Na infância, os olhos límpidos
Valter da Rosa Borges
vêem o mundo claramente
sem a catarata do tempo.
A fé no visto e no sonho.
A vida maior que a morte.
O corpo livre do peso
do vivido e não vivido,
do perdido e do não gasto.
Na velhice, os olhos turvos,
a opacidade do mundo,
a fé no que não se vê,
a morte maior que a vida,
recordações (e não sonhos),
algumas já desbotadas
ou outras reinventadas,
e as sensações prazerosas,
que o corpo já esqueceu.
na parede, a sombra
Rosa Clement
do tigre andando na sala ?
no chão mia o gato
Na própria precisão com que outras passagens lembradas se oferecem, de entre impressões confusas, talvez se agite a maligna astúcia da porção escura de nós mesmos, que tenta incompreensivelmente enganar-nos, ou, pelo menos, retardar que prescrutemos qualquer verdade.
João Guimarães Rosa
Nenhum,nenhuma
Na pulsação do universo
Valter da Rosa Borges
somos seres pensantes
entre os seres que pulsam
nas suas formas instáveis.
O que pensam os outros seres,
que pulsam no universo?
Nada existe maior do que o agora.
Valter da Rosa Borges
Nada há que segurar.
Valter da Rosa Borges
O vazio é que sustenta
mundos,
seres
e coisas.
Não chore as flores que murcharam:
Valter da Rosa Borges
elas já cumpriram seu papel.
Reverencie as flores que florescem,
porque, na sua essência,
elas são as mesmas flores
que morreram.
Não existe amor impossível, o que existe são pessoas incapazes de lutar por aquilo que chamam de AMOR!
Viiviane Rosa Figueiredo
Não existe sedativo
Valter da Rosa Borges
para uma dor cultivada
que não morreu quando devia.
Não façamos da máquina
Valter da Rosa Borges
o sucedâneo do humano
ou seu mutante metálico.
Falta-lhe o senso do acaso,
do lúdico e do absurdo,
a convivência do equívoco.
O homem é o imprevisível,
o orgasmo do paradoxo,
e a aversão às repetências,
que é a essência do mecânico.
A máquina é a ordem sólida
oposta à fluidez do orgânico.
Não foi fogo da fogueira ...
Viiviane Rosa Figueiredo
Não foi fogo do fogão ...
Foi o fogo dos seus beijos
que queimou meu...
CORAÇÃO!!!
Não há busca para algo definitivo. Só a busca é definitiva.
Valter da Rosa Borges
Não há explicação para a alegria,
Valter da Rosa Borges
nem nos interessa explicá-la.
Porém, a doença, o sofrimento,
a velhice e a morte inevitável
nos fazem pensar que a vida
tem alguma explicação.
Não há milagre maior
Carlos M. Rosa
do que um ser humano à procura de si mesmo.
Não me dói o que perdi,
Valter da Rosa Borges
pois tive o prazer de ter.
Dói-me tudo o que não tive
e o quanto não pude ser.
Não quero minha vida igual a tudo que se vê
Rosa de Saron
Não se compartilha a solidão. A solidão é indivisível.
Valter da Rosa Borges
Não somos influenciados apenas pelas nossas ações, mas também pelos nossos sonhos.
Valter da Rosa Borges
O homem é um compósito de fatos e sonhos.
Não somos mais aqueles cujo amor
Valter da Rosa Borges
imaginou a juventude eterna.
Hoje, idosos, os corpos sem calor...
O fogo da paixão agora hiberna.
Somente o amor, essa visão interna
consegue ainda ver todo o esplendor
da convivência cada vez mais terna
em saudades diárias a compor
e recompor, história por história,
as imagens dos dias consumidos
a fim de preservar mútua memória.
Mesmo que restem fatos esquecidos,
no turbilhão da vida transitória,
jamais se perderão, porque vividos.
Não temos apenas fome:
Valter da Rosa Borges
somos um ser de múltiplas fomes.
Não vejo as tuas pegadas
Valter da Rosa Borges
nem escuto os teus passos,
pois és feito de silêncio
e de invisibilidade.
O real não é a medida
da nossa percepção.
Eu creio no que não vejo,
no que não ouço, nem toco.
Os sentidos me apequenam
e a razão me aprisiona,
o corpo me faz mortal.
Tempo e espaço são o cárcere
do prisioneiro ilusório.
Quem crê em suas paredes,
não pode ver o infinito.
Nascemos de uma explosão:
Valter da Rosa Borges
átomo ou ovo primordial
a miniatura do nada.
Espaço, tempo, matéria
e o infinito num ponto.
Onde é que Deus estava
nesta singularidade?
Nascer é uma aquisição
Valter da Rosa Borges
em meio à luta feroz
de milhões de seres possíveis.
Morrer é uma perda solitária
Nascidos do orgasmo
Valter da Rosa Borges
de um só ou de dois,
não sabemos o antes
e nem o depois.
No tempo intermédio
vivemos sonâmbulos
(ou somos funâmbulos?).
No mundo sem rumo,
na vida sem prumo,
vagando sem bússola,
destino é viagem
sem fim nem começo.
O tempo se esgota,
o corpo se acaba
e se algo prossegue
por onde ele vaga?
Nem o ácido do tempo dissolve a dura saudade em que o amor se tornou.
Valter da Rosa Borges