Voar sempre, cansa -
Eugénia Tabosa
por isso ela corre
em passo de dança
O pavão parado
Eugénia Tabosa
no parque sozinho
espera o chamado
palmo a palmo
Eugénia Tabosa
dedo a dedo
inicio teu percurso
Um homem caminha
Eugénia Tabosa
cabisbaixo e só:
perdeu o que não tinha
Mar infinito
Eugénia Tabosa
três vezes bendito
traz meu filho...
O trigal maduro
Eugénia Tabosa
ondula ao vento...
O corvo espera.
No azul do mar
Eugénia Tabosa
golfinhos saltam -
parecem brincar
Olhando nos olhos
Eugénia Tabosa
que o lago reflete
Narciso se esquece
na praia a sereia
Eugénia Tabosa
anseia que a onda
a salve da areia
No aquário redondo
Eugénia Tabosa
o peixe dourado
julga o mar enfadonho
Debruçado no lago
Eugénia Tabosa
Narciso, surpreso,
se vê amado
No rio, a canoa
Eugénia Tabosa
pinta em verde
o seu reflexo.
Por desafio
Eugénia Tabosa
vestiu-se de gueixa
amor não sentiu
Num vôo direto
Eugénia Tabosa
o pássaro volta
procurando um teto
Na noite escura
Eugénia Tabosa
um mar de espuma
chama pela lua
O gato tigreiro
Eugénia Tabosa
olha o sabiá
que voa ligueiro
A abelha voa vai
Eugénia Tabosa
vem volta pesada
dourada de pólen
no céu de Alexandria
Eugénia Tabosa
as estrelas falam
mitologia
Um cão sonolento
Eugénia Tabosa
esticou as patas
e soltou um vento
no parque vazio
Eugénia Tabosa
duas árvores abraçam-se
em prantos de chuva
Com muito carinho,
Eugénia Tabosa
a tia gorda
surra o sobrinho
No embalo do rio
Eugénia Tabosa
ao sabor da corrente
meu amor vai comigo
Ai como grita
Eugénia Tabosa
ao pisar o gato
a velha aflita
Olhar esquivo
Eugénia Tabosa
corpo ondulante
sonho vivo
longe noite escura
Eugénia Tabosa
uma viola
amor murmura