A fé é o complemento aperfeiçoado da razão.
Manuel García Morente
Não creio que possa haver nem exista leitura mais entretida, mais encantadora, que a dos livros de Hume, do ponto de vista estritamente psicológico.
Manuel García Morente
Se não houvesse mais intuição que a intuição sensível, a filosofia ficaria muito mal servida.
Manuel García Morente
Testamento (Manuel Bandeira)
Manuel Bandeira
O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros - perdi-os...
Tive amores - esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
A dor eleva, a dor exalta, a dor diviniza.
Abílio Manuel de Guerra Junqueiro
"..Uma jovem tamoia, cujo rosto moreno parecia tostado pelo fogo em que ardia-lhe o coração, muito linda e sensível, tinha por habitação esta rude gruta, onde ainda então não se via a fonte que hoje vemos. Ora, ela, que até aos quinze anos era inocente como a flor, e por isso alegre e folgazona como uma cabritinha nova, começou a fazer-se tímida e depois triste, como o gemido da rola; a causa disto estava no agradável parecer de um mancebo da sua tribo, que diariamente vinha caçar ou pescar na ilha, e vinte vezes já o havia feito, sem que uma só desse fé dos olhares ardentes que lhe dardejava a moça. O nome dele era Aoitin; o nome dela era Ahy, que o seguia, ora lhe apanhava as aves que ele matava, ora lhe buscava as flechas disparadas, e nunca um só sinal de reconhecimento obtinha; quando no fim de seus trabalhos, Aoitin ia adormecer na gruta, ela entrava de manso e com um ramo de palmeira procurava, movendo o ar, refrescar a fronte do guerreiro adormecido. Mas tantos extremos eram tão mal pagos, que Ahy, de cansada, procurou fugir do insensível moço e fazer por esquecê-lo; porém, como era de esperar, nem fugiu-lhe nem o esqueceu.
Joaquim Manuel de Macedo
Desde então tomou outro partido: chorou. Ou porque a sua dor era tão grande que lhe podia exprimir o amor em lágrimas desde o coração até aos olhos, ou porque, selvagem mesma, ela já tinha compreendido que a grande arma da mulher está no pranto, Ahy chorou."
"E, quando o presente é feio e o futuro incerto, o passado vem nos sempre a memoria como o tempo em que fomos felizes"
Manuel de Fonseca
"Se as pessoas forem esclarecidas, atuantes e se comunicarem em todo o mundo; se as empresas assumirem sua responsabilidade social; se os meios de comunicação se tornarem mensageiros, e não apenas mensagem; se os atores políticos reagirem contra a descrença e restaurarem a fé na democracia; se a cultura for reconstruída a partir de experiências; se a humanidade sentir a sodaliriedade da espécie em todo o globo; se consolidarmos a solidaredade interegional, vivendo em harmonia com natureza;se partirmos para exploração de nosso ser interior, tendo feito as pazes com nós mesmo. Se tudo isso for possibilitado por nossa decisão bem informada, consciente compartilhada enquanto ainda há tempo, então talvez, finalmente possamos ser capazes de viver, amar e ser amado."
Manuel Castells
A alegria é o sofrimento amoroso, o sofrimento espiritualizado.
Abílio Manuel de Guerra Junqueiro
A amizade que reserva segredos não chega a ser íntima nem verdadeira.
Pd. Manuel Bernardes
A Cópula
Manuel Bandeira
Depois de lhe beijar meticulosamente
o cu, que é uma pimenta, a boceta, que é um doce,
o moço exibe à moça a bagagem que trouxe:
culhões e membro, um membro enorme e turgescente.
Ela toma-o na boca e morde-o. Incontinenti,
Não pode ele conter-se, e, de um jacto, esporrou-se.
Não desarmou porém. Antes, mais rijo, alteou-se
E fodeu-a. Ela geme, ela peida, ela sente
Que vai morrer: - "Eu morro! Ai, não queres que eu morra?!"
Grita para o rapaz que aceso como um diabo,
arde em cio e tesão na amorosa gangorra
E titilando-a nos mamilos e no rabo
(que depois irá ter sua ração de porra),
lhe enfia cona adentro o mangalho até o cabo.
A dor é a escada de fogo que nos conduz à vida eterna.
Abílio Manuel de Guerra Junqueiro
A ESTRELA
manuél bandeira
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Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.
Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.
Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alto luzia?
E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.
Manuel Bandeira
A noite do remorso anda espreitando a vida pela porta da alma.
Abílio Manuel de Guerra Junqueiro
A vida é um calvário. Sobe-se ao amor pela dor, à redenção pelo sofrimento.
Abílio Manuel de Guerra Junqueiro
A virtude é cara,porém preciosa.
Pe. Manuel Bernardes
Amizade procedida de comer, beber, e passear juntos, não merece nome de tal, nem pode ter firmeza.
Pd. Manuel Bernardes
Andorinha, andorinha lá fora esta cantando:
Manuel Bandeira
-Passei o dia a-toa, a-toa.
Andorinha minha canção é mais triste:
-Passei a vida a-toa, a-toa.´´
Arte de Amar
Manuel Bandeira
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Assim como o amor de Deus é raiz de todas as virtudes, assim o amor-próprio é a de todos os vícios.
Pd. Manuel Bernardes
Café com pão
Manuel bandeira.
Café com pão
Café com pão
Virge maria que foi isso maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu presciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô...
Vou mimbora
Vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
Amor…sentimento que me levas à mais profunda das loucuras. Onde andas tu? Procuro por ti desesperadamente, como se só em ti pudesse encontrar refúgio e segurança. Anseio por teu colo, teu carinho. Nos teus mimos encontrarei, certamente, porto seguro, onde todos os males deste mundo não me alcancem nem perturbem. Poço de esquecimento de angústias e melancolias, teu rosto permanece ainda encoberto por densos nevoeiros. Se alguma vez alcançar a felicidade, decerto será embebido pela tua existência. Até lá, continuo vagueando por caminhos incertos e dúbios, buscando nas incertezas e armadilhas da vida sinais ténues da tua existência. Não encontrei, porém, nada ou ninguém que me pudesse indicar a tua morada ou poiso. Tal não me espanta. Como nómada que és, certamente vagueias de coração em coração, ora destroçando, ora enchendo de calor e curando velhas feridas. Companheiro da Paixão e da Angústia, do Consolo e da Desilusão, teus caminhos são incertos. Espero um dia que o meu caminho se cruze com o teu, algures numa encruzilhada do viver. Até lá…espero.
Manuel Lopes
Belo Belo
MANUEL BANDEIRA
"Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas estrelas cadentes.
A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.
O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.
As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.
Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.
— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples."
boda espiritual
Manuel Bandeira
Tu não estas comigo em momentos escassos:
No pensamento meu, amor, tu vives nua
- Toda nua, pudica e bela, nos meus braços.
O teu ombro no meu, ávido, se insinua.
Pende a tua cabeça. Eu amacio-a... Afago-a...
Ah, como a minha mão treme... Como ela é tua...
Põe no teu rosto o gozo uma expressão de mágoa.
O teu corpo crispado alucina. De escorço
O vejo estremecer como uma sombra n'água.
Gemes quase a chorar. Suplicas com esforço.
E para amortecer teu ardente desejo
Estendo longamente a mão pelo teu dorso...
Tua boca sem voz implora em um arquejo.
Eu te estreito cada vez mais, e espio absorto
A maravilha astral dessa nudez sem pejo...
E te amo como se ama um passarinho morto.
Caridade é perdoar, não transigir.
Manuel Tamayo y Baus