O mesmo em muda - 55
Adroaldo Bauer
Sou o mesmo em muda perene
O velho a cada novo momento
A existência inconformada
A constância transformada
Amor da esperança alimento
Sou igual ao que se renova
Fatal como o devir comprova
O passado refletido adiante
O presente em vir a ser constante
A terna mutação em vida
Não ambicionem nexo à frente
Que loucos rompemos cadeias
Sem que nos encantem sereias
Espectros inflamando mudanças
A semeadura em florada não tarda
Ah! Maniqueísta! Superficial!
Quem explora, discrimina, exclui...
Amolga os de baixo
mefistofélica miríade multifacética
Não é só o mal. É todo o mal.
Exploração: pecado do capital
Inconfundível, incontornável:
Monopólica escarnecente colheita
A melindrosa carne em putrefação
...
A terra regada assim por amor
Nos dará saudáveis frutos, afinal.
Sempre te amarei... Sempre vais me amar.
Adroaldo Bauer
[Sonhei com um novo amor]
Reabri meu coração
Dei flores, fiz canção.
Entreguei-te a minha alma
Foi com ela minha calma
[Sou de novo só um louco!]
Esse amor chegou depois
De nossas vidas a dois
Estarem comprometidas
Não me negaste carinho
Só me pedistes baixinho
- entenda meu coração... foi preso pela razão.
Nem sequer ainda nos vimos
E do amor nos despedimos
Já assim sem emoção... amor
Não és mais livre querida
É pecado e proibido
É um outro amor banido
Vou sofrer e tu também
Não posso voltar atrás
Não se vive uma vez mais
Renascer não é possível
Mas queria um'outra vida
Uma chance ao nosso amor
Sempre vais me amar... Sempre te amarei
Sempre te amarei... Sempre vais me amar
"que amigo teu eu seria..."
Adroaldo Bauer
Ela me sorri,
meu sorriso não retorna
há de ser de mim o que
que não mais a percebo
nem se se refira ela a mim
Definiu-se-me como a dor
Estou vivo, o coração dói
Eu a amo e é isso só
que nada importa.
Faz penar
Diz que se refere a mim.
Indiferença seria ainda pior.
Muito, muita vez mais.
Nem trocamos apenas olhares
e já somos os mais fiéis amigos.
E por que, então, sinto dor
pela amizade da mulher que amo?
Remédio para frio na alma.
Adroaldo Bauer
Pra um tanto frio assim na alma, cobertor algum adianta.
Importa mais se o esqueça. Não aquenta.
Melhor se invente novo amor já, calor assegurado, mais perfeito,
Conforto do coração, sanidade da cabeça.
Melhor remédio inexiste, nem se fica mais um tempo triste.
Amar é um estado quase de graça.
Desamor que aconteça, o remédio é novo amor.
Não é mero placebo. É fato provado, abismado percebo.
20. 07.2008
Ainda semi-aberta
Adroaldo Bauer
sai-me da alma
em fluxo, reta
no teu encalço
toda energia
que tua aura
em mim desata
Deste lado do umbral, ainda...
Adroaldo Bauer
Estas cores fortes as vi à frente,
um infindo horizonte ao norte
mas voava, não sentia os pés
nem tapetes haviam
que eram nuvens de escuro azul,
de azuis-claros de azuis pastéis, de cruéis azuis
pedi um beijo à amada, já bêbado em anestésico
para atravessar em paz o umbral sem dores
negou-me, astuta solerte, até risonha
repeti que seria assim feliz demais
ela sorriu inda mais, disse-me para ficar
feliz junto a ela e tudo eram rosas já
E mais e mais amores, quiçá
Adroaldo Bauer Corrêa
No décimo-segundo dia após.
Mil beijos
Adroaldo Bauer
Afogado em beijos
A mil o coração
O rosto afogueado
Leio, desejo vê-la.
Quiçá, amá-la.
Êpa! Alto lá!
É que já a amo
apenas por tê-la assim.
Mil beijos, onde os queira sentir.
E não aceito que a nada te obrigues
Por ti, não morri
Adroaldo Bauer
Escarlate, ouro e rubi
o riso aberto um tesouro
Meu coração inda estropiado
Te ergue uma taça rubra
em honra, glórias e elegias
a teus poemas, à tua poesia
És tu por quem revivi
Embriagado
Adroaldo Bauer
O teu cabelo liso lindo assim preso erguido
a nuca exposta, nua, alva e bela, deixa-me
a pensar que bom seria beijá-la com vagar.
Isso não é alucinação, nada mais possível que tal.
Se o prendes, assim fatal, alvejado fico,
e não há mal falar de bem.
Nem lugar outro melhor que esse mundo há,
para dizer assim te amo mais, tanto me atrais
Estou a pensar se teu perfume é sempre em ti,
como ficou em mim desde o beijo que te dei.
Terna és e embriagado fico eternamente.
Já aflito, não vejo hora de voltar a tê-la,
mesmo como àquela vez sonhada o seja,
que casual encontro torna em turbilhão.
Imensa e interminável é essa minha paixão!
A paixão no poema
Adroaldo Bauer
O poema faz o que o poeta não consegue
Da amada por quem ama sopra no ouvido
a poesia lembrado, esquecido, ido, sumido,
Dá o coração, a alma, o amor, a dor, a flor.
Não foi em vão
Adroaldo Bauer
As horas não mais passaram
O fogo intenso fruído derreteu o tempo
soprou cálido nossa paixão ao vento
que flechas voando trespassaram
o coração já varado da luz do momento
A vida não precisa mais sentido
era toda prenchida de ti
Eu me sonhava contigo dormindo
Eu acordava os meus sentidos
sabendo a perfumes teus
Dobraram-se os espaços e juntos
estamos desde aquela hora, única
uma hora sonhada, vivida de amor
à terra retornaram dos céus as águas
ao mar alto nossos fluídos lançados
De amar vivo estou, meu amor é contigo
já agora, desde aquele momento
nenhuma figura mais se eleva que tu
a imaginação me enleva e sublima
não há dor, temor, pena ou castigo
Crê! São as flores de abril que virão
É outono a luzir pós-verão
Um inverno feliz nos faz pressentir
as primeiras primaveras de amores
virão. Não mais terá sido em vão.
A estrela se revela
Adroaldo Bauer
É à noite que se revelam as estrelas outras
E não há nelas qualquer réstia de pecado
Uma invenção de pouco brilho de quem
Nos quis impor um único trilho
Se teus sentidos se deixam invadir
É porque sentes e consentes que o vôo
seja possível e transbordante de gozo
antevisto, pressuposto, adivinhado
pois já sentimos, ambos, o perfume teu
ele em mim por doces beijos aqui chegados
Sentistes os meus, que te enviei por um caminho de luz
Ou terei eu, por paixão, equivocado, perdido
O senso, vendo e ouvindo estrelas atordoado
Adroaldo Bauer:
Adroaldo Bauer
Os sons dos teus silêncios
Hei de ferir os nossos vários silêncios
Ainda que enclausurada estejas
A friagem do tempo te atormente
e fragileze a tua sofrida alma
Não estarás só, querida, amada
Velo por ti, onde eu esteja, onde estejas
Envio-te ondas efusivas de luz
Para um inverno breve tornado flores
As mais rubras rosas andaluzes
a florescer no verde dos teus olhos
não mais segredos, posto que me amas
Sendo fibra e ternura os sentimentos
de teus desejos, textura de amores
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Adroaldo Bauer
Tu, sim!
Agora estás mais em mim
A cada minuto mais inteira
Encantas, douras os tempos
Inigualável, sendo apenas tu
Que me desafia a cada passo
Inteira e íntegra, eu dizia
Dos melhores sentimentos em mim
Que era cacos e revivi
Sendo inspiração és tudo então
Porque o espaço se dobra
relativizando o tempo
é perene então meu encantamento
Primeira és, porque única
que não encontro jamais o futuro
E o passado dissipaste em mim
Sem dor qualquer, linda mulher
Que ilumina vívida e meiga
Sopro que és, dádiva à vida
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In Vino
Acordei com um gosto bom
do vinho, da tua boca em mim
ou era teu batom carmin
da cor igual, adivinho.
Lembrei que não esqueço de ti...