Amizade procedida de comer, beber, e passear juntos, não merece nome de tal, nem pode ter firmeza.
Pd. Manuel Bernardes
Andorinha, andorinha lá fora esta cantando:
Manuel Bandeira
-Passei o dia a-toa, a-toa.
Andorinha minha canção é mais triste:
-Passei a vida a-toa, a-toa.´´
Aprendo constantemente que a vida não é como eu quero que seja... que ela é regida por sentimentos,gostos,desgostos,amores fortes,paixões intensas e rancores. Não é só isso não.Deve haver outros poréns pra algumas pessoas serem tão tristes. Não é só como diz a bela música : É a vida,é bonita e é bonita ' .
Clarissa Guerra de Medeiros
Arte de Amar
Manuel Bandeira
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Assim como o amor de Deus é raiz de todas as virtudes, assim o amor-próprio é a de todos os vícios.
Pd. Manuel Bernardes
BEIJO ESCARLATE
Gerson Guerra
Posso ser
A navalha da traição
A gilete do sadismo
Ou punhal no coração
Pode ser
Um medo cortante
Com sangue corante
De paixão constante
Deixe soar
Aquele verso em desejo
Na ginga do berimbau
Todo sonho num beijo
Etc e tal!
Amor…sentimento que me levas à mais profunda das loucuras. Onde andas tu? Procuro por ti desesperadamente, como se só em ti pudesse encontrar refúgio e segurança. Anseio por teu colo, teu carinho. Nos teus mimos encontrarei, certamente, porto seguro, onde todos os males deste mundo não me alcancem nem perturbem. Poço de esquecimento de angústias e melancolias, teu rosto permanece ainda encoberto por densos nevoeiros. Se alguma vez alcançar a felicidade, decerto será embebido pela tua existência. Até lá, continuo vagueando por caminhos incertos e dúbios, buscando nas incertezas e armadilhas da vida sinais ténues da tua existência. Não encontrei, porém, nada ou ninguém que me pudesse indicar a tua morada ou poiso. Tal não me espanta. Como nómada que és, certamente vagueias de coração em coração, ora destroçando, ora enchendo de calor e curando velhas feridas. Companheiro da Paixão e da Angústia, do Consolo e da Desilusão, teus caminhos são incertos. Espero um dia que o meu caminho se cruze com o teu, algures numa encruzilhada do viver. Até lá…espero.
Manuel Lopes
Belo Belo
MANUEL BANDEIRA
"Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas estrelas cadentes.
A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.
O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.
As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.
Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.
— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples."
boda espiritual
Manuel Bandeira
Tu não estas comigo em momentos escassos:
No pensamento meu, amor, tu vives nua
- Toda nua, pudica e bela, nos meus braços.
O teu ombro no meu, ávido, se insinua.
Pende a tua cabeça. Eu amacio-a... Afago-a...
Ah, como a minha mão treme... Como ela é tua...
Põe no teu rosto o gozo uma expressão de mágoa.
O teu corpo crispado alucina. De escorço
O vejo estremecer como uma sombra n'água.
Gemes quase a chorar. Suplicas com esforço.
E para amortecer teu ardente desejo
Estendo longamente a mão pelo teu dorso...
Tua boca sem voz implora em um arquejo.
Eu te estreito cada vez mais, e espio absorto
A maravilha astral dessa nudez sem pejo...
E te amo como se ama um passarinho morto.
Café com pão
Manuel bandeira.
Café com pão
Café com pão
Virge maria que foi isso maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu presciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô...
Vou mimbora
Vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
Caridade é perdoar, não transigir.
Manuel Tamayo y Baus
Certas coisas quando a gente descobre na hora errada causa muito impacto.
Clarissa Guerra de Medeiros
Coisa Amar
Manuel Alegre
Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.
Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.
Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi
desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.
Corte seus defeitos como se fosse galhos de árvores,não os corte de uma só vez .
Clarissa Guerra de Medeiros
Desencanto
manuel bandeira
Eu faço versos como quem chora
De desalento. . . de desencanto. . .
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
– Eu faço versos como quem morre.
Deus sem você é simplesmente Deus...E você sem Deus?
Clarissa Guerra de Medeiros
Duas mãos,duas pernas,dois olhos,uma cabeça e um mundo pra consertar.
Clarissa Guerra de Medeiros
E eu cansei dessa viagem, tchau.
Clarissa Guerra de Medeiros
E se parasse um pouco não perderia nada,e ajudaria a cabeça sempre alienada.
Clarissa Guerra de Medeiros
É sempre no meio, no epicentro de nossos problemas que encontramos a serenidade.
Antoine de Saint-Exupéry - Escritos de Guerra
E, O SER COMUNISTA TERMINA NO INICIO DA SUA RESPONSABILIDADE «INDIVIDUAL».
JOAO MANUEL FELIX BATISTA LOPES PEREIRA
Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Manuel Bandeira
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
-Eu soubesse repor_
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!
Eis o homem sentado à mesa
Manuel Alegre
Diante da folha branca.
Um longo, longo caminho,
Da vida para a palavra.
Decantação, purificação
Para chegar ao pássaro.
O homem que está à mesa
Atravessou muitos desertos
Virou do avesso a certeza
Naufragou nos mares do sul.
Entre ditongo e ditongo
Para chegar ao pássaro
Tu próprio terás de ser
Cada vez mais substantivo.
Irás de sílaba em sílaba
Ferido por sete espadas
Diante da folha branca
Serás fome e serás sede
Como o homem que está à mesa,
O homem tão despojado
Que a si mesmo se transforma
No pássaro que busca a forma.
Este é tempo do homem
perdido na multidão
Como ser desintegrado
Na folha branca da cidade.
Tempo do homem sentado
À mesa da solidão.
Há palavras como asas,
outras mais como raízes
O pássaro voa por dentro
Do homem sentado à mesa.
Vai de fonema em fonema
Sobre as cordas dos sentidos.
Se vires o homem que passa
Como se fosse no ar
Já sabes: é o homem que está
Diante da folha branca.
Às vezes levanta vôo
Para outro espaço, outro azul
E deixa dentro das sílabas
Um rastro como de sul.
Quando recordas,
Quando a tristeza
toca demais as cordas do coração
Quando um ritmo começa
Dentro das palavras,
Um sapateado inconfundível
(Malagueña, malagueña!)
E a folha branca é uma Espanha
Para cantar, para dançar
Para morrer entre sol e sombra
Às cinco em sangue...
Então verás chegar
O homem sentado à mesa
Às cinco en sombra de la tarde
Malagueña, Malagueña!
Diante da folha branca
Como por terras de Espanha.
Nos descampados deste tempo
Nos aeroportos auto-estradas
Nos anúncios sob as pontes
Talvez no marco geodésico
No fumo do lixo ardendo
No cheiro do alcatrão
Nos dejectos de lata e plástico
Nos jornais amarrotados
Nas barracas sobre a encosta
Na estrutura de betão
Sobre o gasóleo e a tristeza
Sobre a grande poluição
Onde nem folha ou erva cresce
Seco, duro, estéril tempo
Diante da folha branca
Da solidão suburbana
Onde a multidão se perde
Entre tristeza e tristeza
Às vezes um coração:
Talvez um pássaro verde
Ou talvez só a canção
Do homem sentado à mesa
O homem que está à mesa
Tem qualquer coisa que escapa
Qualquer coisa que o faz ser
Ausente quando presente
Às vezes como de mar
Às vezes como de sul
Um certo modo de olhar
Como atravessando as coisas
Um certo jeito de quem
Está sempre para partir.
O homem sentado à mesa
Não está sentado: caminha
Navega por sobre os mares
Ou por dentro de si mesmo.
Vem de longe para longe
Do passado para agora
De agora para amanhã
Está no avesso da hora!
Solta o pássaro, não pára,
Tem outro espaço, outro azul
Às vezes como de mar
Às vezes como de azul
E não se tem a certeza se está do lado de cá
Ou se está do outro lado, deste lado onde não está.
Mesmo se sentado à mesa
Não é possível detê-lo
O homem que tem um pássaro
É sempre um homem que passa.
Tem qualquer coisa que nem se sabe
O quê nem de quem
É talvez um mais além
Algo que sobe e que voa
Entre o Aqui e o Ali
Algo que não se perdoa
Ao homem quando ele tem
Um pássaro dentro de si...
Há um tocador a tocar
As harpas de cada sílaba
Diante da folha branca
Tudo é guitarra e surpresa.
Escutai o pássaro e o canto
Do homem sentado à mesa!
Eu sempre falei: Por homem eu não choro!E muito menos por amor! (...)
Clarissa Guerra de Medeiros
... E tantas foram às vezes que eu chorei por eles.
Eu só erro por te querer sempre ao meu lado.
Clarissa Guerra de Medeiros