vermelho relâmpago
Anibal Beça
irrompe do capim seco:
a cobra coral.
Apenas um gesto
Anibal Beça
e o homem é capaz de vida -
reparto o caqui.
Morcego em surdina
Anibal Beça
morde e sopra o velho gato.
Não contava o pulo...
Girassol na tarde
Anibal Beça
se curva em reverência:
o sol se vai.
Na hora do rush
Anibal Beça
o cheiro do incenso acalma:
hare-krishnas dançam.
Menino amuado
Anibal Beça
quem te deu tamanho bico
foi o tico-tico?
Céu de primavera
Anibal Beça
no jardim dorme a menina.
Qual a flor do sonho?
Partitura alegre:
Anibal Beça
cai a chuva sobre o charco
no ritmo dos sapos.
Na caixa postal
Anibal Beça
a mão sente a queimadura:
taturana presa.
Além do quentão,
Anibal Beça
só a orelha da companheira
me salva do frio.
Gaiola se abrindo
Anibal Beça
e o haijin livre de amarras:
sabiá cantando.
Silêncio de outono.
Anibal Beça
Nem o grito do carteiro...
cochicho de folhas.
Folha no rio
Anibal Beça
vai para o mar sem volta -
chorão se renova.
Abro o armário e vejo
Anibal Beça
nos sapatos meus caminhos.
Qual virá no séquito?
Já é quase dia
Anibal Beça
e a lua brilha no lago.
Ainda é primavera!
Tempo de uiaúa:
Anibal Beça
o rio onde os peixes nascem
é o mesmo que os mata.
Solidão de outubro:
Anibal Beça
folhas varridas no vento
levam meu recado.
Cercada de verde
Anibal Beça
ilha na hera do muro:
uma orquÃdea branca.
Na calma do lago
Anibal Beça
um bufo entre a canarana:
peixe-boi respira.
Uma vida é só uma vida só uma vida é vivida melhor se for dividida e tudo mais é só e tudo mais é e tudo mais e tudo e
Anibal Beça