olhos de gato
Carlos Seabra
luz dos faróis na noite
pulo no mato
sol na varanda -
Carlos Seabra
sombras ao entardecer
brincam de ciranda
pardal no fio
Carlos Seabra
ouve o telefone
mas não dá um pio
gente sem terra,
Carlos Seabra
corrupção, desemprego:
mundo em guerra
micro na teia
Carlos Seabra
navega na internet
grão de areia
rochedo no mar
Carlos Seabra
barco afundado
olhos a chorar
estrela do mar
Carlos Seabra
abraça a areia
para a beijar
pássaro preto
Carlos Seabra
tem irmão na gaiola:
pássaro preso
musa sereia -
Carlos Seabra
marinheiro bêbado
ouve baleia
chuva lá fora -
Carlos Seabra
os pássaros, molhados,
foram embora
cubista musa
Carlos Seabra
com os pés na cabeça -
obra confusa
misteriosa,
Carlos Seabra
Mona Lisa só ri
depois que goza...
fera ferida
Carlos Seabra
nunca desiste -
luta pela vida
serra nevada,
Carlos Seabra
cumes tocam o céu -
nuvem furada
um pé no degrau
Carlos Seabra
um passo na escada
bate coração
abelha na flor
Carlos Seabra
a brisa nas árvores
eu com teu sabor
casal trocado
Carlos Seabra
juntos pulam o muro
lado a lado
velha na fonte -
Carlos Seabra
os cântaros se enchem
o sol se esconde
com alicate
Carlos Seabra
abre o maluco
um abacate
mosca na sopa
Carlos Seabra
xilique no boteco
cliente louca
velho jornal
Carlos Seabra
levado pelo vento
prevê temporal
areia quente
Carlos Seabra
pés descalços
corrida para o mar
espuma do mar
Carlos Seabra
adensa o voo das
gaivotas no ar
ouço calado
Carlos Seabra
contigo em Alfama
cantar o fado
que delícia -
Carlos Seabra
um decote aberto
com malícia