O tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada, o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções.
Martha Medeiros
O tempo não é uma medida. Um ano não conta, dez anos não representam nada. Ser artista não significa contar, é crescer como a árvore que não apressa a sua seiva e resiste, serena, aos grandes ventos da primavera, sem temer que o verão possa não vir. O verão há de vir. Mas só vem para aqueles que sabem esperar, tão sossegados como se tivessem na frente a eternidade.
Rainer Maria Rilke
O PERMANENTE E O PROVISÓRIO
Martha Medeiros
O casamento é permanente, o namoro é provisório.
O amor é permanente, a paixão é provisória.
Uma profissão é permanente, um emprego é provisório.
Um endereço é permanente, uma estada é provisória.
A arte é permanente, a tendência é provisória.
De acordo? Nem eu.
Um casamento que dura 20 anos é provisório. Não somos repetições de nós mesmos, a cada instante somos surpreendidos por novos pensamentos que nos chegam através da leitura, do cinema, da meditação. O que eu fui ontem, anteontem, já é memória. Escada vencida degrau por degrau, mas o que eu sou neste momento é o que conta, minhas decisões valem pra agora, hoje é o meu dia, nenhum outro.
Amor permanente... como a gente se agarra nesta ilusão. Pois se nem o amor pela gente mesmo resiste tanto tempo sem umas reavaliações. Por isso nos transformamos, temos sede de aprender, de nos melhorar, de deixar pra trás nossos imensuráveis erros, nossos achaques, nossos preconceitos, tudo o que fizemos achando que era certo e hoje condenamos. O amor se infiltra dentro da nós, mas seguem todos em movimento: você, o amor da sua vida e o que vocês sentem. Tudo pulsando independentemente, e passíveis de se desgarrar um do outro.
Um endereço não é pra sempre, uma profissão pode ser jogada pela janela, a amizade é fortíssima até encontrar uma desilusão ainda mais forte, a arte passa por ciclos, e se tudo isso é soberano e tem valor supremo, é porque hoje acreditamos nisso, hoje somos superiores ao passado e ao futuro, agora é que nossa crença se estabiliza, a necessidade se manifesta, a vontade se impõe – até que o tempo vire.
Faço menos planos e cultivo menos recordações. Não guardo muitos papéis, nem adianto muito o serviço. Movimento-me num espaço cujo tamanho me serve, alcanço seus limites com as mãos, é nele que me instalo e vivo com a integridade possível.
Canso menos, me divirto mais, e não perco a fé por constatar o óbvio: tudo é provisório, inclusive nós.
O único silêncio que perturba,é aquele que fala. E fala alto. É quando ninguém bate à nossa porta,não há emails na caixa de entrada, não há recados na secretária eletrônica e, mesmo assim, você entende a mensagem.
Martha Medeiros
Odeio ver alguém concordar comigo em algumas coisas por que só assim eu tenho a certeza de que estou redondamente errada.
Clarissa Guerra de Medeiros
Oh doce e linda noite!
Yago Medeiros
Tira de mim tudo que eu não posso ter
Tira de mim essa paixão avassaladora
Tira do meu peito tanto amor preso
Tira da minha cabeça a alegria infame...
...De ser feliz.
Oh doce e linda noite!
Na chegada do Sol leva-me contigo
Pra onde não haja luz
Onde meus olhos não contemplem
Nada mais que o silêncio da escuridão
Oh doce e linda noite!
Tira de mim tanta inspiração
Tanta vontade de viver
Leva minha vida
Deixa-me vegetar nesse “mundinho”
Alimentar minha alma de sorrisos...
Sorrisos distantes que doam menos
Tira de mim essa harmonia de sentimentos...
Os confundam...
Oh minha amada
Yago Medeiros
Estou cheio de tanta tolice
Eu acho que vou explodir
Quando o que eu mais quero
É eclodir dessas cinzas
Que formam substancialmente
O meu corpo ausente!
O sofrimento, excentuando-se o que traz de dor, tem um certo glamour, é cinematográfico.
Martha Medeiros
Cena 1: você atravessa a madrugada escutando músicas antigas, fumando dois maços e revendo fotos.
Cena 2: você se trancafia no banheiro, senta sobre a tampa do vaso sanitário e dissolve-se de tanto chorar.
Cena 3: você se revira na cama sem conseguir pregar o olho, pensando, lembrando, doendo.
Cena 4: você caminha por uma rua da cidade, sem rumo, parando para uma cerveja num boteco estranho, onde ninguém lhe conhece ¿ que bom ser invisível.
Se é pra sofrer, que seja sozinho, onde seu rosto possa estampar desalento, inchaços, nariz vermelho, olhar perdido, boca crispada. Se é pra sofrer, que o corpo possa verter, vergar, amolecer. Se é pra sofrer, que possa ser descabelado, que possa ser de pés descalços, que possa ser em silêncio.
Que os demônios levem pro inferno aquele que bate à nossa porta bem no meio da nossa fossa, aquele que telefona bem no auge das nossas lágrimas, aquele que nos puxa para uma festa obrigatória. Malditos todos aqueles com quem não podemos compartilhar nossa dor, e nos obrigam a fingir que nada está se passando dentro da gente.
Disfarçar um sofrimento é trabalho de Hércules. Um prêmio para todos aqueles que conseguem fazer com que os outros não percebam sua falta de ânimo nos momentos em que ânimo é tudo o que esperam de nós: nas ceias de Natal, jantares em família, reuniões de trabalho. Você não quer estar ali, quer estar em Marte, quer estar em qualquer lugar onde não seja obrigado a sorrir.
Há sempre o momento de pedir ajuda, de se abrir, de tentar sair do buraco. Mas, antes, é imprescindível passar por uma certa reclusão. Fechar-se em si, reconhecer a dor e aprender com ela. Enfrentá-la sem atuações. Deixar ela escapar pelo nariz, pelos olhos, deixar ela vazar pelo corpo todo, sem pudores. Assim como protegemos nossa felicidade, temos também que proteger nossa infelicidade. Não há nada mais desgastante do que uma alegria forçada. Se você está infeliz, recolha-se, não suba ao palco. Disfarçar a dor é dor ainda maior.
O tempo perdoa tudo
Martha Medeiros
Se alguém mata uma pessoa e consegue escapar da polícia,mantendo-se
fora do alcance da lei por um longo período,o crime prescreve.
Vinte anos depois do delito cometido,fica extinguida a punibilidade do criminoso por o estado não tê- lo julgado e condenado em tempo hábil.Agora pense bem:se até a Justiça admite que depois de os ânimos serenarem ninguém precisa mais de castigo,talvez a gente também devesse suspender a pena daqueles que cometeram crimes contra o nosso coração.
Mágoas entre pais e filhos,por exemplo.Não tem nada mais complicado do que família,você sabe.Amor à parte,os desentendimentos são generalizados,e as vezes uma frustração infantil segue pertubando a gente até a idade adulta.Seu pai nunca lhe deu um abraço?É um crime fazer isso com a criança,mas é preciso prescrevê-lo.Vinte anos depois,não da para continuar usando essa justificativa para explicar por que você usa drogas ou por que não consegue ser afetuoso com os outros.Cresça e perdoe.
Você jurou que nunca mais iria falar com aquele seu amigo que lhe
dedurou no colégio?Eu também acho que duderagem é falta de caráter,e você teve toda a razão de ficar danado da vida.Masquanto tempo faz isso?O cara agora está jogando futebol no seu time,tem sido um companheirão,e você segue não baixando a guarda por causa daquela molecagem do passado.Releve e chame o ex-inimigo para tomar uma cerveja,por conta dos novos tempos.
Dureza,agora:ele foi o amor da sua vida. Chegaram a noivar. Você já estava comprando o enxoval quando o cara terminou tudo. Por telefone. Não deu explicação: rompeu e desligou. Na mesma semana seguinte foi visto enrabichado numa bisca. Você deseja ardentemente que ambos caiam numa piscina lotado de piranhas famintas. Apoiado. Mas faz quanto tempo isso ? Você já casou, ele já casou, aquela bisca não durou nem duas semanas. Por que ainda fingir que não o vê quando o encontra num restaurante ? É bandeira demais ficar tanto tempo magoada. E a tal superioridade, onde anda ? Dê um abaninho pra ele.
Se quem estrangula e degola recebe o perdão da sociedade depois de duas décadas, os pequenos criminosos do cotidiano também merecem que a passagem do tempo atenue seus delitos. Não cultive rancor. Se não quiser mais conviver com aquele que lhe fez mal, não conviva, mas não fique até hoje armando estratégias de vingança. Perdoe. Vinte anos depois, bem entendido.
Texto do livro NON-STOP, dezembro de 1999
Olhar perspicaz
Maria Aparecida Giacomini Dóro
Olhar que desnuda
a dor mascarada
Se aceita, redime
Se rejeita, condena
Mesmo assim, desumano,
é tão diferente
do olhar ausente...
Olho pro céu e me imagino sentada na lua.. será que ela é de queijo como eu pensava quando era criança?
Clarissa Guerra de Medeiros
onde voce esta talvez esteja na linha do orizonte ,,,,,,quem sabe em meu coraçaõ
maria lucia g p
Os passarinhos sabem onde encontrarem água.
Maria Teresa O M Cambronio
Os insetos bebem-a numa gota de orvalho...
E o homem polui-a e disperdiça-a!
Os professores deveriam ter sido para nós os intermediários, os guias para o mundo da maturidade, para o mundo do trabalho, do dever, da cultura e do progresso e para o futuro.
Eric Maria Remarque
Os sinos tocam.
Andressa e Maria Clara
O vento sopra.
O céu é azul.
E minha amiga é legal.
Ouvi falar,Loucura vem de berço.
Clarissa Guerra de Medeiros
Passar pela vida sem deixar centelhas de amor e esperança no coração da humanidade é ter vivido em vão; é ter se consumido nas trevas da própria aniquilação.
Maria Aparecida Giacomini Dóro
Pelo o que me diz respeito
Martha Medeiros
Eu sou feita de dúvidas
O que é torto, o que é direito
Diante da vida
O que é tido como certo, duvido
E não minto pra mim
Vou montada no meu medo
E mesmo que eu caia
Sou cobaia de mim mesma
No amor e na raiva
Vira e mexe me complico
Reciclo, tô farta, tô forte, tô viva
E só morro no fim
E pra quem anda nos trilhos cuidado com o trem
Eu por mim já descarrilho
E não atendo a ninguém
Só me rendo pelo brilho de quem vai fundo
E mergulha com tudo
Pra dentro de si
Lá do alto do telhado pula quem quiser
Só o gato que é gaiato
Cai de pé...
OBRIGADO POR INSISTIR
Martha Medeiros
Até o mais seguro dos homens e a mais confiante das mulheres já passaram por um momento de hesitação, por dúvidas enormes e dúvidas mirins, que talvez nem merecessem ser chamadas de dúvidas, de tão pequenas. Vacilos, seria melhor dizer. Devo ir a este jantar, mesmo sabendo que a dona da casa não me conhece bem? Será que tiro o dinheiro do banco e invisto nesta loucura? Devo mandar um e-mail pedindo desculpas pela minha negligência? Nesta hora, precisamos de um empurrãozinho. E é aos empurradores que dedico esta crônica, a todos aqueles que testemunham os titubeios alheios e dizem: vá em frente!
“Obrigada por insistir para que eu pintasse, que eu escrevesse, que eu atuasse, obrigada por perceber em mim um talento que minha autocrítica jamais permitiria que se desenvolvesse.”
“Obrigada por insistir para que eu fosse visitar meu pai no hospital, eu não me perdoaria se não o tivesse visto e falado com ele uma última vez, eu não teria ido se continuasse sendo regida apenas pela minha teimosia e orgulho.”
“Obrigada por insistir para que eu conhecesse Veneza, do contrário eu ficaria para sempre fugindo de lugares turísticos e me considerando muito esperta, e com isso teria deixado de conhecer a cidade mais surreal e encantadora que meus olhos já viram.”
“Obrigada por insistir para que eu fizesse o exame, para que eu não fosse covarde diante das minhas fragilidades, só assim pude descobrir o que trago no corpo para tratá-lo a tempo. Não fosse por você, eu teria deixado este caroço crescer no meu pescoço e me engolir com medo e tudo.”
“Obrigada por insistir para eu voltar pra você, para eu deixar de ser adolescente e aceitar uma vida a dois, uma família, uma serenidade que eu não suspeitava. Eu não sabia que amava tanto você e que havia lhe dado boas pistas sobre isso, como é que você soube antes de mim?”
“Obrigada por insistir para que eu deixasse você, para que eu fosse seguir minha vida, obrigada pela sua confiança de que seríamos melhores amigos do que amantes, eu estava presa a uma condição social que eu pensava que me favorecia, mas nada me favorece mais do que esta liberdade para a qual você, que me conhece melhor do que eu mesma, apresentou-me como saída.”
“Obrigada por insistir para que eu não fosse àquela festa, eu não teria agüentado ver os dois juntos, eu não teria aturado, eu não evitaria outro escândalo, obrigada por ficar segurando minha mão e ter trancado minha porta.”
“Obrigada por insistir para eu cortar o cabelo, obrigada por insistir para eu dançar com você, obrigada por insistir para eu voltar a estudar, obrigada por insistir para eu não tirar o bebê, obrigada por insistir para eu fazer aquele teste, obrigada por insistir para eu me tratar.”
Em tempos em que quase ninguém se olha nos olhos, em que a maioria das pessoas pouco se interessa pelo que não lhe diz respeito, só mesmo agradecendo àqueles que percebem nossas descrenças, indecisões, suspeitas, tudo o que nos paralisa, e gastam um pouco da sua energia conosco, insistindo.
Ok: A gente quer encontrar alguém bonito, inteligente e espirituoso, alguém que não seja muito exibido nem vaidoso demais, que tenha um papo cativante e esteja parado na nossa. Mas e se beijar mal? Sem chance. Tem que beijar bem, tanto eles quanto elas.
Martha Medeiros
Quando escuto alguém dizendo que Fulano beija bem e Sicrano beija mal, quase volto a acreditar em histórias da carochinha. Beijo é a sorte de duas bocas entrarem em comunhão. Pode um Rafael beijar uma Ana e ser uma explosão vulcânica, e o mesmo Rafael beijar uma Cristina e ser um encontro labial de dar sono. Pessoas não beijam bem ou mal: casais se beijam bem ou mal. Há sempre dois envolvidos.
A definição de um beijo bom é que pode ser questionável, mas quem está no meio do entrevero quase sempre reconhece o ósculo sublime.
Beijo bom é beijo decidido, mesmo que a decisão seja levá-lo devagar ao longe.
Beijo bom é beijo molhado, em que os beijadores doam tudo o que há para doar na cavidade bucal, sem assepsia, entrega absoluta.
Beijo bom é beijo sem pressa, que não foi condenado pelos ponteiros do relógio, que se perde em labirintos escuros já que, é bom lembrar, estamos de olhos fechados.
Beijo bom é beijo que você não consegue interromper nem que quisesse.
Beijo bom é beijo que não permite que seu pensamento tome forma e voe para outro lugar.
E, por fim, beijo bom é o beijo que está sendo dado na pessoa por quem você é completamente apaixonada.
Existe beijo ruim? Existe. Beijo sem alma, beijo educado demais, beijo cheio de cuidados, beijo curto, beijo seco. Mas uma coisa é certa: precisa dois para torná-lo frio ou torná-lo quente. Todo mundo pode beijar bem, basta nossa boca encontrar com quem.
Pensamentos só saem nos meus piores momentos. Nos dias doentes que tenho, na dor do coração, no pensar, no não agir por medo ou simplesmente por não pensar que pode.
Clarissa Guerra de Medeiros
penso o que sou
lala maria
sou o que penso
Perdi tudo aquilo que eu achava que era bom.
Clarissa Guerra de Medeiros
Perdi amigos, perdi dinheiro, perdi pais, perdi irmãos, minhas coisas...
Perdi meus avós, que tanto brincaram comigo na infância.
Perdi aquela tia que fazia a diferença e aquele primo que era sempre meu inimigo número 1.
Perdi tudo o que eu achava que daria certo.
Perdi aquele amor avassalador, perdi o meu trabalho, minha casa, minha paz.
Perdi tudo aquilo que cumpunha a saudade.
Perdi tudo o que era importante e material...
Só não perdi minha vida.
Enquanto vivo, confio.
Permito-me viver intensa e desapegadamente o amor/presença e também o seu reverso... Assim, terei a real noção dos abismos oceânicos; da amplitude do horizonte; dos "limites" do infinito, em minh'alma, represados.
Maria Aparecida Giacomini Dóro
Piso o solo sagrado do homem e resgato elos perdidos de minha história; revejo capítulos escritos à luz de uma frágil lamparina; completo lacunas no espaço e no tempo; vou ao encontro de ti e permito-me ser encontrada... Assim, descubro-te em mim!
Maria Aparecida Giacomini Dóro