A chuva parou -
Paulo Franchetti
Na voz do pássaro,
Que frio!
Entre as antenas
Paulo Franchetti
E as casas todas iguais -
Quaresmeiras!
Chove de novo -
Paulo Franchetti
As vacas e os carros
Devagar, em fila indiana.
Tão pequena
Paulo Franchetti
E desbotada de chuva
A casa da infância!...
Mesmo com fome,
Paulo Franchetti
Não se apressa como as outras
A galinha manca.
A chuva passou.
Paulo Franchetti
A noite um instante volta
A ser fim-de-tarde.
Sob a névoa fria,
Paulo Franchetti
O cemitério da vila
Cercado de ciprestes
Manhã de frio -
Paulo Franchetti
Com o agasalho, visto
Saudades de minha mãe.
Os pássaros cantam
Paulo Franchetti
Monotonamente -
Feriado do ano-novo.
Mesmo o velho eucalipto
Paulo Franchetti
Parece feliz -
Névoa da manhã.
Ao longo da estrada:
Paulo Franchetti
"A próxima descida trará
Mais quaresmeiras em flor!"
Em Cuiabá
Paulo Franchetti
Suando e matando mosquitos,
Que cruel zazen!
A igreja branca
Paulo Franchetti
Sufocada entre eucaliptos -
Aldeia de minha mãe...
Limpo o rosto na camisa -
Paulo Franchetti
O vento começa a trazer
As primeiras gotas de chuva
O chofer de táxi -
Paulo Franchetti
Meu pai também, nos dias quentes,
Assobiava assim.
De uma casa branca
Paulo Franchetti
No meio da encosta da montanha
Sobe um fio de fumaça.
Parou de chover:
Paulo Franchetti
No ar lavado, as árvores
Parecem mais verdes.
Tarde de inverno:
Paulo Franchetti
Sobe do fundo dos vales
A sombra das montanhas.
Ruído de chinelos
Paulo Franchetti
No quintal do lado -
Mas que calor...
Tardes de Cuiabá:
Paulo Franchetti
Garças e periquitos
Voando pra noroeste.
Sempre do mesmo lado,
Paulo Franchetti
O dia todo e a noite inteira,
O vento da montanha.
Perfume de pinho -
Paulo Franchetti
Nascem, no fumante convicto,
Firmes projetos de saúde.
Crescem mais pêlos
Paulo Franchetti
Nas minhas orelhas -
Mais um ano chega ao fim...
A velha ponte -
Paulo Franchetti
No pó ajuntado entre as tábuas,
Brota o capim.
Manhã de frio.
Paulo Franchetti
Se fosse menino escrevia
Meu nome no vidro.