deus é a substância de tudo,
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e tudo é Sua manifestação.
A carne é sonho transitório.
Valter da Rosa Borges
Quando dormimos, voltamos
à nossa essência onírica.
Quando morrermos, seremos
o sonho definitivo
que, um dia, foi homem,
que pensava ser real.
Pensar além das galáxias
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e das fronteiras atômicas,
é o nosso único modo
de ser também infinito.
O povo é um rebanho sempre a procura de um pastor.Mas, quase sempre, não sabe escolher o pastor.
Valter da Rosa Borges
Há mais mistérios na mente do que em toda a extensão do universo.
Valter da Rosa Borges
Tudo parece indicar que a tendência do universo não é a manutenção do nomadismo do elétron, mas do seu aproveitamento no sistema operativo do átomo. A rigor, talvez, não existam elétrons livres na natureza, porém em trânsito de um sistema atômico para outro, na conformidade das leis de atração, que regem o microcosmo. O associacionismo parece ser a impulsão teleológica do universo. A unidade, a sua permanente meta. Uma unidade cada vez mais rica operacionalmente. Por isso, o elétron que, como unidade, tem um campo di-minuto, sente-se atraído a participar da unidade maior do átomo. Por sua vez, os átomos procuram associar-se a outros átomos, segundo as suas estruturas eletromagnéticas e afinidades químicas e, assim, sucessivamente, do átomo à molécula, da molécula à célula, numa escala cada vez mais complexa de associações, na síntese de individualidades cada vez mais estáveis, até atingir o fenômeno humano e - o que nos parece lógico - prosseguir além dele.
Valter da Rosa Borges
Onde houver ignorantes, milagres existirão.
Valter da Rosa Borges
Só os mortos não mudam.
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deserdados do futuro,
exilados do presente,
são imagens estéreis,
que não mais se reproduzem.
Só os vivos são férteis,
gerando suas imagens
constantemente no mundo.
Falas tanto de tua dor.
Valter da Rosa Borges
Queres ficar bom ou cultivar a dor?
A dor valorizada se transforma em vício.
Parece paradoxal, mas o cultivo da dor pode ser uma forma de preencher o tempo vazio.
Quem tem muito o que fazer, não tem tempo disponível para dedicar-se à dor.
Afinal, a dor nunca é boa companhia.
Livre pensador é aquele que está livre até de suas próprias idéias.
Valter da Rosa Borges
O sol de fim de tarde pouco aquece.
Valter da Rosa Borges
Em tudo sopra uma saudade fria.
Recolho os sonhos e recolho os fatos:
todos serão iguais no anoitecer.
O corpo nada mais é
Valter da Rosa Borges
do que pó organizado.
O homem é pó pensante.
Sai do pó e volta ao pó.
Aonde vai o pensamento
se a alma não for o pó?
Uma forma sutil de escravidão:
Valter da Rosa Borges
a opinião dos outros.
Se, um dia, soubermos
Valter da Rosa Borges
a verdade do que somos,
o que será do que somos?
O sonho morre quando vira fato.
Valter da Rosa Borges
O que foi fato se transforma em sonho.
O sonho nunca morre enquanto é sonho.
O fato morre em seu acontecer.
O mistério nasce na distância e morre na intimidade.
Valter da Rosa Borges
Não se compartilha a solidão. A solidão é indivisível.
Valter da Rosa Borges
Todo o perigo da dor
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não é seu próprio doer:
é a sua anestesia.
A dor que já não se sente,
nem em si e nem nos outros.
A dor que perdeu a voz.
A dor a que falta o espasmo.
A dor que não causa espanto.
A dor que não mais revolta.
A dor que nos fez eunuco
no amargo céu da impotência.
O apego é a maior escravidão.
Valter da Rosa Borges
Aquele que se apega, renunciou ao direito de liberdade.