Frases de josa fernando

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"existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".

Fernando Pessoa

É preciso ser um realista para descobrir a realidade. É preciso ser um romântico para criá-la.

Fernando Pessoa

A carta que não foi mandada



(Luiz Fernando Verissimo)


Dar é dar.
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca…
Te chama de nomes que eu não escreveria…
Não te vira com delicadeza…
Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom.
Melhor do que dar, só dar por dar.
Dar sem querer casar….
Sem querer apresentar pra mãe…
Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral…
Te amolece o gingado…
Te molha o instinto.
Sentir aqueles odores do outro, os fluídos…
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.
Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de
amanhã.
Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem esperar
ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês.
Para os mais desavisados, talvez anos.
Mas dar é dar demais e ficar vazio.
Dar é não ganhar.
É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te
abduzir.
É não ter alguém pra querer casar, para apresentar para os outros e se orgulhar, pra dar o
primeiro abraço de Ano Novo e pra falar: “Qui que cê acha amor?”.
É não ter companhia garantida para viajar e falar besteiras…
É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia.
Dar é não querer dormir encaixadinho… de conchinha.
É não ter alguém para ouvir seus dengos…
Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.
Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor.
Esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você
flutuar.
Experimente ser amado…
Experimente ser cuidado…
Experimente estar com que topa tudo por você…
E tope tudo com ela…

“A vida é a arte de tirar conclusões suficientes de dados insuficientes”

Luiz Fernando Verissimo

Amei-te e por te amar...
Fernando Pessoa


Amei-te e por te amar

Só a ti eu não via...

Eras o céu e o mar,

Eras a noite e o dia...

Só quando te perdi

É que eu te conheci...



Quando te tinha diante

Do meu olhar submerso

Não eras minha amante...

Eras o Universo...

Agora que te não tenho,

És só do teu tamanho.

Estavas-me longe na alma,

Por isso eu não te via...

Presença em mim tão calma,

Que eu a não sentia.

Só quando meu ser te perdeu

Vi que não eras eu.



Não sei o que eras. Creio

Que o meu modo de olhar,

Meu sentir meu anseio

Meu jeito de pensar...

Eras minha alma, fora

Do Lugar e da Hora...



Hoje eu busco-te e choro

Por te poder achar

Não sequer te memoro

Como te tive a amar...

Nem foste um sonho meu...

Porque te choro eu?



Não sei... Perdi-te, e és hoje

Real no [...] real...

Como a hora que foge,

Foges e tudo é igual

A si-próprio e é tão triste

O que vejo que existe.



Em que és [...] fictício,

Em que tempo parado

Foste o (...) cilício

Que quando em fé fechado

Não sentia e hoje sinto

Que acordo e não me minto...



[...] tuas mãos, contudo,

Sinto nas minhas mãos,

Nosso olhar fixo e mudo

Quantos momentos vãos

Pra além de nós viveu

Nem nosso, teu ou meu...

Quantas vezes sentimos

Alma nosso contacto

Quantas vezes seguimos

Pelo caminho abstrato

Que vai entre alma e alma...

Horas de inquieta calma!



E hoje pergunto em mim

Quem foi que amei, beijei

Com quem perdi o fim

Aos sonhos que sonhei...

Procuro-te e nem vejo

O meu próprio desejo...



Que foi real em nós?

Que houve em nós de sonho?

De que Nós fomos de que voz

O duplo eco risonho

Que unidade tivemos?

O que foi que perdemos?



Nós não sonhamos. Eras

Real e eu era real.

Tuas mãos - tão sinceras...

Meu gesto - tão leal...

Tu e eu lado a lado...

Isto... e isto acabado...



Como houve em nós amor

E deixou de o haver?

Sei que hoje é vaga dor

O que era então prazer...

Mas não sei que passou

Por nós e acordou...



Amamo-nos deveras?

Amamo-nos ainda?

Se penso vejo que eras

A mesma que és... E finda

Tudo o que foi o amor;

Assim quase sem dor.

Sem dor... Um pasmo vago

De ter havido amar...

Quase que me embriago

De mal poder pensar...

O que mudou e onde?

O que é que em nós se esconde?


Talvez sintas como eu


E não saibas senti-o...

Ser é ser nosso véu

Amar é encobri-o,

Hoje que te deixei

É que sei que te amei...



Somos a nossa bruma...

É pra dentro que vemos...

Caem-nos uma a uma

As compreensões que temos

E ficamos no frio

Do Universo vazio...



Que importa? Se o que foi

Entre nós foi amor,

Se por te amar me dói

Já não te amar, e a dor

Tem um íntimo sentido,

Nada será perdido...



E além de nós, no Agora

Que não nos tem por véus

Viveremos a Hora

Virados para Deus

E n'um (...) mudo

Compreenderemos tudo.

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa
A Criança Que Pensa Em Fadas

A CRIANÇA que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em algum ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa
Cancioneiro

Abdicação

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho.
Eu sou um rei
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.

Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mão viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa — eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços

Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa
Cancioneiro

Tomamos a Vila depois de um Intenso Bombardeamento

A criança loura
Jaz no meio da rua.
Tem as tripas de fora
E por uma corda sua
Um comboio que ignora.

A cara está um feixe
De sangue e de nada.
Luz um pequeno peixe
— Dos que bóiam nas banheiras —
À beira da estrada.

Cai sobre a estrada o escuro.
Longe, ainda uma luz doura
A criação do futuro...

E o da criança loura?

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa
Uns Versos Quaisquer

Vive um momento com saudade dele
Já ao vivê-lo . . .
Barcas vazias, sempre nos impele
Como a um solto cabelo
Um vento para longe, e não sabemos,
Ao viver, que sentimos ou queremos . . .

Demo-nos pois a consciência disto
Como de um lago
Posto em paisagens de torpor mortiço
Sob um céu ermo e vago,
E que nossa consciência de nós seja
Uma cousa que nada já deseja . . .

Assim idênticos à hora toda
Em seu pleno sabor,
Nossa vida será nossa anteboda:
Não nós, mas uma cor,
Um perfume, um meneio de arvoredo,
E a morte não virá nem tarde ou cedo . . .

Porque o que importa é que já nada importe . . .
Nada nos vale
Que se debruce sobre nós a Sorte,
Ou, tênue e longe, cale
Seus gestos . . .
Tudo é o mesmo . . .
Eis o momento . . .
Sejamo-lo . . .
Pra quê o pensamento?

Fernando Pessoa

Fernando Anitelli - "Nunca fiz música sem motivo. Sei o que quero"
Fernando Anitelli fala sobre os quatro anos de O Teatro Mágico, mensagem subliminar e grana

Por: Fabiana Faria


Quem é o Fernando Anitelli, afinal? Existe uma aura de mistério ao seu redor, não?!
Bom, tenho 33 anos, sou formado em comunicação social e comecei a fazer teatro muito cedo. Já fiz o Vale Encantando, do Oswaldo Montenegro. Já fui caricaturista de um jornal diário de Osasco, já trabalhei na área de produção visual de um banco, usava crachá de bancário e tudo. Acabei aprendendo no banco a organizar, administrar um negócio.

Como foi o início do Teatro Mágico? Foi você quem inventou esse conceito?
Eu tinha um trio de música brasileira chamado Madalena 19 que acabou porque cada um tomou seu rumo. Eu acabei indo trabalhar ilegalmente como garçom nos Estados Unidos durante um ano. Lá eu comecei a ler o livro "O lobo da estepe", de um alemão. Tinha uma passagem que dizia que as pessoas têm muitos personagens dentro de si e, ao mesmo tempo, todo mundo está em extinção. Isso tinha tudo a ver com o que eu imaginava para um projeto musical e decidi nomear o CD como "O Teatro Mágico - entrada para raros".

Você fez o CD com a grana que ganhou nos Estados Unidos?
Eu usei a grana de lá, vendi metade de um apartamento, meu carro e tive ajuda do meu pai. Também juntei uma grana de uns shows que a gente fez.

Então você já sabia o que queria a partir da concepção do projeto?
Nunca fiz nada para atingir um público específico. Eu vomitei o Teatro Mágico em cima das pessoas e elas aceitaram. Tem famílias que deixam de ir ao zoológico para verem o Teatro Mágico. Isso é ótimo.

Você imaginava que fosse fazer tanto sucesso?
As coisas foram acontecendo aos poucos, mas eu sempre tive muita organização. Eu sabia que o projeto tinha força para crescer, amadurecer e se manter. É legal porque tudo aconteceu no boca a boca, pela internet e é muito bacana ver que tem um público ansioso pela gente.

Mas vocês não fazem propaganda, a música de vocês não toca no rádio... Por que isso?
Sobreviver da arte independente no Brasil é uma guerra. Tem que ter humildade e cabeça fria. No rádio, a gente não toca porque tem que pagar jabá (dinheiro em troca da execução das músicas). E, como a gente não é gravadora nem pretende ser, a gente não toca. A gente acaba tendo divulgação melhor em cidades pequenas e em jornais regionais. Os artistas acham que tocar no rádio e na televisão são as únicas formas de ganhar dinheiro e fazer seu trabalho. Mas isso não é verdade.

Vocês já tiveram proposta de gravadora?
A gente já teve convite de todas as gravadoras multinacionais para comprar o projeto, fazer CD, DVD... Eles oferecem uma Ferrari e você só tem uma bicicleta. Mas, como eu acredito no ET, faço minha bicicleta voar.

E o Teatro já dá uma grana?
Hoje ele se auto-sustenta. Se você tem um trabalho bem feito e responsável, o dinheiro vem naturalmente. Mas é uma luta constante para não faltar dinheiro e continuarmos levando o projeto.

A Veja publicou que vocês ganham 40 mil reais por show. É verdade?
Imagina! Tem show que a gente ganha 500 reais. Muito pouco. Alguns músicos ainda tocam em projetos paralelos para completar a renda.

E o que acha da internet?
A internet é uma ferramenta poderosa. Eu disponibilizo tudo de graça mesmo, esse processo de comunicação novo é sensacional. O nosso objetivo é tocar em Marte, se for possível e só a internet pra divulgar o nosso trabalho tão bem. Você lembra que existiam as fitas cassete e todo mundo gravava música pra todo mundo? Era a mesma coisa, mas em uma mídia diferente. O You Tube acabou com a MTV. Nós temos mais de 1700 vídeos publicados lá, mas só fizemos dois. É muito louco isso. As gravadoras querem pegar nosso dinheiro e a internet, não...

Assistindo ao show de vocês, tive a impressão de que os fãs idolatram a trupe toda, especialmente você. As meninas gritam histericamente...
Eu acho um absurdo isso. Meu cabelo está caindo e eu sou a cara do palhaço Bozo!

Mas, então, de onde você acha que vêm essa paixão toda dos fãs?
De alguma maneira, o projeto tocou cada pessoa que gosta da gente. Eles sabem que o nosso som não está sendo empurrado goela abaixo como é feito com a música do rádio. É um projeto de verdade, em que eles podem mostrar sua arte, discutir o assunto de verdade. Tem gente que faz tatuagem das letras, dos personagens... Eu não acho que isso seja tanta loucura. Se eu fosse um adolescente descobrindo Secos e Molhados, por exemplo, eu também faria o mesmo.

Por que você citou Secos e Molhados? Você se compara a eles?
É uma referência e uma comparação, sim. Sempre gostei do Ney Matogrosso, ele tem uma coisa meio menestrel. Meu pai diz que eu danço como ele.

Algumas pessoas comentaram comigo que acham que as músicas de vocês têm mensagem subliminar (mensagens não captadas conscientemente pelos sentidos humanos) para meio que hipnotizar as pessoas. E aí, tem ou não tem?
Olha, eu nunca fiz música aleatoriamente. A mensagem que a gente passa é a da arte livre, independente. Mas tem uma porção de mensagens em várias músicas. Se você escutar com fone de ouvido, vai ver que tem sons acontecendo do lado direito e esquerdo do fone. Se você escutar em disco e rodar ao contrário, vai escutar vozes do meu avô. Na música Separo, tem um riff de guitarra no final. Quando a gente estava gravando, na hora do riff, entrou a freqüência de um rádio e acabou gravando a voz de um cara falando "uma lembrança que você vai ter". Nós deixamos. Essas coisas não são coincidências, são providências. Tudo o que é subliminar, soma.

Fernando anitelli

O Teatro Mágico - Cuida De Mim
Fernando Anitelli
Pra falar verdade, às vezes minto
Tentando ser metade do inteiro que eu sinto
Pra dizer às vezes que às vezes não digo
Sou capaz de fazer da minha briga meu abrigo
"Tanto faz" não satisfaz o que preciso
Além do mais quem busca nunca é indeciso
Eu busquei quem sou
Você pra mim mostrou
Que eu não sou sozinha nesse mundo.

Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria
ser.
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo... Enquanto fujo...

Basta as penas que eu mesmo sinto de mim
Junto todas, crio asas, viro querubim
Sou da cor do tom, sabor e som que quiser ouvir
Sou calor, clarão e escuridão que te faz dormir
Quero mais, quero a paz que me prometeu
Volto atrás se voltar atrás assim como eu.

Busquei quem sou
Você pra mim mostrou
Que eu não estou sozinha nesse mundo.

Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria
ser.
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo... Enquanto fujo...

Fernando Anitelli

O Teatro Mágico - O Anjo Mais Velho
Fernando Anitelli

"O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"

Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte
enchendo a minha alma d'aquilo que outrora eu deixei
de acreditar

tua palavra, tua história
tua verdade fazendo escola
e tua ausência fazendo silêncio em todo lugar

metade de mim
agora é assim
de um lado a poesia o verbo a saudade
do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no
fim
e o fim é belo incerto... depende de como você vê
o novo, o credo, a fé que você deposita em você e só

Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você

O Teatro Mágico - O Anjo Mais Velho - Fernando Ani

O Teatro Mágico Entrada Para Raros
Fernando Anitelli
Composição: Fernando Anitelli

No inicio era o verbo... e o verbo era deus...
E o verbo estava com deus,
E já não eram sós , ambos conjugavam-se entre si,
Discutiam quem seria a primeira e a segunda pessoa,
Quem era verbo... quem era deus,
A ação e a interpretação... quem era a parte e quem era o todo.
Deus (o pai, o filho e o espírito santo),
Era também o verbo (regular e irregular)
E todos questionavam-se sobre quem seria o sujeito
E quem seria o predicado,
Quem se conjugaria no pretérito e quem renunciaria
A forma "mais que perfeita"!

Deus era o verbo e o verbo era deus,
Conjugavam-se de maneira irregular... explicitando suas diferenças,
Reconhecendo os fragmentos e os complementos
Buscavam a medida certa
E assim... reconheceram-se uno...
Eu deus, tu deus, ele deus, nós deus, vós deus... eles deus
Somos dotados deste curioso poder,
Mudamos nosso significado, nosso signo,
Nosso comportamento e nossos conceitos
(que por sua vez chegam ate nós depois de se modificarem
Muitas e outras vezes!)
Temos uma ferramenta e tanto nas mãos, e nos pés...
Temos acorrentados nossos motivos de sobra pra relaxarmos
E acomodarmos com a vida que levamos agora...

O teatro mágico é o teatro do nosso interior...
A história que contamos todos os dias
E ainda não nos demos conta...
As escolhas que fazemos em busca dos melhores atos,
Dos melhores sabores,
Das melhores melodias e dos melhores personagens
Que nos compõem,
As peças que encenamos e aquelas que nos encerram...
... nosso roteiro imaginário é a maneira improvisada
De viver a vida...
De sobreviver o dia, de ressaltar os tombos e relançar as idéias,
O teatro nosso de cada dia...

Fernando anitelli

Ricardo Reis (Fernando Pessoa)
Sábio

Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.

Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas volúteis,
Ele sabe que a vida
Passa por ele e tanto
Corta à flor como a ele
De Átropos a tesoura.

Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto às horas,
Como a uma voz chorando
O passar das bacantes.

E ele espera, contente quase e bebedor tranqüilo,
E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que a abominável onda
O não molhe tão cedo.

Fernando Pessoa

Sociedade dos Poetas Mortos




Fernando Pessoa

"Tenho tanto sentimento
Que e' frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheco, ao medir-me,
Que tudo isso e' pensamento,
Que nao senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."

Fernando Pessoa

[Consta na Lápide de Fernando Sabino]
Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino

Fernando Sabino

" Pedras no caminho?
Guardo todas.
Um dia vou fazer um castelo ... "

Fernando Pessoa

"Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?"
E Te Amando Sigo...até Onde? Onde a Fé na Fantasiosa Esperança Permitirá Crêr que a Vida É Contínua e Infinita E Terei Sempre às Mãos o Tempo da Eternidade....!!!!!

Fernando Pessoa

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm."

Fernando pessoa

Amar é cansar-se de estar só: é uma covardia portanto, e uma traição a nós próprios (importa soberanamente que não amemos).

Fernando Pessoa

Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?

Fernando Pessoa

Conformar-se é submeter-se e vencer é conformar-se, ser vencido. Por isso toda a vitória é uma grosseria. Os vencedores perdem sempre todas as qualidades de desalento com o presente que os levaram à luta que lhes deu a vitória. Ficam satisfeitos, e satisfeito só pode estar aquele que se conforma, que não tem a mentalidade do vencedor. Vence só quem nunca consegue.

Fernando Pessoa

Há tanta suavidade em nada dizer/ E tudo se entender.

Fernando Pessoa

O Amor

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..

Fernando Pessoa

Quero ignorado, e calmo
Por ignorado, e próprio
Por calmo, encher meus dias
De não querer mais deles.
Aos que a riqueza toca
O ouro irrita a pele.
Aos que a fama bafeja
Embacia-se a vida.
Aos que a felicidade
É sol, virá a noite.
Mas ao que nada espera
Tudo que vem é grato.

Fernando Pessoa

Todos temos por onde sermos desprezíveis. Cada um de nós traz consigo um crime feito ou o crime que a alma lhe pede para fazer.

Fernando Pessoa


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