A abelha voa vai
Eugénia Tabosa
vem volta pesada
dourada de pólen
A bola baila
Eugénia Tabosa
o gato nem olha
salta e agarra
a chuva no charco
Eugénia Tabosa
traça círculos
sem compasso
Abrindo uma fresta
Eugénia Tabosa
do carro de luxo
ele atira a meleca
Ai como grita
Eugénia Tabosa
ao pisar o gato
a velha aflita
com mãos de hera
Eugénia Tabosa
enlaço teu corpo
oferto em espera
Com muito carinho,
Eugénia Tabosa
a tia gorda
surra o sobrinho
Debruçado no lago
Eugénia Tabosa
Narciso, surpreso,
se vê amado
Gatinha meiga
Eugénia Tabosa
ao passar da mão
seu corpo se ajeita
Lá vai de saltos
Eugénia Tabosa
dona pata apressada
correndo aos saldos
Lindo sabiá
Eugénia Tabosa
do peito amarelo
vem cá, vem cá
longe noite escura
Eugénia Tabosa
uma viola
amor murmura
Mal o dia clareia
Eugénia Tabosa
a passarada
em coro chilreia
Mar de tormento
Eugénia Tabosa
mar de sustento -
ai, triste sina
Mar infinito
Eugénia Tabosa
três vezes bendito
traz meu filho...
meus dedos-olhos
Eugénia Tabosa
desvendam sem pressa
doces mistérios
minha cabeça em seu peito
Eugénia Tabosa
seus dedos em meus cabelos
- dança de leito
na boca da fornalha
Eugénia Tabosa
labaredas
dançam Falla
na cama de nuvens
Eugénia Tabosa
o sol espreguiça-se
oblongo
Na janela em frente
Eugénia Tabosa
uma criança sorri -
falta-lhe um dente
na lareira rubra
Eugénia Tabosa
o velho pinheiro
ganha asas
Na noite em silêncio
Eugénia Tabosa
o relógio presente
marca o passado
Na noite escura
Eugénia Tabosa
um mar de espuma
chama pela lua
Na noite sem lua
Eugénia Tabosa
o mar todo negro
se oferece em espuma
na praia a sereia
Eugénia Tabosa
anseia que a onda
a salve da areia