Frases de andra luis aquino

> Autores > Andra luis aquino



226 - 250 de 277 pensamentoss de andra luis aquino

ROMEU e JULIETA

PRÓLOGO
Entra o coro.

CORO — Duas casas, iguais em dignidade – na formosa Verona vos dirão – reativaram antiga inimizade, manchando mãos fraternas sangue irmão. Do fatal seio desses dois rivais um par nasceu de amantes desditosos, que em sua sepultura o ódio dos pais depuseram, na morte venturosa. Os lances desse amor fadado à morte e a obstinação dos pais sempre exaltados que teve fim naquela triste sorte em duas horas vereis representados. Se emprestardes a tudo ouvido atento, supriremos as faltas a contento.

Ato I
Cena I
Verona. Uma praça pública. Entram Sansão e Gregório, armados de espada e broquel.

SANSÃO — Por minha palavra, Gregório: não devemos levar desaforo para casa.
GREGÓRIO — É certo; para não ficarmos desaforados.
SANSÃO — O que quero dizer é que quando eu fico encolerizado puxo logo da espada.
GREGÓRIO — Sim, mas se quiseres viver, toma cuidado para não ficares encolarinhado.
SANSÃO — Quando me irritam, eu ataco prontamente.
GREGÓRIO — Mas não te irritas prontamente para atacar.
SANSÃO — Até um cachorro da casa dos Montecchios me deixa irritado.
GREGÓRIO — Ficar irritado é pôr-se em movimento, e ser valente é estacar. Logo, se ficares irritado, pôr-te-ás a correr.
SANSÃO — Um cachorro daquela casa me fará fazer pé firme. Encostar-me-ei na parede contra qualquer homem ou rapariga da casa de Montecchio.
GREGÓRIO — Isso prova que não passas de um escravo fraco, porque o mais fraco é que se encosta à parede.
SANSÃO — É certo; é por isso que as mulheres, como vasilhas mais fracas, são sempre encostadas à parede. Por isso, afastarei da parede os homens de Montecchio e encostarei nela as raparigas.
GREGÓRIO — A pendência é entre nossos amos e nós, seus servidores.
SANSÃO — Pouco importa; hei de revelar-me tirano: depois de lutar com os homens, serei cruel com as raparigas; arranharei a pele de todas as virgens.
GREGÓRIO — Como! A pele de todas as virgens?
SANSÃO — Perfeitamente; a pele de todas as virgens, ou sua pele de virgem. Interpreta isso no sentido que quiseres.
GREGÓRIO — As que o sentirem, que o interpretem no seu verdadeiro sentido.
SANSÃO — A mim elas terão de sentir, enquanto eu for capaz de resistir, pois bem sabes que sou um belo pedaço de carne.
GREGÓRIO — É bom que não sejas peixe; porque se o fosses, não passarias de bacalhau. Vamos; arranca teus instrumentos, que ai vêm vindo dois da casa de Montecchio.
(Entram Abraão e Baltasar.)
SANSÃO — Minha arma nua já está fora; briga tu que eu defenderei tuas costas.
GREGÓRIO — Como assim? Viras as costas e corres?
SANSÃO — Não tenhas medo de mim.
GREGÓRIO — Ora essa! Eu, ter medo de ti?
SANSÃO — Fiquemos com a lei do nosso lado; eles que principiem.
GREGÓRIO — Vou franzir o rosto, quando passar por eles; e eles que interpretem isso como entenderem.
SANSÃO — Não; como ousarem. Vou morder o polegar, o que para eles será desonroso, no caso de não retrucarem.
ABRAÃO — É para nós que estais mordendo o polegar, senhor?
SANSÃO — Estou mordendo o polegar, senhor.
ABRAÃO — É para nós que mordeis o polegar, senhor?
SANSÃO (à parte, a Gregório) – Se eu disser que sim, ficaremos com a lei de nosso lado?
GREGÓRIO (à parte, a Sansão) – Não.
SANSÃO — Não, senhor; não é para vós que estou mordendo o polegar; mas estou mordendo o polegar, senhor.
GREGÓRIO — Estais querendo brigar, senhor?
ABRAÃO – Eu, senhor, querendo brigar? Não, senhor.
SANSÃO — Porque, se o quiserdes, senhor, estou às vossas ordens; sirvo a um senhor tão bom quanto o vosso.
ABRAÃO — Porém não melhor.
SANSÃO — Perfeitamente, senhor.
GREGÓRIO (à parte, a Sansão) – Dize "melhor"; aí vem vindo um parente de nosso amo.
SANSÃO — Sim, senhor: melhor.
ABRAÃO — Estais mentindo.
SANSÃO — Desembainhai, se fordes homem! Gregório, não te esqueças de teu bote de fundo.
(Batem-se.)
(Entra Benvólio.)
BENVÓLIO — Loucos, parai com isso! Guardai vossas espadas. Não sabeis o que fazeis.
(Entra Tebaldo.)
TEBALDO — Como! Sacas da espada contra uns pobres corçozinhos sem força? Aqui, Benvólio! Vem encarar a morte!
BENVÓLIO — Procurava separar esta gente. Guarda a espada e me ajuda a acalmá-los.
TEBALDO — Como! Falas em paz e a espada arrancas? Tão grande ódio tenho a esse termo como ao próprio inferno, a todos os Montecchios e a ti mesmo. Defende-te, covarde!
(Batem-se.)
(Entram partidários das duas casas, que se misturam com os combatentes; depois entram cidadãos, armados de paus e partasanas.)
CIDADÃOS — Varas e partasanas! Derrubai-os! Descei o pau! Abaixo os Capuletos! Fora os Montecchios!
(Entra Capuleto, de roupão de dormir, e a Senhora Capuleto.)
CAPULETO —Que barulho é esse? Minha espada comprida! Ide buscá-la! Olá!
SENHORA CAPULETO — Muletas, isso sim: muletas! Por que pedir espada?
CAPULETO — A espada! digo. Chega o velho Montecchio e brande a lâmina, para fazer-me acinte.
(Entram Montecchio e a Senhora Montecchio.)
MONTECCHIO — Capuleto, Vilão!... Deixai! Tem de se haver comigo.
SENHORA MONTECCHIO — Não darás um só passo para o inimigo.
(Entra o príncipe com seu séqüito.)
PRÍNCIPE — Súditos revoltosos, inimigos da paz, que profanais vossas espadas no sangue dos vizinhos... Quê! Não ouvem? Olá, senhores, animais selvagens que as chamas apagais de vossa fúria perniciosa na fonte purpurina de vossas próprias veias. Sob ameaça de tortura, jogai das mãos sangrentas as armas para o mal, só, temperadas, e a sentença escutai de vosso príncipe irritado. Três vezes essas lutas civis, nascidas de palavras aéreas, por tua causa, velho Capuleto, por ti, Montecchio, a paz de nossas ruas três vezes perturbaram. Os provectos cidadãos de Verona, despojando-se das vestes graves que tão bem os ornam, nas velhas mãos lanças antigas brandem, vosso ódio enferrujado. Se de novo vierdes a perturbar nossa cidade, pela quebrada paz dareis as vidas. Por agora, que todos se retirem. Vós, Capuleto, seguireis comigo, e vós Montecchio, à tarde ireis à velha Cidade-Franca, à corte da Justiça, para conhecimento, assim, tomardes de quanto resolvermos sobre o caso. Já! Sob pena de morte, dispersai-vos!
(Saem todos, com exceção de Montecchio, a senhora Montecchio e Benvólio.)
MONTECCHIO — Quem reavivou esta querela antiga? Sobrinho, dize: onde te achavas na hora?
BENVÓLIO — Antes de eu vir aqui já se encontravam em luta engalfinhados vossos homens e os de vosso inimigo. Tencionando separá-los, saquei de minha espada. Nesse instante, porém, chegou o ardente Tebaldo, espada em punho, que, soprando-me desafios sem conta, não parava de voltear a arma em torno da cabeça, cortando, assim, os ventos que, de nada molestados com isso, só faziam assobiar para ele com desprezo. Enquanto revidávamos os botes e as estocadas, foi chegando gente que aumentou o furor de ambas as partes, até que o duque separasse as partes.
SENHORA MONTECCHIO — Oh! E onde está Romeu? Sabes, acaso? Alegra-me não vê-lo neste caso.
BENVÓLIO — Uma hora antes de haver o sol sagrado cortado as franjas de ouro do nascente, senhora, me levou o inquieto espírito a fazer um passeio lá por fora, onde à sombra de um bosque de sicômoros que se estende para oeste da cidade vi vosso filho a andar, que madrugara. Dirigi-me para ele; mas, havendo-me pressentido, esgueirou-se para a sombra mais densa do arvoredo. Eu, que seu íntimo medira pelo meu, que mais procura justamente onde nada achar consegue, demais já sendo para mim eu próprio, meu capricho segui, deixando o dele, e de grado evitei quem me evitava.
MONTECCHIO — Muitas manhãs tem ele sido visto nesse bosque, a aumentar com suas lágrimas o orvalho matutino e acrescentando com seus suspiros fundos novas nuvens às nuvens existentes. Porém logo que principia o sol, que tudo alegra, a abrir no este longínquo o véu sombroso do tálamo da Aurora, da luz foge meu filho atribulado, recolhendo-se à casa, onde se fecha no seu quarto, cerra as janelas, a luz clara expulsa, e noite artificial, assim, prepara. Poderá acabar mal todo esse enliço, se não for afastada a causa disso.
BENVÓLIO — Meu nobre tio, conheceis a causa?
MONTECCHIO — Não, nem consigo saber dele nada.
BENVÓLIO — Acaso já insististes junto dele?
MONTECCHIO — Não só eu, como alguns amigos nossos. Mas ele confidente de suas próprias inclinações – ignoro até que ponto verdadeiro se mostra – tão discreto consigo mesmo é sempre e tão distante de se deixar sondar e patentear-se como o botão que o verme escuro morde antes que no ar ostente as doces folhas e a formosura à luz do sol dedique. Se a causa eu conhecesse da tristeza deixá-lo-ia curado, isso é certeza.
BENVÓLIO — Ei-lo que chega. Ponde-vos de lado; há de falar-me ou se mostrar zangado.
MONTECCHIO — Oh! Quem dera que o ouvisses, em boa hora, em confissão! Vamos, madame, embora.
(Saem Montecchio e a senhora.)
(Entra Romeu.)
BENVÓLIO — Bom dia, primo.
ROMEU — Como assim! Já é dia?
BENVÓLIO — São nove horas.
ROMEU — A dor é um tardo guia. Não foi meu pai que se afastou com pressa?
BENVÓLIO — Perfeitamente; mas que dor as horas retarda de Romeu?
ROMEU — Não ter aquilo que, se o tivesse, as deixaria curtas.
BENVÓLIO — No amor?
ROMEU — Fora...
BENVÓLIO — Do amor?
ROMEU — Fora do amor de quem me traz cativo.
BENVÓLIO — Ah! que aparência tenha amor tão branda, mas, de fato, seja áspero e tirano
ROMEU — Ah! que, apesar da venda, amor consiga descobrir seus caminhos sem fadiga. Onde iremos comer? Oh! que batalha por aqui houve? Mas não contes nada, que já soube de tudo. O ódio dá muito trabalho por aqui; mas mais, o amor. Então, amor brigão! Ó ódio amoroso! És tudo, sim; do nada fostes criado desde o princípio. Leviandade grave, vaidade séria, caos imano e informe de belas aparências, chumbo leve, fumaça luminosa, chama fria, saúde doente, sono sempre esperto, que não é nunca o que é. Eis aí o amor que eu sinto e que me causa apenas dor. Não queres rir?
BENVÓLIO — Não, primo; chorar quero.
ROMEU — Por quê, bondoso amigo?
BENVÓLIO — Por ver que tens opresso o coração.
ROMEU — Do amor é sempre assim a transgressão. As dores próprias pesam-me no peito; mas agora redobras-lhes o efeito com mostrares as tuas; o tormento que revelaste, ao meu deu mais alento. O amor é dos suspiros a fumaça; puro, é fogo que os olhos ameaça; revolto, um mar de lágrimas de amantes... Que mais será? Loucura temperada, fel ingrato, doçura refinada. Adeus, primo. (Faz menção de retirar-se.)
BENVÓLIO — Mais calma; irei também; se me deixardes não procedeis bem.
ROMEU — Ora, já me perdi. Não sou Romeu. Esse está longe. Está não sei bem onde.
BENVÓLIO — Dizei-me seriamente a quem amais.
ROMEU — Como! Precisarei gemer o tempo todo que te falar?
BENVÓLIO — Gemer? Oh, não! Mas dizer, em verdade, quem seja ela.
ROMEU — Mandai fazer o doente o testamento. Que idéia triste para o desalento! Primo, em verdade: adoro uma mulher.
BENVÓLIO — Acertado também nesse alvo eu tinha, ao vos imaginar apaixonado.
ROMEU — Ótimo atirador! E ela é formosa.
BENVÓLIO — Primo, acertar assim é grande dita.
ROMEU — Nisso vos enganais. Ela é catita. A seta de Cupido não cogita de bater nela. Sábia como Diana, a castidade é sua soberana. Do arco gentil do amor está amparada e, assim, da lenga-lenga apaixonada. Resistir pode a todos os assaltos dos olhares morteiros, não chegando nunca a cair-lhe no regaço a chuva de ouro que os próprios santos tem vencido. Oh! é rica em beleza, mais que bela, porque a beleza morrerá com ela.
BENVÓLIO — Então jurou que sempre há de ser casta?
ROMEU — Jurou; e sua avareza tão nefasta grandes estragos fez, pois a beleza com tal severidade, de fraqueza quase veio a morrer, tendo ficado sem prole alguma. Incrível atentado! É muito bela e sábia, sabiamente formosa para estar sempre contente com me fazer sofrer. Fez juramento de não amar jamais, um só momento. E nesse voto infausto eu vivo morto só de a todos contar meu desconforto.
BENVÓLIO — Por mim guiar te deixes nisso: esquece-a
ROMEU — Oh! A esquecer-me ensina o pensamento.
BENVÓLIO — Dá liberdade aos olhos; examina outras belezas.
ROMEU — Esse é o meio certo de mais consciente me tornar ainda de sua formosura em tudo rara. Essas felizes máscaras que as frontes beijam das jovens belas, sendo pretas pensar nos fazem que a beleza escondem. Quem chegou a cegar, jamais se esquece da jóia rara que perdeu com a vista. Mostrai-me uma mulher de inexcedível formosura; para algo servir pode, senão de sugestão para que eu leia quem a excedeu em tanta formosura? Não, nunca hás de ensinar-me o esquecimento.
BENVÓLIO — Hei de nisso empregar o meu talento.
(Saem.)

Cena II
O mesmo. Uma rua. Entram Capuleto, Páris e um criado.

CAPULETO — Tanto eu como Montecchio recebemos igual penalidade. Como velhos em paz viver não nos será difícil.
PÁRIS — Ambos gozais de altíssimo conceito, sendo de lastimar que há tanto tempo vivais em desavença. Mas agora, milorde, que dizeis de meu pedido?
CAPULETO — Repito o que já disse. Minha filha ainda é uma estrangeira neste mundo; mal o curso notou de quatorze anos. De dois estios murchará o orgulho, sem que ouçamos das núpcias o barulho.
PÁRIS — Mães venturosas já são muitas outras jovens mais moças ainda.
CAPULETO — As que começam antes do tempo, também morrem cedo. Todas as minhas esperanças foram tragadas pela terra; somente essa me resta, herdeira grata do que tenho. Mas meu Páris gentil, falai com ela; nisso, minha vontade uma parcela, tão-só, é do seu querer. Sendo do gosto dela, no mesmo ponto estou disposto a dar, alegre, o meu consentimento. Seguindo agora o velho regimento, darei hoje uma festa de alegria para a qual convidei a companhia de pessoas amigas. Vós, também, sendo mais um, fazeis, como ninguém, jus ao convite. Completai a lista, sem ser preciso que eu sobre isso insista. Em minha pobre casa heis de irradiantes estrelas hoje ver, que, mui galantes, da terra lançam luz ao céu sombrio. A sensação que tem o homem sadio, quando abril ataviado segue os passos do coxo inverno, trêmulos e lassos, em casa hoje heis de ter, no mesmo instante em que virdes o bando deslumbrante de botões femininos. Sede atento para todas, mostrai contentamento com a que vos parecer mais bem prendada. Entre muitas, também, examinada minha filha há de ser, que embora possa ter mérito, a nenhuma fará mossa. Vinde comigo. (Entrega um papel a um dos criados.) Olá, rapaz! Depressa corre à bela Verona e os nomes dessa lista procura, a todos anunciando que hoje terão de minha casa o marido.
(Saem Capuleto e Páris.)
CRIADO — Procurar os donos dos nomes desta lista! Está escrito que o sapateiro se ocupará com sua jarda, o alfaiate com suas formas, o pescador com seu pincel, o pintor com suas redes. Mas a mim me incumbem de procurar os donos dos nomes escritos aqui, sem que eu jamais possa encontrar os nomes anotados pela pessoa que escreveu isto. Tenho de procurar gente instruída. Oh! Em boa hora!
(Entram Benvólio e Romeu.)
BENVÓLIO — Ora, rapaz! Incêndio a incêndio cura. Uma dor faz minguar a mais antiga. Desvirar do virar sara a tontura. Um desespero a velha dor mitiga. Deixa os olhos pegar nova infecção, porque da velha possas ficar são.
ROMEU — Vossa folha de plátano para isso fora excelente.
BENVÓLIO — Para quê, amigo?
ROMEU — Para perna quebrada.
BENVÓLIO —- Estás maluco, Romeu?
ROMEU — Maluco? Não; mas mais atado do que um louco furioso; encarcerado, morto de fome, chibateado, posto no banco de tormento e... Salve, amigo
CRIADO — Deus vos salve, senhor. Por obséquio, senhor, sabeis ler?
ROMEU — Sei, sim; minha miséria e a própria sorte.
CRIADO — Talvez tivésseis aprendido isso sem o auxílio de livros. Mas, por obséquio, sereis capaz de ler tudo o que virdes?
ROMEU — Sou, se souber a língua e vir o escrito.
CRIADO — Falais com honestidade. Passai bem. (Faz menção de retirar-se.)
ROMEU — Espera aí, rapaz; sei ler. "Signior Martino, sua esposa e filhas; o conde Anselmo com suas encantadoras irmãs; a senhora viúva de Vitrúvio; signior Placêncio e suas amáveis sobrinhas; Mercúcio e seu irmão Valentino; meu tio Capuleto, sua esposa e filhas; minha linda sobrinha Rosalina; Lívia: o signior Valêncio com seu primo Tebaldo; Lúcio e a encantadora Helena." Belo conjunto. Onde é que será isso?
CRIADO — Lá em cima.
ROMEU — Onde?
CRIADO — Na ceia em nossa casa.
ROMEU — Casa de quem?
CRIADO — Do meu amo.
ROMEU — Com efeito; é o que eu deveria ter perguntado em primeiro lugar.
CRIADO — Mas vou dizer-vos, sem que mo pergunteis. Meu amo é o grande e rico Capuleto, e se não fordes da casa dos Montecchios, peço-vos que também vades esvaziar uma taça de vinho. Prossegui alegre. (Sai.)
BENVÓLIO — Nessa tradicional festividade de Capuleto vai cear a tua formosa Rosalina, juntamente com as demais beldades de Verona. Vai também, e com olhos imparciais compara o rosto dela com o de quantas eu te mostrar por lá, que sem estorvo, verás teu cisne transformado em corvo.
ROMEU — Se meus olhos devotos falsidade tão grande sustentarem, que em fogueira de suas lágrimas morra sem piedade, como hereges passíveis de cegueira. Mais linda que ela! Nunca o sol radiante no mundo todo viu tão bela amante.
BENVÓLIO — Pesaste-a nos dois pratos da balança de teus olhos, sem outra vizinhança. Mas sopesa nos pratos de cristal tua beldade e outra qualquer vestal que eu te mostrar brilhante nessa festa, e logo a tua te será indigesta.
ROMEU — Irei; não para ver tal resplendor, mas para me ofuscar em meu amor.
(Saem.)

Cena III
O mesmo. Um quarto em casa de Capuleto. Entram a senhora Capuleto e a ama.

SENHORA CAPULETO — Ama, onde está Julieta? Vai chamá-la
AMA — Por minha virgindade quando eu tinha doze anos: já a chamei. Minha ovelhinha. Vem cá, meu coração! Deus me perdoe, mas onde está a menina? Oh, Julieta!
(Entra Julieta.)
JULIETA — Que é que houve? Quem me chama?
AMA — Vossa mãe.
JULIETA — Senhora, aqui estou eu. Que desejais?
SENHORA CAPULETO — Eis o assunto... Ama, deixa-nos sozinhas por algum tempo. Tenho de falar-lhe muito em particular. Não, ama: volta! Lembrei-me agora que é preciso que ouças nossa conversa, pois há muito tempo conheces minha filha.
AMA — É certo, posso dizer que idade tem, hora por hora.
SENHORA CAPULETO — Tem quatorze anos incompletos.
AMA — Jogo quatorze de meus dentes – muito embora, para minha aflição, só tenha quatro – em como não fez ainda quatorze anos. Para um de agosto quanto falta ainda?
SENHORA CAPULETO — Uma quinzena e pouco.
AMA — Pouco ou muito, não importa. O que é certo é que no dia um de agosto completa quatorze anos. Ela e Susana – Deus ampare as almas cristãs! – eram da mesma idade. Bem; Susana está com Deus. Mas, como disse: na noite de primeiro ela completa quatorze anos. É certo: quatorze anos. Lembro-me bem. Desde o tremor de terra, onze anos se passaram. Desmamada foi nesse tempo; nunca hei de esquecê-lo, pois nos seios passado havia losna, sentada ao sol, embaixo do pombal. Vós e o patrão em Mântua vos acháveis – Oh! que memória a minha! – Mas, como ia dizendo: quando ela sentiu o gosto de losna no mamilo e o achou amargo – coisinha tola! – como ficou brava! como bateu nos seios! Nisso, "Crac!" fez o pombal. Não foi preciso mais para eu mexer-me. Já se passaram, desde então, onze anos. De pé, sozinha, ela já então ficava. Sim, pela Santa Cruz, podia mesmo correr a cambalear por toda a casa, pois no dia anterior ferira a testa. Foi quando meu marido – Deus conserve sempre sua alma! Era de gênio alegre – levantou a menina. "Sim", disse ele, "caís agora de frente? Pois de costas cairás, quando tiveres mais espírito. Não é, Julu?" E, pela Santa Virgem, parando de chorar, a pirralhinha respondeu: "Sim". Uma pilhéria fina verti sempre a tempo. Juro que ainda mesmo que mil anos eu viva, jamais hei de me esquecer do episódio. Perguntou-lhe: "Não é, Julu?" E aquela pirralhinha parando de chorar, respondeu: "Sim".
SENHORA CAPULETO — Sobre isso, basta. Fica quieta, peço-te.
AMA — Pois não, senhora; mas não me é possível deixar de rir, ao recordar como ela interrompeu o choro e disse "Sim". No entretanto, crescera-lhe na testa, jurar posso. um calombo grande como testículo de galo. Que pancada! E ela chorava amargamente. "É certo", disse-lhe meu marido; "cais de frente, não é assim? Mas vais cair de costas, quando fores maior. Não é, Julu?" E ela, já sem chorar, respondeu: "Sim".
JULIETA — Então pára também, ama; é o que peço.
AMA — Bem, já acabei. Que Deus te tenha em graça. Foste a criança mais linda que eu criei. Se algum dia eu puder ver-te casada, é tudo o que desejo.
SENHORA CAPULETO — Pois foi para falar em casamento que te chamei. Filha Julieta, dize-me: em que disposição estás para isso?
JULIETA — É uma honra com a qual jamais sonhei.
AMA — Honra! Se não tivesses tido apenas uma ama, afirmaria que, com o leite, tinhas mamado juízo.
SENHORA CAPULETO — Pois estamos na época de pensar em casamento. Mais jovens do que vós, aqui em Verona, senhoras de respeito, já são mães. Se não me engano, vossa mãe tornei-me com a mesma idade em que ainda sois donzela. Para ser breve: o valoroso Páris requesta vosso amor.
AMA — Que homem, menina! Um homem desses... Não... Em todo o mundo... Só feito de encomenda.
SENHORA CAPULETO — A primavera de Verona não tem mais bela flor.
AMA — Sim, uma flor! A verdadeira flor.
SENHORA CAPULETO — Que dizeis? Sois capaz de amar o jovem? Hoje à noite vê-lo-eis em nossa festa. Folheai o livro de seu jovem rosto, que nele encontrareis doces encantos escritos pela pena da beleza. Examinai-lhe os traços delicados e vede como se acham bem casados. E se no livro achardes algo obscuro, encontrareis nos olhos o esconjuro. Esse manual de amor só necessita de uma capa adequada e bem bonita. Vive no mar o peixe; é muito certo que deva o amor ficar algo encoberto. As letras de ouro da lombada a glória terão em parte da formosa história. Ficareis, pois, com ele associada sem que vos diminuais, com isso, em nada.
AMA — Oh! não diminuirá. Pelo contrário; as mulheres com os homens sempre aumentam.
SENHORA CAPULETO — Enfim, que me dizeis do amor de Páris?
JULIETA — Vou ver se prendo nele os meus olhares. Mas a vista chegar além não há de do que me consentir vossa vontade.
(Entra um criado.)
CRIADO — Senhora, os hóspedes já chegaram; a comida está na mesa; estais sendo procurada; reclamam a presença da senhorita; na copa amaldiçoam a ama. Tudo está de pernas para o ar. Tenho de voltar para servir. Por obséquio, vinde logo, vinde logo.
SENHORA CAPULETO — Já te sigo. Julieta, o conde espera.
AMA — Belas noites te almejo; sou sincera.
(Saem.)

Cena IV
O mesmo Uma rua. Entram Romeu, Mercúcio, Benvólio, com cinco ou seis mascarados, portadores de tochas e outras pessoas.

ROMEU — Por escusas faremos um discurso, ou entramos sem nenhuma apologia?
BENVÓLIO — Muito falar destoa deste dia. Não precisamos hoje de Cupido com venda sobre os olhos e arco tártaro de ripa multicor, que infunde medo, como espantalho o faz, no mulherio. Não; nem também de prólogo matado, que o ponto diz antes de nossa entrada. Que nos tomem por quem melhor acharem; mediremos com todos alguns passos e, após, saímos.
ROMEU — Dai-me uma das tochas; não me acho hoje disposto para saltos. Estando enfarruscado, aclaro a estrada.
MERCÚCIO — Não; tereis de dançar, gentil Romeu.
ROMEU — Não; podeis crer-me: tendes sapatinhos de sola leve, própria para dança. Eu, tenho alma de chumbo que, prendendo-me à terra, não me deixa dar um passo.
MERCÚCIO — Sois um apaixonado. Por empréstimo tomai as lestes asas de Cupido, que heis de pairar por sobre a mediania.
ROMEU — Tão traspassado estou por suas setas que suas lestes asas não conseguem transportar-me para o alto: tão peado, que não posso deixar a dor obscura, sob o fardo do amor gemendo sempre.
MERCÚCIO — Mas para estar sob ele, é necessário que carregueis o amor, peso excessivo para coisa tão terna.
ROMEU — Coisa terna julgais que seja o amor? Não; muito dura: dura e brutal, e fere como espinho.
MERCÚCIO — Se o amor convosco é duro, sede duro também com ele, revidando todas as pancadas que der. Ponde-o no chão. Dai-me uma cobertura para o rosto. Em cima de uma máscara ponho outra. Que me importa que o olhar curioso possa perceber a feiúra? Por mim hão de corar estas salientes sobrancelhas.
BENVÓLIO — Vamos bater e entrar e, uma vez dentro, que bom uso das pernas todos façam.
ROMEU — Dai-me uma tocha; que esses rapazolas de leve coração cócegas façam com os sapatos nos juncos insensíveis. Já meu avô dizia sentencioso: seguro a luz e fico a observar tudo. Fora, muita algazarra; eu, triste e mudo.
MERCÚCIO — Mudo é o rato no charco, diz o guarda. Se mudo te tornares, arrancamos-te do charco – com licença! – de Cupido, onde estás enterrado até às orelhas. Sigamos, que isto é acender luz de dia.
ROMEU — Não, não é isso.
MERCÚCIO — Minha alegoria, senhor, indica que, como de dia, gastamos nossa luz inutilmente. Conservai esse dito sempre em mente, que mais saber contém do que, reunidos, todos os nossos cinco ou seis sentidos.
ROMEU — Sim, é o que faço nesta mascarada; mas é absurdo.
MERCÚCIO — Por que não vos agrada?
ROMEU — Tive um sonho esta noite.
MERCÚCIO — Oh! eu também.
ROMEU — Sobre quê?
MERCÚCIO — Sonho algum verdade tem.
ROMEU — Quando dormimos, tudo neles cabe.
MERCÚCIO — Oh! Visitou-vos a Rainha Mab.
BENVÓLIO — Quem é a Rainha Mab?
MERCÚCIO — É a parteira das fadas, que o tamanho não chega a ter de uma preciosa pedra no dedo indicador de alta pessoa. Viaja sempre puxada por parelha da pequeninos átomos, que pousam de través no nariz dos que dormitam. As longas pernas das aranhas servem-lhe de raios para as rodas; é a capota de asa de gafanhotos; os tirantes, das teias mais sutis; o colarzinho, de úmidos raios do luar prateado. O cabo do chicote é um pé de grilo; o próprio açoite, simples filamento. De cocheiro lhe serve um mosquitinho de casaco cinzento, que não chega nem à metade do pequeno bicho que nos dedos costuma arredondar-se das criadas preguiçosas. O carrinho de casca de avelã vazia, feito foi pelo esquilo ou pelo mestre verme, que desde tempo imemorial o posto mantém de fabricante de carruagens para todas as fadas. Assim posta, noite após noite ela galopa pelo cérebro dos amantes que, então, sonham com coisas amorosas; pelos joelhos dos cortesãos, que com salamaleques a sonhar passam logo; pelos dedos dos advogados, que a sonhar começam com honorários; pelos belos lábios das jovens, que com beijos logo sonham, lábios que Mab, às vezes, irritada, deixa cheios de pústulas, por vê-los com o hálito estragado por confeitos. Por cima do nariz de um palaciano por vezes ela corre, farejando logo ele, em sonhos, um processo gordo. Com o rabinho enrolado de um pequeno leitão de dízimo, ela faz coceiras no nariz do vigário adormecido, que logo sonha com mais um presente. Na nuca de um soldado ela galopa, sonhando este com cortes de pescoço, ciladas, brechas, lâminas de Espanha e copázios bebidos à saúde, de cinco braças de alto. De repente, porém, estoura pelo ouvido dele, que estremece e desperta e, aterrorado, reza uma ou duas vezes e, de novo, põe-se a dormir. É a mesma Rainha Mab que a crina dos cavalos enredada deixa de noite e a cabeleira grácil dos elfos muda em sórdida melena que, destrançada, augura maus eventos. Essa é a bruxa que, estando as raparigas de costas, faz pressão no peito delas, ensinando-as, assim, como mulheres, a agüentar todo o peso dos maridos. É ela, ainda...
ROMEU — Paz, Mercúcio! Paz!
MERCÚCIO — Sim, só falo de sonhos, prole ociosa de um cérebro vadio, a qual de nada provém senão da inútil fantasia, que é tão firme como o ar, mais inconstante do que o vento que faz a corte ao frio seio do norte e, sendo repelido, volta de lá bufando e o rosto vira para o sul orvalhoso.
BENVÓLIO — Pois o vento de que falais nos toca para longe de nós próprios. A ceia está acabada; chegamos muito tarde.
ROMEU — Oh! muito cedo, tenho receio. Apreende meu espírito algo que ainda pende das estrelas e que vai iniciar seu fatal curso na festa desta noite, pondo termo à vida desprezível que eu carrego no peito, com qualquer delito absurdo de morte extemporânea. Mas Aquele que se acha no timão de minha viagem vai dirigir-me a vela. Adiante, amigos
BENVÓLIO — Tocai, tambor!
(Saem.)

Cena V
O mesmo. Um salão em casa de Capuleto. Músicos esperam. Entram criados.

PRIMEIRO CRIADO — Onde está o Caçarola, que não vem ajudar a tirar a mesa? Aquele troca-pratos! Olá, Raspa-pratos!
SEGUNDO CRIADO — Retira esses tamboretes, arrasta o aparador. Cuidado com a baixela! Amigo, separa para mim um pedaço de massapão. E se me tens amizade, dize ao porteiro que deixe entrar Nell e Susana Grindstone. Antônio! Caçarola!
TERCEIRO CRIADO — Aqui, rapaz! Estamos prontos.
PRIMEIRO CRIADO — Estão vos chamando, estão vos procurando, reclamam vossa presença na sala grande.
TERCEIRO CRIADO — Não podemos estar aqui e lá ao mesmo tempo.
SEGUNDO CRIADO — Alegria, rapazes! Ficai lépidos pelo menos uma vez na vida. Quem viver mais tempo, ficará com tudo.
(Afastam-se para o fundo.)
(Entram Capuleto, Julieta e outras pessoas da casa, que se encontram com hóspedes e mascarados.)
CAPULETO — Cavalheiros, bem-vindos. As senhoras que não sofrerem no dedão de calos hão de dançar convosco. Olá, senhoras! Qual de vós há de agora recusar-se a dar uma voltinha? A que mimosa se mostrar por demais, faço uma aposta em como terá calos. Como! Agora ficamos juntos? Sede aqui bem-vindos, meus senhores! Já vi também os dias em que punha uma máscara e sabia cochichar uma ou duas palavrinhas nuns ouvidos bonitos. E agradavam! Mas já lá vai o tempo... Tudo passa. Sois bem-vindos, senhores. Vinde, músicos! Tocai logo! Licença! Abri caminho... Com licença! Meninas, ligeireza! (Música e dança.) Mais luz, marotos! Arrastai as mesas e apagai esse fogo, que está muito quente aqui dentro. Ah! essas brincadeiras inesperadas chegam sempre a tempo. Sim, sentai-vos, sentai-vos, caro primo Capuleto; nós dois já não estamos na idade de dançar. Há quanto tempo deixamos de pôr máscara?
SEGUNDO CAPULETO — Trinta anos, pela Virgem; trinta anos.
CAPULETO — Como, primo! Não, não faz tanto tempo; é muita coisa. Foi desde o casamento de Lucêncio. Venha quando quiser o Pentecostes, serão vinte e cinco anos.... Nós, de máscara...
SEGUNDO CAPULETO — Muito mais! Muito mais! O filho dele, senhor, tem mais idade; tem trinta anos.
CAPULETO — Que dizeis! Pois se esse filho dele há uns dois anos maior não era ainda!
ROMEU — Que dama é aquela que enriquece o braço daquele cavalheiro?
CRIADO — Desconheço-a, meu senhor.
ROMEU — Oh! ela ensina a tocha a ser luzente. Dir-se-ia que da face está pendente da noite, tal qual jóia mui preciosa da orelha de uma etíope mimosa. Bela demais para o uso, muito cara para a vida terrena. Como clara pomba ao lado de gralhas tagarelas, anda no meio das demais donzelas. Vou procurá-la, ao terminar a dança porque a esta rude mão possa dar ansa de tocar nela e, assim, ficar bendita. Meu coração, até hoje, teve a dita de conhecer o amor? Oh! que simpleza! Nunca soube até agora o que é beleza.
TEBALDO — Pela voz este aqui é algum Montecchio. Rapaz, vai buscar logo minha espada. Como! Esse escravo atreve-se a, com máscara grotesca, vir aqui, para de nossa festividade rir e fazer pouco? Pela honra do meu sangue e nobre estado, dar-lhe a morte não julgo ser pecado.
CAPULETO — Que tens, sobrinho? Que se dá contigo?
TEBALDO — Tio, aquele é um Montecchio, nosso inimigo; um vilão que aqui entrou por zombaria, para nos estragar toda a alegria.
CAPULETO — Não é o jovem Romeu?
TEBALDO — O mesmo, o biltre Romeu.
CAPULETO — Gentil sobrinho, fica quieto; deixa-o tranqüilo. Ele se tem mostrado perfeito gentil-homem. Para ser-te franco, Verona tem orgulho dele, como rapaz virtuoso e mui polido. Nem por toda a riqueza da cidade quisera que ele aqui fosse ofendido. Acalma-te, portanto, e fica alegre; essa é a minha vontade. Se a acatares, fica alegre e desfaze essa carranca que não vai bem com nossa alacridade.
TEBALDO — Vai, sim, quando um vilão se mete nela. Não o suporto.
CAPULETO — Terás de suportá-lo. Como, rapaz! Estou mandando: deixa-o! Quem manda aqui, acaso; vós ou eu? Ora, não o suportais! Deus me salve a alma. Quereis fazer barulho entre meus hóspedes? Provocar briga? Ser mandão na festa?
TEBALDO — Mas, tio, é vergonhoso...
CAPULETO — Ide, ide. Sois petulante, não? Prejudicar-vos ainda pode esta história. Sei de tudo. Procurais contrariar-me? Eis o momento. – Muito bem, corações! – Sois um fedelho. Ide acalmar-vos – Luz! Mais luz! – Que opróbrio! Já vou deixar-vos quieto. – Assim, meus caros! Alegria! Alegria!
TEBALDO — A paciência e o furor, equilibrados, inativos me deixam com seus brados. Vou sair; mas o intruso que hoje é mel, será amanhã o mais amargo fel. (Sai.)
ROMEU — (a Julieta) – Se minha mão profana o relicário em remissão aceito a penitência: meu lábio, peregrino solitário, demonstrará, com sobra, reverência.
JULIETA — Ofendeis vossa mão, bom peregrino, que se mostrou devota e reverente. Nas mãos dos santos pega o paladino. Esse é o beijo mais santo e conveniente.
ROMEU — Os santos e os devotos não têm boca?
JULIETA — Sim, peregrino, só para orações.
ROMEU — Deixai, então, ó santa! que esta boca mostre o caminho certo aos corações.
JULIETA — Sem se mexer, o santo exalça o voto.
ROMEU — Então fica quietinha: eis o devoto. Em tua boca me limpo dos pecados. (Beija-a.)
JULIETA — Que passaram, assim, para meus lábios.
ROMEU — Pecados meus? Oh! Quero-os retornados. Devolve-mos.
JULIETA — Beijais tal qual os sábios.
AMA — Vossa mãe quer falar-vos, senhorita.
ROMEU — Quem é a mãe dela?
AMA — Ora essa, cavalheiro! A dona desta casa, certamente, uma digna senhora, honesta e sábia. Amamentei-lhe a filha, a senhorita com que falastes. E uma coisa eu digo, com certeza: quem vier a desposá-la, ficará cheio de ouro.
ROMEU — É Capuleto? Oh conta cara! Minha vida é dívida de hoje em diante no livro do inimigo.
BENVÓLIO — A festa já acabou; vamos embora.
ROMEU — Acabou? Para mim começa agora.
CAPULETO — Não, cavalheiros, não saiais tão cedo; ainda teremos uma ceiazinha. Mas partis mesmo? A todos, obrigado. Muito obrigado, honesto cavalheiro. Boa noite. – Trazei-me aqui mais tochas! Sendo assim, vou deitar-me. É certo, amigo: já está ficando tarde. Vou deitar-me.
(Saem todos, com exceção de Julieta e a ama.)
JULIETA — Ama, quem é aquele gentil-homem?
AMA — Herdeiro e filho de Tibério, o velho.
JULIETA — E aquele que ora passa pela porta?
AMA — Se não me engano, é o filho de Petrucchio.
JULIETA — E aquele que ali vai, que não dançou?
AMA — Não sei quem seja.
JULIETA — Então vai perguntar-lhe como se chama. Vai! Se for casado, um túmulo será todo o meu fado.
AMA — Romeu é o nome dele; é um dos Montecchios, filho único do vosso grande inimigo.
JULIETA — Como do amor a inimizade me arde! Desconhecido e asnado muito tarde. Como esse monstro, o amor, brinca comigo: apaixonada ver-me do inimigo!
AMA — Como assim? Como assim?
JULIETA — Isso é uma rima que aprender fui com quem dancei há pouco.
AMA — Já vamos! Um momento! – Está na hora; já se foram os hóspedes embora.
(Saem.)

luis henrique da costa silva

Roubando corações

Luis Fernando Veríssimo

Roubar um coração

Luis Fernando Veríssimo

Sabemos que estamos velhos quando, essas crises por que passávamos na primavera, nos passam a acometer no inverno.

Luís Eusébio

São poucos os políticos que sabem fazer política. Mas, quando um intelectual tenta entrar nesse meio, então é o fim do mundo.

Jorge Luis Borges

Se o governo vai bem, todos vão bem. Se vai mal, afundamos juntos.

Luis Inácio Lula da Silva

Se tanta pena tenho merecida
Em pago de sofrer tantas durezas,
Provai, Senhora, em mim vossas cruezas,
Que aqui tendes u~a alma oferecida.

Nela experimentai, se sois servida,
Desprezos, desfavores e asperezas,
Que mores sofrimentos e firmezas
Sustentarei na guerra desta vida.

Mas contra vosso olhos quais serão?
Forçado é que tudo se lhe renda,
Mas porei por escudo o coração.

Porque, em tão dura e áspera contenda,
ƒÉ bem que, pois não acho defensão,
Com me meter nas lanças me defenda.

Luís de Camões

Se te sentares no fundo de um poço, para observar o céu, vais acha-lo muito pequeno

Luis Carlos

Sei o que é amar,
so não sabia que sofrer
por amar doia tanto

Luis Henrique da Costa Silva

RESISTA
Resista um pouco mais, mesmo que as feridas latejam e que sua coragem esteja cochilando
Resista mais um minuto e será fácil resistir aos demais
Resista mais um instante, mesmo que a derrota seja um ima, mesmo que a desilusão caminhe em sua direção
Resista mais um pouco, mesmo que os invejosos digam para voce parar, mesmo que sua esperança esteja no fim
Resista mais um momento, mesmo que voce não possa avistar ainda linha de chegada.Mesmo que as inseguranças brinquem de roda a sua volta.
Resista um pouco mais, mesmo que a sua vida esteja sendo pesada como a consciência dos insensatos e voce se sinta indefeso como um pássaro de asas quebradas
Resista, porque o ultimo instante da madrugada e sempre aquele que puxa a manha pelo braço e essa manha bonita, ensolarada, sem algemas, nascera para voce em breve, desde que voce resista.
Resista, porque estamos sentados na arquibancada do tempo, torcendo ansiosos para que voce vença e ganhe de deus o troféu que voce merece: A FELICIDADE

Everton luis Da Silva

Se toda vez que eu pensasse em você uma estrela do céu apagasse, talvez nesse céu imenso nenhuma estrela brilhasse.

Desejo a você a metade de toda a felicidade do mundo, pois a outra metade já é minha por ter conhecido você.

O amor que sinto por você é como o som de uma lágrima: não se vê, não se escuta, apenas se sente.

Primeiro te conheci, depois nasceu uma amizade e hoje descobri que te amo de verdade!

Olhe em meus olhos e veja o brilho que eles tem, ouça a voz da minha alma gritando que sem você não sou ninguém.

É mais fácil uma estrela cair do céu com o vento, do que você sair do meu pensamento.

Sonhei que o fogo gelava, sonhei que o gelo queimava, de tanto sonhar o impossível, sonhei que você me amava.

;D

Luís Guilherme

Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria.

Jorge Luis Borges

Sempre que ofereço um posto vago, faço centenas de insatisfeitos e um ingrato.

Luís XIV

Sendo certo que em qualquer dos casos fica a perder…

Nunca entendi porque motivo se ameaça cortar a pilinha aos meninos,
quando às meninas ninguém ameaça cortar a língua.

Luís Eusébio

Serenidade é mergulhar no mar, sabendo que não é por falta de bóias que, decididos, nos afogamos.

Luís Eusébio

Seu coração

Seu coração é o sol ao meio dia,
Água que brota da fonte de água boa,
Você e mais certeira que poesia
De Chico, de Bandeira, de Pessoa...

É livre, como a lua quando brilha,
É leve, como um pássaro quando voa,
É soberana, feito a Estrela-guia,
É suave, como a mão quando abençoa,

Prudente, porque sabe aonde é que pisa,
Você possui a discrição da brisa
E a estabilidade da canoa...

A sua elegância desestabiliza...
Você me desarruma e me organiza,
Por isso, às vezes, sonho, rindo a toa...

Luis Tavares

Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

Luís Fernando Veríssimo

SINTO-ME COMO UM SER PERDIDO EMBORA VIVA E RESPIRE!
PERDIDO PORQUE NÃO A TENHO AO MEU LADO,NÃO A OUÇO,NÃO A VEJO...E NADA EXISTE NESTE MUNDO QUE POSSA SER COMPARADO À BELEZA DE SEU ROSTO E A MACIÊS DE SUA PELE!
O TEMPO PASSA PARA MIM,MUITO LENTO...
E DAS LEMBRANÇAS TIRO FORÇAS PARA MENTER-ME LONGE DE TI,POIS COMO DISSE O POETA,NÃO A DOR TÃO GRANDE COMO A GRANDE DOR DE UMA SAUDADE PARA FAZER-NOS GRANDES ESPERANÇOSOS NO FUTURO...
POIS VIVO POR VOCÊ E PARA VOCÊ,E SAIBA QUE ESTOU GUARDANDO MUITAS COISAS EM MEU CORAÇÃO,PARA LHE DIZER,E LEMBRE-SE DE MIM COMO EU TE RECORDO A CADA MOMENTO...
TE AMOE EM VC ME ETERNIZO.

Rogério Luis Fernandes

Ser feliz não é ter uma vida perfeita, sem dor e sem lágrimas; mas saber usar as lágrimas para regar a esperança e a alegria de viver. Ser feliz é saber usar as pedras nas quais tropeçamos para reforçar as bases da paciência e da tolerância. Não é apenas se encantar com os aplausos e elogios; mas saber encontrar uma alegria perene no anonimato.

Ser feliz não é voar num céu sem tempestade, caminhar numa estrada sem acidentes, trabalhar sem fadiga e cansaço, ou viver relacionamentos sem decepções; é saber tirar a alegria de tudo isto e apesar de tudo isto. Ser feliz não é só valorizar o sorriso e a festa, mas saber também refletir sobre o valor da dor e a tristeza. Não é só se rejubilar com os sucessos e as vitórias, mas saber tirar as grandes lições de cada fracasso amargo.

Ser feliz é não se decepcionar e nem desanimar com os obstáculos e dificuldades, mas usá-los para abrir as janelas da inteligência e modelar a maturidade.Ser feliz é ser forte na hora de perdoar, ter esperança no meio da batalha árdua, lutar com bravura diante do medo, saber suportar os desencontros. É acreditar que a vida é a maior empresa do mundo.

Ser feliz é jamais desistir de si mesmo e das outras pessoas. É jamais desistir de ser feliz; vivendo e crendo que a vida é um espetáculo e um banquete. Ser feliz é uma atitude de vida; uma maneira de encarar cada dia que recebemos como um lindo presente de Deus. É não se esquecer de agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida que se renova.

Ser feliz é crer que há pessoas esperando o seu sorriso e que precisam dele. É saber procurar o que há de bom em tudo e em todos, antes de ver os defeitos e os erros.Ser feliz é não fazer dos defeitos dos outros uma distância mas uma oportunidade de aproximação e de doação de si mesmo. É saber entender as pessoas que pensam diferente de nós e saber ouvi-las atentamente, sem respondê-las com raiva.

Ser feliz é saber ouvir o que cada pessoa tem a nos dizer, sem prejulgar ou desprezar o que tem para nos dizer. É saber sonhar, mas sem deixar o sonho se transformar em fuga alienante. Ser feliz é fazer dos obstáculos degraus para subir, sem deixar de ajudar aqueles que não conseguem subir os degraus da vida. É saber a cada dia descobrir o que há de bom dentro de você e usar isto para o seu bem e o dos outros.

Ser feliz é saber sorrir, mas sem se esconder maliciosamente atrás do sorriso; mostrar-se como você é, sem medo. É não ter medo dos próprios sentimentos e ter coragem de se conhecer e de se amar. É deixar viver a criança alegre, feliz, simples e pacífica que existe dentro de você. Ser feliz é ser capaz de atravessar um deserto fora de si mesmo, mas ser sempre capaz de encontrar um oásis dentro no seu interior.

Ser feliz é ter coragem de ouvir um Não e continuar a caminhada sem desanimar e desesperar. É ser capaz de recomeçar de novo quando se errou o caminho. É acreditar que a vida é mais bela do que a suas dores, desafios, incompreensões e crises.Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se fazer autor da própria história. Ser feliz é ter maturidade para saber dizer “eu errei”; “eu não sei”; “eu preciso de você”…

Ser feliz é ter os pés na terra e a cabeça nas estrelas; ser capaz de sonhar, sem medo dos sonhos, mas saber transformar os sonhos em metas.Ser feliz é ser determinado e nunca abrir mão de construir seu destino e arquitetar sua vida; não ter medo de mudanças e saber tirar proveito delas. Saber tornar o trabalho objeto de prazer e realização pessoal.

Ser feliz é estar sempre pronto a aprender e se orgulhar de absorver o novo. Ter coragem para abrir caminhos, enfrentar desafios, criar soluções, correr riscos calculados. Sem medo de errar.Ser feliz é saber construir equipes e se integrar nelas. Não tomar para si o poder, mas saber compartilhá-lo. Saber estimular e fortalecer os outros, sem receio que lhe façam sombra. É saber criar em torno de si um ambiente de fé e de entusiasmo.

Ser feliz é não se empolgar com seu próprio brilho, mas com o brilho do resultado alcançado em conjunto. É ter a percepção do todo sem perder a riqueza dos detalhes. Ser feliz é não se esquecer de agradecer o Sol, desfrutar gratuitamente dos encantos da natureza, do canto dos pássaros, do murmúrio do mar, do brilho das estrelas, do aroma das flores, do sorriso das crianças.

Ser feliz é cultivar muitas amizades; é estar pronto para ser ofendido sem ofender, sem julgar e condenar. Ser feliz é não ter inveja e saber se contentar com o que se tem; é saber aproveitar o tempo que passa; é não sofrer por antecipação o que ainda não aconteceu; é saber valorizar acima de tudo a vida.Ser feliz é falar menos do que se pensa; é cultivar uma voz baixa. É nunca deixar passar uma oportunidade sem fazer o bem a alguém.

Ser feliz é saber chorar com os que choram, sorrir com os que sorriem, rezar com os que rezam. Ser feliz é saber discordar sem se ofender e brigar; é recusar-se a falar das faltas dos outros; é não murmurar.Ser feliz é saber respeitar os sentimentos dos outros; não magoar ninguém com gracejos e críticas ácidas.

Ser feliz é não precisar ficar se justificando; pois os amigos não precisam de explicações e os inimigos não acreditam nelas.

Ser feliz é nunca se revoltar com a vida; é agir como a árvore que permanece calada mesmo observando com tristeza que o cabo do machado que a corta é feito de sua madeira.

Ser feliz é ser como a raiz da árvore que passa a vida toda escondida para poder sustenta-la. Ser feliz é não deixar que a tristeza apague o seu sorriso; é não permitir que o rancor elimine o perdão; que as decepções eliminem a confiança; que o fracasso vença o desejo da vitória; que os erros vençam os acertos; que a ingratidão te faça parar de ajudar; que a velhice elimine em você o animo da juventude; que a mentira sufoque a verdade.

Ser feliz é ter força para ser firme, mas ter coragem para ser gentil; é ter coragem para ter dúvida. Ser feliz é ter o universo como caminho; o amor como lei; a paz como abrigo; a experiência como escola; a dificuldade como estímulo; o trabalho como benção; o equilíbrio como atitude; a dor como advertência; a perfeição como meta. Ser feliz é amar a Deus e ao próximo.

Prof. Felipe Aquino - Do livro: PARA SER FELIZ

Prof. Felipe Aquino

Só acredito naquilo que posso tocar. Não acredito, por exemplo, em Luiza Brunet.

Luis Fernando Veríssimo

Sob a lua
a sombra que se alonga
é uma só.

Jorge Luis Borges

Sob o alpendre
o espelho copia
somente a lua.

Jorge Luis Borges

Somente os tolos nunca mudam suas mentes.

Jorge Luis Borges

Somos ainda uma economia muito vulnerável. Temos ainda problemas sérios. Por isso, não podemos brincar nessa parte, para que a gente não tenha um retrocesso.

Luis Inácio Lula da Silva

Somos diferentes, tu e eu.
Tens forma e graça
e a sabedoria de só saber crescer até dar pé.
Eu não sei onde quero chegar
e só sirvo para uma coisa que não sei qual é!
És de outra pipa
e eu de um cripto.
Tu, lipa
Eu, calipto.
Gostas de um som tempestade
roque lenha muito heavy
Prefiro o barroco italiano
e dos alemães o mais leve.
És vidrada no Lobo
eu sou mais albônico.
Tu, fão.
Eu, fônico.
És suculenta e selvagem
como uma fruta do trópico
Eu já sequei e me resignei
como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu, piniquim.
Eu, ropeu.
Gostas daquelas festas
que começam mal e terminam pior.
Gosto de graves rituais
em que sou pertinente
e, ao mesmo tempo, o prior.
Tu és um corpo e eu um vulto,
és uma miss, eu um místico.
Tu, multo.
Eu, carístico.
És colorida,
um pouco aérea,
e só pensas em ti.
Sou meio cinzento,
algo rasteiro,
e só penso em Pi.
Somos cada um de um pano
uma sã e o outro insano.
Tu, cano.
Eu, clidiano.
Dizes na cara
o que te vem a cabeça
com coragem e ânimo.
Hesito entre duas palavras,
escolho uma terceira
e no fim digo o sinônimo.
Tu não temes o engano
enquanto eu cismo.
Tu, tano.
Eu, femismo

Luis Fernando Verissimo


Contato Politica de Privacidade Datas Comemorativas Parceiros Facebook Twitter