Temos ensinado às nossas crianças que os nossos instintos são pecaminosos. A parte mais rica do indivíduo, que é a sua sensibilidade – sua capacidade de amar e odiar, sua capacidade de se relacionar de maneira erótica com o mundo –, tem sido desprezada. Temos ensinado o homem a ser obediente, servil, pacífico, incompetente e a depositar todas as suas esperanças num poder maior ou no fim das tempestades. Quando ensinaemos aos nossos alunos que eles não precisam se esconder diante das ameaças, porque todos nós temos capacidade de alçar vôo às alturas, ultrapassando as nuvens carregadas de tempestade e perigo? Temos ensinado às nossas crianças a se arrastarem como vermes e, porque se arrastam como vermes, elas se tornam incapazes de reclamar quando se lhes pisam na cabeça. (Gleison Rodrigues – “Lições do Príncipe e outras lições”. 3.ed. São Paulo: Cortez, 1984. p. 110-1)
Gleison Rodrigues