Broca no bambu
Anibal Beça
deixa furos de flauta.
O vento faz música.
Grito de agonia:
Anibal Beça
periquito na jaqueira
preso na resina.
Teus olhos formam
Anibal Beça
das ázimas lágrimas
rios que retornam ao mar
Susto na colheita:
Anibal Beça
em vez do cupuaçu
cai a casa de vespas.
De manhã, a brisa
Anibal Beça
encrespa o igarapé
e penteia as águas.
Maria-fecha-a-porta
Anibal Beça
ao toque do meu dedo:
ah plantinha tÃmida...
Jogando a tarrafa
Anibal Beça
caboclo desfaz a lua.
Pesca estrelas de escama.
Açougue nas águas:
Anibal Beça
piranhas esquartejam o boi
no meio do rio.
Varrendo folhas secas
Anibal Beça
lembrei-me do mar distante:
chuá de ondas chegando.
Doceira na noite
Anibal Beça
a negra sorriu:
canteiro de estrelas?
Folhas do ciclame
Anibal Beça
ao vento pra lá e pra cá -
um coração pulsa.
Na soleira do sÃtio
Anibal Beça
a graúna canta
ao silêncio do sol.
A cigarra canta
Anibal Beça
o anúncio de sua morte -
formigas na contra-dança.
Hora do recreio:
Anibal Beça
periquitos tagarelas
brigam pelas mangas.
Janela fechada:
Anibal Beça
borboleta na vidraça
dá cor ao meu dia.
Coruja na cumeeira
Anibal Beça
arrepia no seu canto -
a viúva reza.
Com jeito voyeur
Anibal Beça
da soleira da janela
um pombo me espia.
Entre o capim seco
Anibal Beça
uma surpresa rajada:
ovos de codorna.
No ocaso do outono
Anibal Beça
só o carrapicho gruda
na velha calça...
Bem que me agasalho.
Anibal Beça
Galhos sem folhas lá fora
parecem ter frio.
Canto e contracanto:
Anibal Beça
o pica-pau reclamando
do som do machado.
Abre o camponês
Anibal Beça
sulcos de arado na terra:
no seu rosto rugas.
Sol no girassol.
Anibal Beça
Sombra desenha outra flor
no corpo dourado.
A flor do ipê-roxo
Anibal Beça
cai deixando saudades.
Ah, a moça da tarde...
Dançando a quadrilha
Anibal Beça
lembrei de aulas de francês.
Onde a professora?