Nos gestos da mão
Anibal Beça
baila a brasa do cigarro:
pisca o pirilampo.
Ou nós encontramos um caminho, ou abrimos um.
Aníbal
Partitura alegre:
Anibal Beça
cai a chuva sobre o charco
no ritmo dos sapos.
Quase desperdício.
Anibal Beça
Moscas sobre caquis podres
Só o sapo come.
Rapsódia incômoda:
Anibal Beça
ao redor do bóia-fria
moscas do canavial.
Regato tranqüilo:
Anibal Beça
uma libélula chega
e mergulha os pés.
Rio na piracema,
Anibal Beça
peixes pulam nas canoas:
mendigos alegres.
Se deu mal na praia:
Anibal Beça
menino distraído
pisa numa arraia.
Sesta no jardim:
Anibal Beça
a borboleta me acorda.
Coça o meu nariz.
Silêncio de outono.
Anibal Beça
Nem o grito do carteiro...
cochicho de folhas.
Sobe a piracema -
Anibal Beça
ano que vem outros peixes
nadarão de novo.
Sol no girassol.
Anibal Beça
Sombra desenha outra flor
no corpo dourado.
Solidão de outubro:
Anibal Beça
folhas varridas no vento
levam meu recado.
Sozinho na casa.
Anibal Beça
Lá fora o canto das cigarras.
Ah se não fossem elas...
Susto na colheita:
Anibal Beça
em vez do cupuaçu
cai a casa de vespas.
Tempo de uiaúa:
Anibal Beça
o rio onde os peixes nascem
é o mesmo que os mata.
Teus olhos formam
Anibal Beça
das ázimas lágrimas
rios que retornam ao mar
Um pombo no mar
Anibal Beça
traz ao bico verde ramo:
terra à vista?
Uma vida é só uma vida só uma vida é vivida melhor se for dividida e tudo mais é só e tudo mais é e tudo mais e tudo e
Anibal Beça
Varrendo folhas secas
Anibal Beça
lembrei-me do mar distante:
chuá de ondas chegando.
Vento de verão
Anibal Beça
vem com bafo de mormaço -
garoa ameniza.
vermelho relâmpago
Anibal Beça
irrompe do capim seco:
a cobra coral.