negro e revolto
Eugénia Tabosa
o mar de inverno
pressagía desgosto
no aconchego da terra
Eugénia Tabosa
a semente
vive a espera
No aquário redondo
Eugénia Tabosa
o peixe dourado
julga o mar enfadonho
No azul do mar
Eugénia Tabosa
golfinhos saltam -
parecem brincar
no céu de Alexandria
Eugénia Tabosa
as estrelas falam
mitologia
No embalo do rio
Eugénia Tabosa
ao sabor da corrente
meu amor vai comigo
no inverno, o vento
Eugénia Tabosa
dança com as folhas
a seu contento
No ninho do sabiá
Eugénia Tabosa
há quatro bocas
que não param de piar
No parapeito
Eugénia Tabosa
da velha janela
a gata espreita
no parque vazio
Eugénia Tabosa
duas árvores abraçam-se
em prantos de chuva
No prato com leite
Eugénia Tabosa
a língua rosada
faz chap chap
No rio, a canoa
Eugénia Tabosa
pinta em verde
o seu reflexo.
nos fios
Eugénia Tabosa
os pássaros
escrevem música
Num vôo direto
Eugénia Tabosa
o pássaro volta
procurando um teto
O gato chinês
Eugénia Tabosa
espera sentado
pela sua vez
O gato no cio
Eugénia Tabosa
mia e remia
canta ao desafio
O gato tigreiro
Eugénia Tabosa
olha o sabiá
que voa ligueiro
O pavão parado
Eugénia Tabosa
no parque sozinho
espera o chamado
o rio ao lado da estrada
Eugénia Tabosa
corre
ri à gargalhada
O senhor narigudo
Eugénia Tabosa
tinha um olho torto
e no pé um fungo
O trigal maduro
Eugénia Tabosa
ondula ao vento...
O corvo espera.
Olhando nos olhos
Eugénia Tabosa
que o lago reflete
Narciso se esquece
Olhar esquivo
Eugénia Tabosa
corpo ondulante
sonho vivo
Olhar felino
Eugénia Tabosa
perfil egípcio
apanha sol
olhos baixos
Eugénia Tabosa
serena e bela
aguarda o dia