Ao Minuto Final
Luizdespanha
Quando enfim
Anoitecer em mim
Quero-te,se distante,
Tão distante que te veja
Próxima.
Quero-te em veste branca
Transparente ao branco do sol
Em decote generoso
Para os teus seios róseos
E com seis flores pequenas
Nesses teus cabelos claros
Anunciando a manhã.
E no branco irrevogável
(definitivo do amanhecer)
Onde tudo é real
Como qualquer sonho,
Quero-te com esses olhos
De gata mansa no cio
Num convite em silêncio
Num tributo ao amor.
Quero apenas (tudo) isso
Quando enfim
Anoitecer em mim.
Março
Luizdespanha
Não sei por quê
Mas março vem com chuva
Que lembra despedida
Em seus lenços de nuvens,
Lenços estáticos num céu de mármore
E brisa dúbia de movimento
Com aromas incertos
Que passeiam devagar
Enquanto uma lua de presságios
Banha-se morta entre a névoa inconsciente
Das lápides de areia de uma praia,
Uma praia distante qualquer.
As chuvas de março trazem um silêncio,
Silêncio que lembra as lembranças
Que o sol ausente recusou lembrar.
Águas que como éguas no cio
Na relva molhada do peito
Cavalgam em ruidosa disparada
As cicatrizes vermelhas recentes
Dos sentimentos passados presentes
Que a onda do tempo levou.