Esse espaço sem papel não permite meu tato, mas me permite existir pra mais formas de amigos. Por isso e por fim me permito essa inconsistência diária. Buscar fragmentos de luz dividindo o dia em horas, horas em momentos parados onde os vejo impregnados de aromas e sabores e cores e antes que se desfaça pela dureza do momento seguinte eu os guardo dentro da minha caixa de sapatos ou os formato em sementes.
lobo
Me permito ser feliz lembrando minhas ausências, meu estado embrionário onde as perguntas se formam e ali não sou mais eu senão a pura curiosidade.
Me permito um discurso que beira o imoral (não da minha moral), um discurso que invade as calcinhas com sua língua bifurcada, lendo o gozo e o grito.
Me permito andar na sombra de árvores imaginárias, suado, descalço e inutilmente culto, porque sei do que não sou feito e isso pra mim é tão fundamental como saber do que é feito as maçãs.
Sou minha crônica: diária, inconsistente, impertinente e feliz – sou feliz, porque sempre fui feliz.
vigília dos meus olhos: voce desce a rua e o sol te acompanha! o vento, borboletas, sorrisos do mundo inteiro te acompanham. Não durmo enquanto tua presença não se afasta, então sofro. sofrem também todos os que sofrem a tua ausência. enfim me manifesto: estou nú, estou bêbado e estou só mas padeço da complacência a que todos os poetas tem direito, todos tem pena da nossa falta de juízo.
lobo
Nem tudo foi essa ausência: pintei pela manhã meu retrato com carvão e folhas - lobo preguiçoso escondido no subsolo das florestas. Nem sempre fui eu como me contam e isso também ninguém quer saber. Lembro-me, quando chamei por Deus: Ei Deus! quero contar e ele me interrompendo as gargalhadas - pra que?, já sei!
lobo
Então...não ocupo mais ninguém com minhas primaveras laranjas
me recrio através de lindos amigos - em folhas, telas, blogs, hipertextos...
eu volto....
A procura de dias felizes quase esqueci de compartilhar com ele minhas horas tristes.
lobo
Por um momento, e quase me engano, pensei num dia sem horas: tábua uniforme, linear, corpo único de coisa concreta - um dia feliz.
Quando o vento voltou me soprou baixinho: olha outra vez. Entao vi que aquele dia feliz, tinha uns trechos faltando eram as horas tristes que nao tinha compartilhado com ele.
Sentei na barra desse dia feliz e fiz voltar as horas. Escrevo essas tristezas a batom e em papel vermelho e colei na porta da casa de cecilia - ele leria.
Tenho dias felizes porque compartilho com ele minhas horas tristes.
Ontem me sonhei como o velho Buendia: amarrado aquela árvore enquanto os redemoinhos completavam o ciclo.
lobo
Tive medo de Garcia Marques, como antes já tivera medo de Neruda e seu amor por Matilde, e de um Vinicius de moraes encantando as paredes com os olhos da amada.
Procuro letras coladas nos livros para sentir medo de morrer e não mais ler.