Qual a medida da alma?
Valter da Rosa Borges
Em que espaço e em que tempo
a alma é encontrada?
Como morre o que não é
capaz de ser mensurado?
Como nasce o que não é
feito de matéria e tempo?
Mas, o que faz esse corpo
pensar que é alma imortal?
Deus é a única
Valter da Rosa Borges
realidade objetiva.
Tudo o mais é a
Sua subjetividade.
Quando alguém diz que viu Deus, falou com Ele, é o Seu enviado, por certo, alucinou ou está enganando as pessoas crédulas, que constituem a grande maioria da humanidade.
Valter da Rosa Borges
A ignorância é também uma das causas da tranquilidade.
Valter da Rosa Borges
Toda biografia é, na verdade, uma sucessão de pessoas semelhantes e, em outros momentos, também diferentes.
Valter da Rosa Borges
Um dia, morreremos
Valter da Rosa Borges
(ou acordaremos?).
E, se acordarmos,
o que seremos?
Deus é a unidade
Valter da Rosa Borges
nas dualidades.
Quem prefere um de seus pólos,
recebe um Deus mutilado.
Nem sempre a velhice torna as pessoas mais suaves como acontece com os vinhos envelhecidos.
Valter da Rosa Borges
Um dia, ficamos adultos
Valter da Rosa Borges
e os nossos brinquedos mudaram.
Ninguém pode viver sem seus brinquedos.
Quando homem,
Valter da Rosa Borges
Deus pergunta o por quê
de todas as coisas,
mas não encontra resposta.
Quando Deus,
Ele sabe a resposta,
mas não tem
a quem comunicá-la.
Deus está além do lógico
Valter da Rosa Borges
e do paradoxo.
Ele é o mutável
e o imutável.
Há muitos mundos possíveis.
Valter da Rosa Borges
Há muitos de nós possíveis:
só esperam acontecer.
Falamos do que não sabemos,
Valter da Rosa Borges
porque a morte nos espanta
e dói a mortalidade.
O que é ser imortal?
O mundo é o que tecemos
Valter da Rosa Borges
juntos todos os dias.
Tecelões e tessitura,
somos mãos e somos linhas.
O mundo é carne e tecido,
seres, fatos e coisas
vestindo o nu existir.
Enquanto penso,
Valter da Rosa Borges
fico pênsil
entre o sonho e o real.
Nem o ácido do tempo dissolve a dura saudade em que o amor se tornou.
Valter da Rosa Borges
Termos inimigos é inevitável. Porém depende de nós não ser inimigo de ninguém.
Valter da Rosa Borges
Não façamos da máquina
Valter da Rosa Borges
o sucedâneo do humano
ou seu mutante metálico.
Falta-lhe o senso do acaso,
do lúdico e do absurdo,
a convivência do equívoco.
O homem é o imprevisível,
o orgasmo do paradoxo,
e a aversão às repetências,
que é a essência do mecânico.
A máquina é a ordem sólida
oposta à fluidez do orgânico.
A solidão procurada.
Valter da Rosa Borges
A solidão consentida.
A solidão imposta
e aberta como ferida.
A solidão com tantos.
A solidão sem ninguém .
A solidão, companhia
para o mal e para o bem.
A solidão que estimula.
A solidão que amofina.
A solidão construção.
A solidão só ruína.
O que é um borrão
Valter da Rosa Borges
senão uma forma sem nome.
Não tem certidão geométrica.
É uma forma sem forma.
Um transgressor chamado amorfo.
Mas, acontece que a vida
é cheia de borrões
e não dos entes geométricos,
que o homem inventou.
A Terra vai em direção a Vega.
Valter da Rosa Borges
Mas, para onde Vega vai?
Tudo gira e nada cai
e, se cair, onde cai?
E, em girando, tudo anda,
para onde tudo vai?
Se o universo é infinito,
onde o chão e onde o teto,
onde as paredes do mundo?
Envelhecer é cultivar adeuses
Valter da Rosa Borges
e empobrecer em cada despedida.
Os afetos morrendo com os mortos.
Lembrar é praticar necromancia.
O que fazer de tudo o que já foi,
mas fica latejando em nossa vida?
É o incurável câncer da saudade:
o que passou matando o ainda vivo.
O tempo é a eternidade
Valter da Rosa Borges
que se perdeu de si mesma.
Procuramos Deus no Cosmos.
Valter da Rosa Borges
Procuramos Deus no átomo.
Onde o seu esconderijo?
A verdade é uma força. Mas, sempre há o perigo de a força se disfarçar em verdade.
Valter da Rosa Borges