dos ramos altos no rio
Rogério Martins
caem suavemente
farrapos do sol poente
a estação amua
Rogério Martins
fumo de castanhas
à esquina da rua
a mó do poente
Rogério Martins
mói fogo
sobre os campos
um gaio levanta voo
Rogério Martins
ficamos sós
o pinhal e eu
piar de lugre
Rogério Martins
nos soutos crepusculares
insondável mansidão
ao lusco-fusco
Rogério Martins
uma lufada faz tremer
o olho azul do charco
ao voltar dos campos
Rogério Martins
abro a porta
e a lua entra comigo
um tufo de algodão
Rogério Martins
flutuando na água
uma nuvem
ribeira seca
Rogério Martins
nem um sopro
as cigarras crepitam
relâmpago de verão
Rogério Martins
grito de um mocho
nas oliveiras
ao pé da janela
Rogério Martins
dormimos no chão
eu e o luar
no poço da quinta
Rogério Martins
o balde traz-me
estilhaços da lua
neve tão branca
Rogério Martins
à minha porta
onde pôr os pés?
as pálpebras da noite
Rogério Martins
fecham-se
sem ruÃdo
passeio pelos campos
Rogério Martins
cerejas no outono?
bagas de espinheiro
o rio pesado
Rogério Martins
corre sob a ponte
lua de chumbo
folhas escuras
Rogério Martins
tremem na brisa
à contra-lua
não tenho paÃs
Rogério Martins
nem casa nem riqueza
e como me sinto bem!
nas ramagens embaciadas
Rogério Martins
o sol
abre frestas
passeio de madrugada
Rogério Martins
os meus sapatos
empapados de orvalho
os teus cabelos
Rogério Martins
por travesseiro
como dormirei?
manhã de verão
Rogério Martins
cheiro fresco
a erva cortada
a aurora
Rogério Martins
estende a rede de bruma
pelos vales
no lago
Rogério Martins
um pato
toma banho de chuveiro
as rosas em botão
Rogério Martins
as raparigas
perdem o sono