“Não se vence os sentimentos pela demora; se vence pelo esgotamento das sensações, quando já não mais desejamos provar, do caju doce, ou da doce desgraça”.
Henrique de Shivas
Se a vida fosse coisa importante para os homens; todos estariam mortos.
Henrique de Shivas
“Para manufaturar uma obra verdadeira, é preciso subtraí-la de todo princípio e finalidade mercantil”.
Henrique de Shivas
Manifesto Geração Devaneio
Henrique de Shivas
Nós que amamos o devaneio, as forças-ocultas que explodem fantasia no domínio da consciência... Nós que estudamos a finco a vida, o cemitério dos ideais, a fortaleza das atitudes. Lançamo-nos trementes d’expectativa pelas estradas-obscuras da curiosidade, em uma espécie de peregrinação rumo ao desconhecido-lar dos prazeres, dos enigmas, das revelações, em busca de Bacco e todos os santos da alegria.
Nós que depredamos tudo aquilo que não compete aos nossos reais-sentimentos... Discordamos da lógica, da coerência, e fazemos uma revolução que começa com a transubstanciação de nossa própria alma-particular. Uma alma que se transmuta em vinho; um vinho que dá forças – néctar que fomenta a voz de verdades proclamadas com eloqüência-espiritual, transcendente, divinal. Uma voz que, das Trevas do Espírito, faz tremer como trovão os Firmamentos do Destino; balançando e destruindo dogmas que estão impregnados na língua da opinião – explodindo sóis!
Há uma geração de poetas que assim pensam, que assim fazem, que assim delineiam... Que assim revolucionam os domínios onde o capital ainda não comprou definitivamente a cabeça das pessoas.
O templo-budista onde a palavra desses poetas faz-se luz e escuridão são os bares espalhados pela Cidade-Perdida. Lá eles oram blasfêmias e gargalham dos ordinários conformados com uma vida de limitação, conformação e diversão controlada pela Lei.
Nós que devassamos o conceito-comum do social, aquele conceito que existe pra corromper e nos fazer seguir um caminho-determinado. Preferimos andar em ziguezague; tropeçando nos espinhos que em suas pontas brilham venenos que embriagam a alma, e elevam-na ao Nirvikalpa Samadhi das emoções.
Um brinde a todos que assim pensam, que assim fazem, que assim delineiam.
Um brinde a todos que amam a Baudelaire, a Rimbaud e todos os poetas-malditos que tanto contribuíram para formação de uma mentalidade cada vez mais forte, maciça e imortal.
Subvertemos o meio para torná-lo um meio-risível, chocante, alucinante. Viajamos pelo mundo a beber, a sorver o sonho, o delírio, a lombra.
Pulamos para cair de cabeça no duro solo dos prazeres; quase quebramos as “vértebras da sobriedade” com pulo tão ousado e perigoso.
“O cientista no laboratório, é como o galo: vive ciscando o chiqueiro em busca de porcaria”.
Henrique de Shivas
Problemas?
Henrique de Shivas
I
Começa perguntando a ti mesmo se já não é hora de tomar decisões. Se já não tens suficiente experiência para saber o que te perturba, e qual a melhor maneira de resolver problemas. Garanto que teus problemas, se já ais de ler o que ti escrevo, estão bem longe de se constituir um sofrimento de uma criança Africana.
Pergunta a ti mesmo, se o teu problema é somente teu, ou se o é de uma outra pessoa, e pergunta por que o tempo, somente ele, cura; se já não dói muito, viver pouco na doença.
E no ontem, e também hoje, sempre erramos na culpa dos outros, não é verdade?
Deveríamos agir com força. E ser forte, é também ser verdadeiro; e sorrir sempre para os amigos, que estão ao teu lado; e que, sabendo que cada um o ama a sua maneira própria, haverão de magoar-te, como quem pisa num galho sem o ver.
Não condene a vida feliz, por um minuto de infelicidade.
Julgue melhor a ti, do que aos outros. E encontrarás a verdade dos teus problemas, na maioria das vezes, em tua própria lama; suja com lágrimas da ignorância.
II
Fazer de nós, a outra pessoa, não é uma aconselhável atitude; ainda mais quando somos confusos; - confundimos aqueles em que deveríamos confiar. E nos tornamos dois, uma única confusão, ainda maior.
III
Nos momentos de silêncio, ouça a voz do coração.
Nos momentos de alegria, não ria tanto, enquanto o outro chora; lembre-se disto.
E que no mundo, a vida é passageira; todos sabem. E preferem saber disso, equivocando-se, brigando.
Um minuto pode muito bem trair o carinho de amor, que temos por outra pessoa. Mas pergunta a ti mesmo se nunca fostes incauta? Se nunca fostes leviana? Se nunca errastes e quisestes mudar?
Assim, entenderás que nem tudo deve se observar do nosso lado; não deveríamos ser tão egoístas assim; querendo travesseiro e o lençol somente pra nós, enquanto o outro treme de frio.
IV
É bem verdade que fomos mal acostumados. E quando na juventude, o entrave bate a porta, procuramos o colo para deitar. E aprendemos a nos acovardar, temendo nos molhar numa tempestade que já desabou. E fechar os olhos para os problemas e as calamidades nunca foi uma boa solução. E fechar os olhos quando estamos na chuva, não diminui o molhado da roupa.
V
Julgar o outro pelo passado tenebroso; prova que és cauteloso. Embora extrema cautela seja traquina armadilha do diabo; caímos quando nos afastamos do Leão, para morrer na queda pelo Abismo.
VI
Se for possível, chore. Não deixe as lágrimas secarem no coração; encardida já é demais a vida!
VII
Uma roupa, um perfume, traz lembranças tristes; é de suma importância vestir a vida de roupas novas e perfumes límpidos; prontos pra tachar a vida de luzes mais belas e destinos mais sublimes.
VIII
Nunca pense três vezes numa mesma solução inválida. Tal atitude traz a idéia de que fracassamos sempre ao tentar sobrepujar empecilhos. E saiba que cada problema traz consigo a solução, que para cada pergunta existe uma resposta, e saiba que, se de um lado já fora feito algo de bom, talvez seja a hora de tu, fazerdes tua parte.
“Não sei se sentimentos são razões da alma ou instintos disfarçados de mulher; forçando, nós, homens, a buscar amor, num consolo desprezo. Ou, na dúvida que me cabe, não sei se é loucura dizer que louco é o ser dominado pelo sentimento, ou se o é insanidade ousar dominá-los. Mas, de dúvida não me resta em pensamento... já porque a seguinte máxima me diz e me consola: - eis que respiro e sinto; nada mais importa, do que viver num colo de uma mulher carinhosa, e dormir”.
Henrique de Shivas
Uma breve Indefinição do Eu
Henrique de Shivas
I
Nada pior, afirmo nada menos importante do quê, o deixar-se enganar pelas idéias de toda gente, não é mesmo? E cujas debilidades dos nossos pensamentos são como velhos sapatos furados, por onde entram desagradáveis pedrinhas.
II
Embora eu não seja depositário de palavras delicadas para com as pessoas cuja mediocridade sobrepuja as montanhas, e não possua nenhum escrúpulo se não aquele de não agradar a ordinária gente, e quase que insuportavelmente falando para não agradar a vaidade alheia; penso: - em não mostrar-me a vós, gratuitamente.
III
Pois, para não relevar aqueles segredos que todo mundo esconde: - a nojeira de nossa própria personalidade; agradeço enfim, o intuito daqueles que lêem minhas palavras com olhos de um Judas.
Se me entendes ou não, a traição da consciência é o pensamento pré-concebido. E muito pensamos por antecipação, sem nos apercebermos, não é mesmo?
IV
Aliás, evito pouco “tornar-me” claro no palavreado monográfico, pois, deixar-se enganar pela falsa noção de que as idéias que temos a respeito de uma dada coisa são verdadeiras, já é prova de tamanha estultice. Não é verdade?
V
E se és tu, “amigo” leitor, que “ais” de ler o que te escrevo agora; como um curioso: - deve-me suportar todos os perigos, se me queres conhecer.
VI
Garanto, pois; e não confiai tanto em mim!... não sejas mais um tolo no mundo; mas, assim mesmo, garanto não magoar-te nas chagas menos dolorosas. Sou bastante incauto para não tocar nas feridas da alma, quando estas ainda estão tão inflamadas.
VII
Sou como o tubarão a comer os cardumes do pensamento desprevenido.
E custo a ser diferente de uma idéia que se faz de um ácido e da sua corrosão.
VIII
Embora novamente, isso pareça ser um mal, eu assim tão braviamente instável e corrosivo; e de não ter deixado nada de sólido e entendido em teus pensamentos; sabes, pois: - que “o Sábio sem conceito”, sabe quê, igual ao fogo a acender as madeiras mortas, servindo de aconchego na noite fria ao valdevino passante, ou igual ao tubarão a equilibrar os ecossistemas marinhos, às vezes, o que te feres demasiadamente levar-te-á a compreender como manusear aquele ácido corrosivo e desentupir as valas da ignorância.
“Na verdade não há outra história para explicar o fracasso de tantos pensadores, e deixar o pensamento filosófico como que sem nenhuma utilidade para posteridade. A filosofia se transformara em livros de auto-ajuda, em historinhas de Sócrates e suas verdades... a filosofia se metamorfoseara em chapeuzinho vermelho, e o lobo mal desapareceu com a vovozinha da razão. Aliás, resta muito pouco, para que muitos se apercebam da crise dos sistemas inteligíveis; estes últimos foram substituídos por mitos obscuros, por prosas onde se bombardeiam o leitor com indagações fútil/irrespondíveis, para não dizer estúpido/pueris, e por dicas de bolo filosóficas, e retóricas, destinada a convencer animais a explicar o mundo”.
Henrique de Shivas
Uma Receita para mudar o Mundo
Henrique de Shivas
I
Se tu desejas mudar o mundo: escreva. Porém, escreva para mudar o mundo das pessoas.
II
Suas aversões não querem mudar as pessoas do mundo: elas querem mudar as pessoas da alma.
III
Sabes o que é a alma? Eu vos digo: - ela é o motorista do ser desvairado; um piloto que faz mil piruetas perigosas, e o seu motor é o coração.
IV
Se tu és poeta, não há gramática mais sublime, do que aquela que não se importa com erros. Se não há erros em mudar as coisas; somente há verdades em mudá-las de lugar. Faça isso, não te arrependerás.
V
Sabes o que é a verdade? Eu vos digo agora: - a verdade, amigo, é uma coisa que agente usa, e depois joga fora. Não pretenda possuí-la demasiadamente. Ela é que nem a água que nos foge aos dedos; tocamo-a antes de tê-la percebido fugir.
VI
Mas se tu não és poeta, é filósofo, evite, pois, contar verdades a alguém. Evita também querer lutar contra a contradição. E deixa de lado um pouco da vaidade, e caminha que nem o poeta sem gramática, sem estética, sem compromisso com a própria poesia. És antes um humano, não o sabes muita coisa; e procurar saber de alguma coisa, já a muito tempo não traz o resultado esperado. As verdades não devem ser contadas, pois para cada pessoa, ela tem hora certa de se revelar; apenas esperam o momento propício à germinação, ao brotamento, as condições favoráveis de temperatura e pressão. As contradições não se vencem, já que são circuitos fechados, ficamos que nem perdidos, numa floresta, a girar sem encontrar uma saída. Por último: a vaidade; ela é uma roupa muito pesada, e enquanto agente se preocupa em não rasga-la nos espinhos encontrados pelos caminhos, outros, já chegaram aos seus destinos, leves, são e salvos.
VI
A vida só se valoriza bem, escrevendo.
A prova disso é que até os mortos já escrevem suas aventuras.
E por que não, nós, os vivos; não nos tornamos mais vivos (imortais), escrevendo?
VII
Escrevendo eu faço guerra. É verdade. Mas eu posso fazer “amor escrevendo”. Não é mesmo?
VIII
Assim como o nosso coração é ferramenta de Deus a serviço do diabo; temos que saber usá-lo. Pois uma navalha pode ferir a pele se não bem utilizada.
IX
Outra prova de que escrever é bom é que os nossos escritos podem ser lidos por outras pessoas. Não é maravilhoso? E se tu já estás a ler este meu escrito, já me fazes feliz.
X
Nada melhor do que fazer as outras pessoas menos tristes. Mas é preciso reservar um tempinho para também entrarmos nesta orgia de felicidades.
XI
E nunca é tarde para mostrar aos outros, aquilo que agente pensa de melhor; nossos melhores pensamentos são os melhores presentes que damos à humanidade. E se no Inferno tão distante não faltam boas intenções, garanto que aqui não é muito diferente de lá.
Na história dos combates internos, nunca tal prática maravilhosa de amar, mostrou-se tão devastadora; esfacelamos um pouco de nossa modéstia, quando, nossas volições guiadas em prol da concretização dos nossos próprios anseios, em detrimento dos de outra pessoa, forjamos nossa verdadeira imagem de repugnante, de vil; para, nesta batalha de idéias mais do que instintivas, lutarmos por sangue de volúpia, por vida de conquista e por água purificada na dor; salgamos um tanto demasiadamente a comida, e cedo ou tarde, agonizaremos nas possíveis enfermidades daí decorrentes, e, na gordura que usufruímos quando saboreamos estas apetitosas sandias da juventude, condenamo-nos ao martírio do porvir, repleto de murmúrios, gemidos, lamentos e cruzes.
Henrique de Shivas
Tu
Henrique de Shivas
¿Quem és tu que ao verso blasfema
E a palavra arde tanto quanto queima?
¿Não és, pois, como o cântico do Maldoror,
Cujo ultraje traz em si a verdade do estupor?
Per favore não me digas quem és mais...
Porém, empina-me e diga: o que tu és.
“As grandes frases também são as mais sórdidas; quando o muito delas nos parecem agradar”.
Henrique de Shivas
“O que fazer para mudar o sentido e a direção dos juízos? Se já não mais existe uma força suficientemente forte, em módulo, para refrear o suicídio desgovernado? Qual o antídoto, para curar a picada do escorpião invisível, ou, qual a medida, para exterminar esta praga que não se vê mais do que seus efeitos funestos? Não há instrumento de corte ou navalha cega, para fazer uma cessaria urgente no ser? O que fazer? Qual a atitude profilática, para prevenir as futuras gerações de nascerem com o gene deficiente da sensibilidade crítica, do saber cuidadosamente duvidoso, da loucura do meditar filosófico, do prazer que se extrai da pesquisa despojada de resultado? E hoje, ver-se que em todo pensamento, muitos se fazem de loucos, para vestindo-se com a famosa idéia de que pensar sublimemente, adquire-se ares de excentricidade, ou melhor, de insanidade, fizemos uma festa fantasia universal de hipócritas escalafobéticos”.
Henrique de Shivas
“O verdadeiro pensador é aquele que não rubrica seus pensamentos com a vaidade de seu próprio nome”.
henrique de shivas
“Querer “ter” Conhecimento não é querer ser Livre ou procurar a Liberdade, mas estar preso ao próprio desejo de Descobrir”.
Henrique de Shivas
“O moralista não vê que suas opiniões são produtos do egoísmo de outras pessoas; hereditariamente, os homens morais, por sentirem-se bem com a situação sob a qual vivem egoistamente, impõem sua arrogância aos outros e depredam a si próprios”.
Henrique de Shivas
A imaginação nos torna capazes de suportar a pungente realidade do mundo. Se pararmos em frente ao espelho, e chegando mais perto, olhar bem nos nossos próprios olhos, saberemos que “nós”, somos verdadeiros sonhadores.
Henrique de Shivas
Esvaziando a mente, encontramos respostas certas.
Henrique de Shivas
Palavras simples, muitas vezes nos enganam pela facilidade.
Henrique de Shivas
A Razão transformou o homem no animal mais sofrível entre os animais, pois somente ele é capaz de se desesperar com o amanhã; antecipar a morte. [Capítulo Primeiro, aforismo X do livro ESCRITOS REUNIDOS]
Henrique de Shivas
O homem sempre busca um colo de mulher para deitar; um carinho para sonhar; e uma lágrima para pensar em quanta dor ela apazigua no toque; em quanta magia ela encanta no olhar; e quantas tristezas ela abafa no peito. Nossas paixões são imagens maternas; nós, homens, somos carentes eternos de cuidados maternos.
Henrique de Shivas
“É muito egoísmo querer ter amigos; sem antes nos perguntarmos se algum dia, nós, os solitários do mundo, tivermos a disponibilidade de sermos amigos de alguém”.
Henrique de Shivas
Existem pessoas que dizem que nos amam, só para nos fazer chorar, quando delas precisamos. [Capítulo Quarto, aforismo XIX do livro ESCRITOS REUNIDOS]
Henrique de Shivas
Teu Beijo
Henrique de Shivas
Neste desejo
De beijar
O teu beijo
Amaciar
Tua pele
Nesta dura
Loucura
De saciar
Uma dor
Que vem
Do fundo
De uma paixão
Sem coração
Eu me regozijo
Com um lampejo
Impar
Do teu olhar
Neste desejo
De beijar
O teu beijo