O que será ser só
Chico Buarque
Quando outro dia amanhecer?
Será recomeçar?
Será ser livre sem querer?
Oh, pedaço de mim
Chico Buarque
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Por favor
Chico Buarque
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota dágua
Quando amo
Chico Buarque
Eu devoro
Todo o meu coração
Eu odeio
Eu adoro
Numa mesma oração
Quando nasci veio um anjo safado
Chico Buarque
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim
Que saudade é o pior tormento, é pior do que o esquecimento, é pior do que se entrevar...
Chico Buarque
O que será (À flor da pele)
Chico Buarque
O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita
O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite
O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo
Quem me vê sempre parado, distante
Chico Buarque
Garante que eu não sei sambar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Chico Buarque
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem
E também pra me perpetuar em tua escrava
Que você pega, esfrega, nega
Mas não lava
Quero inventar o meu próprio pecado
Chico Buarque
Quero morrer do meu próprio veneno.
Será que ela é moça?,
Chico Buarque
Será que ela é triste?,
Será que é o contrário??
Tem dias que a gente se sente
Chico Buarque
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
Vou colecionar mais um soneto
Chico Buarque
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração